O LINGUÔMETRO

Por Danilo Sili Borges


 Tchutchuca é a mãe, é a vó.
   “Parasita” é a mãe, é a vó!
   Não, Parasita é o Oscar, o melhor filme do ano.
 Os funcionários públicos ganharam o Oscar?
  Parem! Desculpem. Está tudo fora do contexto. Eu não disse isso. Sim, disse, mas não disse. O contexto era outro.
  Sempre o contexto. O Chefe já avisou que não fala mais pela manhã. Publicam sempre suas declarações fora do contexto. Para comemorar ele distribuiu bananas para os presentes.
  Uma start up do Vale do Silício desenvolveu, a pedido do Trump, aparelho que o político pode usar no bolso e que quando o portador exagera nas besteiras que está falando ele dá um pequeno choque de advertência na ponta da língua do portador. O choque vai aumentando se o cara continua a falar merda. É o tongueshitmeter.
  Por aqui, ia ter muita gente morrendo eletrocutada por via oral.
  Não tenha preocupações, logo inventarão um enxaguante bucal com um aditivo elétrico-isolante. Uma espécie de fita isolante líquida para boquirrotos incorrigíveis.
  Você acha que desta vez o país sai do buraco?
   Ora, vale a pena tentar. A Reforma da Previdência foi um ganho. A Tributária está difícil, mexer com 27 estados é rosca, veja a PEC Paralela, mais parece a PEC Divergente.
   E a nova CPMF, passa?
   Fala baixo, não fala assim. O Chefe pode entender. Chame de ITF. Seria uma saída meter a mão no bolso de todo mundo. Basta respirar que é taxado várias vezes ao dia. Mas até o povão ignorante já percebeu e está gritando. E o Chefe quer ficar mais tempo, né? O jogo é tentar trocá-la pela desoneração da folha de pagamentos.
 – Ouvi dizer que essa desoneração é para aumentar a oferta de empregos, é verdade?
 – Papo! Esses custos as empresas repassam nos seus produtos, além disso, não há estudos que comprovem essa conversa de mais vagas. O que as empresas precisam é de clientes. O que se quer mesmo é a CPMF.
  Mas trocar bananas por batatas, isto é, seis por meia dúzia, não resolve nada.
 – Você não entendeu. O jogo é trocar a arrecadação dos tributos incidentes na folha de pagamentos pela CPMF, trocar 6 por 6000. É tirar o Coringa da manga (o Oscar outra vez).
– Você acha mesmo que a Reforma Administrativa, ferrando os funcionários públicos, vai equilibrar as contas do Brasil? Afinal, descobriu-se o grande culpado?  Os funcionários públicos são realmente marajás, como falou, há tanto tempo, o Collor?
 – Só quem recebe boa remuneração no Serviço Público são os indicados por políticos, os não concursados, funções provisórias, competências não comprovadas. Cheios de pompa e mordomias.  A turma de carreira, que entrou por concurso, na média ganha miséria, eu sei. O certo seria modernizar as rotinas administrativas, informatizando-as, racionalizando-as, e pouco a pouco ir adequando o quadro. A campanha na TV contra o funcionalismo, com a Globo e tudo, vai tentar mostrar que a qualidade da saúde, da segurança, da educação, dos transportes, de tudo que está errado é desta turma de “parasitas”. Fake News pura, na veia.
 – Mas pra que isso?
 – Porque isso vai dar um blá, blá, blá sem fim e vai haver um burro em quem colocar a canga do fracasso das medidas que parece que não vão chegar ao esperado.
– Isso não te parece ser muita maldade, uma baita de uma sacanagem?
 – Porra! Eles querem mais o quê? Já ganharam o Oscar, e isso é quase um Nobel da Economia!
 – Só mais uma pergunta. No caso das domésticas que foram para a Disney, o linguômetro funcionou?
Crônicas da Madrugada. Danilo Sili Borges. Brasília – Fev. 2020

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