PARA REFLEXÕES NATALINAS

 

Danilo Sili Borges

Considero esta época das festas natalinas a mais simpática do calendário, na qual os corações e os cérebros devem se elevar para refletir sobre os problemas das mais diversas naturezas que nos afetam, quer individualmente, quer como sociedade, nas suas diversas escalas. Dessas reflexões surgem os encaminhamentos para as soluções, tudo ao seu tempo.

Toda a nação está na expectativa dos nomes a serem escolhidos para os ministérios do governo a se iniciar no dia 1º de janeiro, pois a partir deles se poderá vislumbrar as políticas governamentais que serão adotadas. As escolhas habitualmente recaem nos nomes daqueles que reúnem as condições técnicas, políticas, pessoais e legais para assumi-los. Os quase 40 ministérios projetados para o novo período parecem, vistos de hoje, insuficientes para contemplar tantos dos acordos feitos durante a campanha eleitoral.

Segundo minha percepção, uma análise dos votos que levaram Lula à vitória por pequena vantagem, mostram-me que o VOTO CONTRA Bolsonaro foi parcela decisiva dos 60 milhões obtidos. Do mesmo modo que a grande votação obtida por Jair Bolsonaro não advém de sua campanha esclarecedora dos objetivos que seriam alcançados num novo mandato, nem dos feitos de sua gestão, mas deveu-se antes aos VOTOS CONTRA Lula e contra o PT, como já havia ocorrido em 2018, quando Haddad, o concorrente, era uma imagem holográfica distorcida do chefe que estava preso.

O que quero ressaltar nesta parte introdutória do artigo, é que nós brasileiros, temos elegido os presidentes da República não por suas qualidades intrínsecas – liderança, preparo político, inteligência, probidade –, mas por estarmos contra, visceralmente contra o candidato oposto, levados pela polarização a que o radicalismo ideológico nos têm conduzido.

Minha posição pessoal tem sido a de apoiar o rompimento da polarização que só favorece as franjas mais radicais dos espectros ideológicos, que apesar de numericamente inexpressivas tornam-se exigentes na hora da montagem das equipes de governo e, por consequência, da definição das políticas públicas.

Isso é o que se está observando no momento. A eleição de Lula só se viabilizou pelo seu movimento em direção ao conservadorismo durante a campanha, tanto na escolha de Alckmin como dos acordos e compromissos com líderes dos setores produtivos e financeiros, tolerados silenciosamente pela ala dos seus mais radicais seguidores, entendendo ser esse o único caminho para chegar ao poder. Não tinham como contraditar o velho e poderoso líder. Engoliram em seco!

Infelizmente, a vitória de um grupo qualquer em nossas eleições, assemelha-se com o que ocorria na época da pirataria, quando da tomada de uma vila pelos ratos-do-mar. Finda a luta, reuniam-se os que colaboraram com a campanha para a divisão do butim. Sobre a vila esfacelada e esfalfada nada era pensado naquela hora!

O problema maior gerado pelo eleitor do VOTO CONTRA é que ele não tem compromisso e não admira a quem elegeu. Ele apenas votou contra o outro e sua missão terminou ali. Ele não tem afinidades com as pessoas ou programas aos quais avalizou.

Os estrategistas do governo entrante, os da citada franja radical, devem refletir (e esta é a razão desta matéria) para não causarem grandes danos, no açodamento que lhes é próprio, na tentativa de implantar procedimentos socioeconômicos que nos são estranhos, entendendo que o brasileiro cultiva princípios ancestrais que toda a intensa catequese de esquerda não conseguiu abalar. Vamos a algumas características dos nossos patrícios que permanecem indestrutíveis, ao longo dos anos e talvez de séculos.

O brasileiro é religioso, místico, acredita em Deus. Por termos a nossa origem na escravidão, apreciamos as liberdades: a de expressão, a de imprensa, a dos modernos meios de comunicação digital, que apesar dos abusos, que em todos eles se verificam, é melhor que o controle governamental, sob qualquer rótulo. Não nos adaptamos ao coletivismo, acreditamos na iniciativa privada e no direito à propriedade e na herança familiar.

Não gostamos da empáfia dos poderosos, daí o sucesso tanto de Lula quanto de Bolsonaro que sempre se portaram, cada um do seu jeito, de gente como a gente, tão diferentes, por exemplo, de Collor, Fernando Henrique e Dilma.

Se eu fosse capaz de ler o desejo secreto dos meus patrícios, de todos os brasileiros não detentores de cargos políticos ou sinecuras, daqueles que têm que trabalhar para dar sustento à família e dos que estão ansiosos para saber o que será do seu amanhã, se eu pudesse ouvir seus desejos mais secretos, tenho certeza, que neste Natal o presente que pediriam seria uma grande carreta cheia de colunas dorsais novas, empertigadas, masculinas e femininas,  que não se dobrassem à corrupção, ao carreirismo político, às decisões que prejudicam os interesses do  povo.

A carreta das colunas inflexíveis deveria deixar sua preciosa carga na Praça dos Três Poderes.

A cirurgia de transplante é sem sangue, feita após um autoexame de consciência. A dor é apenas moral!

Crônicas da Madrugada. Brasília, dezembro de 2022

Danilo Sili Borges

Membro da Academia Rotaria de Letras do DF. ABROL BRASÍLIA

Diretor de Ciências do Clube de Engenharia de Brasília


Comentários

  1. Estamos diante de uma sinecura política - este batalhão de ministérios só servirá para consumir impostos gerados na iniciativa privada, daí a queda nas bolsas e alta do dólar. Eleição somente nos apresentou opções Péssimas - ladrão de um lado e despreparado inconsequente de outro. Que Deus nos proteja. Ronaldo Carneiro

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