A PAUTA ANUNCIADA
Por Danilo Sili Borges
Pra valer, pra valer mesmo, como
todo mundo sabe, o ano só começa depois do Carnaval. Assistimos, até aqui, a
preliminar. O aquecimento, com e sem bola, até deu origem a tapas e caneladas.
As pautas nacional e
internacional prometem situações de grandes preocupações e outras de
histrionismo explícito, com contribuições das eleições municipais, da disputa
presidencial americana e de ações pontuais do Vaticano.
Nos esportes, especificamente no
futebol, como brasileiros, aguardamos ansiosos “a volta por cima” do Neymar,
que há muito tempo tem protagonizado, dentro e fora dos gramados, infinitamente
menos do que esperávamos do, nosso outrora, craque prodígio. Agora, com 28 anos
completos, Neymar, ou emerge para a glória, ou vai sumir numa mediocridade
imerecida.
Os restantes 5/6 do ano, na
política, vão ser para corações fortes. Lutas MMA vão parecer brigas no
maternal. Na rinha da Praça é vale tudo, de dedo nos olhos a chute nas partes
comercializáveis do coelho da Páscoa. A “chantagem” que o General Heleno denunciou,
não sem motivo, tende a continuar e a gerar reações dentro do governo e nas
ruas. Esperemos que sem repercussões maiores na esfera militar.
As pressões que, com frequência,
o Legislativo faz sobre o Presidente da República são entendidas por aquele
como do “jogo democrático”. Por este, como meio de arrancar vantagens
político-pessoais ilícitas, que se o Executivo a elas não se submeter, será
retaliado em todas as suas iniciativas.
Qualquer análise feita num tempo
mais ou menos longo, de décadas, mostrará que os presidentes que não se
curvaram à vontade congressual, ou não a lubrificaram devidamente, não
permaneceram muito tempo no cargo. Para construir maioria parlamentar tiveram
que pagar o preço e “dançar de acordo com a música”. Hoje, a que toca é um
sambinha de baixa qualidade, arranjado com um carimbó puladinho, com o
sugestivo nome de “Dá ou Desce”, tocado por batutas tortas.
Desta vez, há um senão. Bolsonaro
afirmou em campanha que não dançaria essa música. Na pauta dos próximos dias
está em observar se o Presidente terá respaldo para quebrar a tuba. Se não
conseguir, tudo pode acontecer, ou até nada.
As ruas é que definirão o jogo. Bolsonaro
apelou por elas durante o carnaval, via Whatsapp. A reação não se fez esperar, antes
das cinzas do pecado se apagarem, Legislativo e STF vieram com tudo, este por
pronunciamento do príncipe dos togados. Na realidade, esses Poderes temem
apenas a força das ruas, pois sabem do baixo conceito que ali acumulam, justa
ou injustamente, o que não vamos aqui considerar. Estou certo que cada leitor
desta crônica tem sua opinião formada sobre o quem é quem nesta República.
O circo está montado na Praça. O
cabo de guerra está esticado.
Enquanto isso, um cara tenta
segurar o vírus COVID-19 que chegou via Itália. O vimos durante a quarta-feira
na televisão, explicando exaustivamente o que foi feito, o que será feito, o
que não deve ser feito, e como vai ser feito. Esse cara é o Ministro Mandetta da
Saúde. Podemos imaginar suas angústias ao lidar com problema de tais proporções.
Em nenhum momento falou em recursos para enfrentar a pandemia.
Neste país carente, com população
em favelas, cracolândias, prisões, com rede hospitalar incapaz de atender o dia
a dia dos casos correntes, o que fazer frente ao que se avizinha? Consciente de
tudo, Mandetta não joga farinha no ventilador, não reclama, passa segurança,
luta contra o pânico, porta-se com liderança e dignidade.
Sem injeção de recursos, o
combate à pandemia será prejudicado. Os que deveriam estar preocupados estão no
cabo de guerra.
Arrisco-me aqui, da madrugada
solitária e cheia de boas intenções, a dar um palpite:
Com a humildade de um encanecido
escriba, sugiro que os parlamentares renunciem, neste exercício, as emendas
parlamentares, em benefício de um fundo para prevenção aos efeitos da pandemia.
Os recursos obtidos de cada um seriam aplicados no seu estado, e haveria larga
divulgação do seu ato.
A barra do Congresso Nacional,
que não anda nada limpa, ganharia um lustre. A população estaria mais protegida
e a guerra que se anuncia seria, pelo menos, postergada.
Somente o inferno não agradeceria.
Crônicas da Madrugada.
Danilo Sili Borges. Brasília – Mar.2020.
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