O PAPA E O TAPA
Por Danilo Sili Borges
Eu não vou discordar de você,
caro leitor, este mundo está mesmo um lugar cada vez mais perigoso. Mas se o
olharmos com olhos de rir, há motivos para boas gargalhadas: O presidente da
maior potência bélica do planeta mata o guerreiro principal de seu inimigo da
vez, mas garante que seu desejo é de paz. Este jura revidar, custe o que custar.
Prepara seus mísseis e avisa: “Retire seus meninos dos quartéis, não quero
machucar ninguém, nem vou estragar muito suas propriedades, não se preocupe, também
sou de paz. Boa eleição pra você, Trump. Por aqui as coisas também ficaram
melhores”.
Ainda falando do inusitado, há
poucos dias o Papa Francisco perdeu sua santíssima paciência e deu um tapa na
mão de uma fiel que, de tão entusiasmada com sua proximidade, quis retê-lo.
Para livrar-se do assédio, visivelmente irritado, o vetusto religioso partiu
para a violência, cuja imagem instantaneamente percorreu o mundo, acompanhada
dos mais diversos comentários, todos no sentido de estranhar como alguém que
priva da intimidade dos céus, dos anjos e arcanjos, pode apelar para o uso da
força, ainda que fraca, inconsequente, instantânea. Em sua primeira aparição
pública, a simpática autoridade eclesiástica desculpou-se pelo episódio. Que
pecou, pecou! Deve, portanto, ir a um confessionário para expiar sua culpa,
(como aprendi nas aulas de catecismo), receber uma pena, normalmente uma dose
de orações passadas pelo confessor. A pergunta é: a liturgia é democrática e
vale também para o chefe?
Por aqui, nas redes sociais, logo
comentaram: se fosse o Bolsonaro a imprensa o teria chamado de misógino. Mesmo
sendo religioso, o presidente não teria o perdão da mídia. Os adeptos do
presidente também não aliviam críticas para os meios de comunicação.
Exageros à parte, o episódio
romano merece considerações: A maneira de viver simples e despojada do padre Bergoglio,
hoje Papa Francisco, o aproximou das massas, dos féis e de todos e o tornou mais
humano, como nós. Seus antecessores resguardavam-se atrás da pompa vaticana,
com a qual Francisco rompeu. De repente, todos, vimos: O PAPA É GENTE!
Gente tem preocupações de todas
as ordens, as mais variadas, cada qual de acordo com suas responsabilidades. O
Papa está preocupado com o mundo, com as guerras, com a incompreensão dos
povos, com o sectarismo das religiões, inclusive de segmentos da sua própria. Sobraram-lhe
questões de décadas de abuso sexual nas dependências da Igreja que lidera,
ocultadas pelo medo do enfrentamento com a verdade. Há também os problemas de
saúde que chegam com a idade, mesmo para um bem nutrido ítalo-argentino, mas
que tem articulações e músculos de octogenário. Artrites, artroses, coluna,
panturrilha, colesterol, desconhecem prerrogativas celestes... E isso tudo
irrita.
Jesus, com sua dupla natureza, a
humana e a divina, ainda jovem também se deixou tomar pela ira e chicoteou os
fariseus, vendilhões do templo, dali os expulsando. Portanto, todos, os que
trazemos em nós a natureza material, cósmica, que nos foi legada pelo Big Bang,
perecível, mas reciclável, vivemos as pressões da vida, certamente em questões
menos universais que a do piedoso e simpático herdeiro de Pedro.
As nossas são de como esticar a
aposentadoria, de como lidar com a inflação de 4% ao ano, do bem falante ministro
Guedes, que se esqueceu de avisar ao supermercado e ao plano de saúde dessa
taxa. Quando nos irritamos, mesmo cheios de razão, nada sai na imprensa, somos
apenas um velho mal humorado! O amor e a convivência de tantos anos não permitem
um tapinha na mão da feliz consorte, nem uma palavra dura com a amável
sogrinha. Civilidade é tudo e se não for...... Maria da Penha mora lá em casa.
A natureza, por vezes, se impõe.
A cultura, a educação, as religiões, a milenar prática civilizatória,
procuraram condicionar as reações humanas, mas existem momentos em que até
mesmo um fato simples dispara a centelha do instinto primitivo, incontido, até
mesmo no mais pacífico dos seres.
Meu medo é o botão vermelho na
mesa de homens como Trump, Nataniharhu, Putin ou qualquer aiatolá. Mas enquanto
suas guerras forem combinadas, tudo bem.
Francisco, reze por nós!
Crônicas da Madrugada. Danilo Sili Borges. Brasília –
Jan.2020
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