O LINGUÔMETRO
Por Danilo Sili Borges
– Tchutchuca é a mãe, é a vó.
–
“Parasita” é a mãe, é a vó!
– Não,
Parasita é o Oscar, o melhor filme do ano.
– Os funcionários públicos ganharam o Oscar?
–
Parem! Desculpem. Está tudo fora do contexto. Eu não disse isso. Sim,
disse, mas não disse. O contexto era outro.
–
Sempre o contexto. O Chefe já avisou que não fala mais pela manhã.
Publicam sempre suas declarações fora do contexto. Para comemorar ele distribuiu
bananas para os presentes.
–
Uma start up do Vale do Silício desenvolveu, a pedido do Trump, aparelho
que o político pode usar no bolso e que quando o portador exagera nas besteiras
que está falando ele dá um pequeno choque de advertência na ponta da língua do
portador. O choque vai aumentando se o cara continua a falar merda. É o tongueshitmeter.
–
Por aqui, ia ter muita gente morrendo eletrocutada por via oral.
–
Não tenha preocupações, logo inventarão um enxaguante bucal com um
aditivo elétrico-isolante. Uma espécie de fita isolante líquida para
boquirrotos incorrigíveis.
–
Você acha que desta vez o país sai do buraco?
– Ora,
vale a pena tentar. A Reforma da Previdência foi um ganho. A Tributária está
difícil, mexer com 27 estados é rosca, veja a PEC Paralela, mais parece a PEC Divergente.
– E a
nova CPMF, passa?
– Fala
baixo, não fala assim. O Chefe pode entender. Chame de ITF. Seria uma saída meter
a mão no bolso de todo mundo. Basta respirar que é taxado várias vezes ao dia.
Mas até o povão ignorante já percebeu e está gritando. E o Chefe quer ficar
mais tempo, né? O jogo é tentar trocá-la pela desoneração da folha de
pagamentos.
– Ouvi dizer que essa desoneração é para
aumentar a oferta de empregos, é verdade?
– Papo! Esses custos as empresas repassam nos
seus produtos, além disso, não há estudos que comprovem essa conversa de mais
vagas. O que as empresas precisam é de clientes. O que se quer mesmo é a CPMF.
–
Mas trocar bananas por batatas, isto é, seis por meia dúzia, não resolve
nada.
– Você não entendeu. O jogo é trocar a
arrecadação dos tributos incidentes na folha de pagamentos pela CPMF, trocar 6
por 6000. É tirar o Coringa da manga (o Oscar outra vez).
– Você acha mesmo que a Reforma
Administrativa, ferrando os funcionários públicos, vai equilibrar as contas do
Brasil? Afinal, descobriu-se o grande culpado?
Os funcionários públicos são realmente marajás, como falou, há tanto
tempo, o Collor?
– Só quem recebe boa remuneração no Serviço
Público são os indicados por políticos, os não concursados, funções
provisórias, competências não comprovadas. Cheios de pompa e mordomias. A turma de carreira, que entrou por concurso, na
média ganha miséria, eu sei. O certo seria modernizar as rotinas
administrativas, informatizando-as, racionalizando-as, e pouco a pouco ir
adequando o quadro. A campanha na TV contra o funcionalismo, com a Globo e
tudo, vai tentar mostrar que a qualidade da saúde, da segurança, da educação,
dos transportes, de tudo que está errado é desta turma de “parasitas”. Fake
News pura, na veia.
– Mas pra que isso?
– Porque isso vai dar um blá, blá, blá sem fim
e vai haver um burro em quem colocar a canga do fracasso das medidas que parece
que não vão chegar ao esperado.
– Isso não te parece ser muita
maldade, uma baita de uma sacanagem?
– Porra! Eles querem mais o quê? Já ganharam o
Oscar, e isso é quase um Nobel da Economia!
– Só mais uma pergunta. No caso
das domésticas que foram para a Disney, o linguômetro funcionou?
Crônicas da Madrugada.
Danilo Sili Borges. Brasília – Fev. 2020
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