UM VÍRUS PARA REFLETIR

Por Danilo Sili Borges


“Eu vi”, como se dizia antigamente, “com estes olhos que a terra um dia há de comer”, um presidente dos Estados Unidos enfrentar uma ameaça sem replicar com o poderio de seus mísseis, de suas bombas, de seus drones assassinos. Não que ele estivesse humilde e que raciocinasse em termos globais para uma ameaça global. Isso seria demais para ele.
Em seu pronunciamento de quarta-feira, percebe-se que se pudesse o presidente isolaria seus cidadãos com os mesmos muros que procura isolá-los dos cucarachos do sul do continente. Crítico em relação à China e à Europa não deu indicações de pretender colaborar com o combate integrado e solidário compatível com o poder que lidera.
A pandemia grassando abre as portas para um sem número de reflexões. Vou seguir pela linha do universo do muito pequeno, onde vive o corona vírus, que hoje se faz presente, com força, nas preocupações cotidianas dos humanos.
 Nossa desenvolvida ciência, pelo que percebo como leigo, conhece bem aquele mundo de seres mutantes e adaptáveis, ativos e que interagem com o restante da vida no planeta, os vírus. Se, por um lado, a ciência está desenvolvida, conhecendo aquele ambiente, por outro, já existe desenvolvimento tecnológico que nos permite dissociar a ideia dos vírus exclusivamente a doenças. Poderíamos dizer, tal como fazemos em relação às bactérias, que existem “vírus bons”. Rápida pesquisa nos indicou sua utilização no controle de fitopatologias, de aplicações médicas na área oncológica, na aquicultura – produção de camarões.
Cabe ressaltar que a tecnologia médica consegue neutralizar a ação danosa de alguns desses organismos, se é que assim posso chamá-los, por meio de vacinas, que se utilizam dos anticorpos produzidos nos doentes infectados, que reagiram à infecção. Assim ocorrerá com o COVID-19, no tempo possível.
Ao adentrar nos segredos microscópicos da matéria, que a ciência havia codificado nos primórdios do século XX, a tecnologia soube dali retirar fantásticas quantidades de energia, cujos primeiros usos foram bélicos, e que até hoje são usados para distinguir povos que têm dos que não têm a bomba nuclear. O uso pacífico da tecnologia é corrente, mas apropriado comercialmente pelos detentores de patentes, o que limita sua utilização. Algo similar poderá ocorrer no caso dos vírus, o que seria desaconselhável.
O mundo se tornou tão pequeno que em poucas horas o COVID -19 saltou as muralhas da China, rompeu fronteiras armadas com os mais sofisticados equipamentos e não parece que dará importância a cara feia do Trump. Democrático e sem preconceitos, politicamente correto, vai mostrando, para os que tinham dúvida, que a humanidade é uma só. Os muros do Trump, tão eficientes em impedir que as hordas do sul sobrevivam das sobras das riquezas dos americanos, mas que não servirão para segurar diminutos organismos que atacam tanto os islâmicos do Irã, quanto os bem nutridos cidadãos da Califórnia.
O corona vírus, certamente é uma praga. Nos tempos bíblicos diriam que era um castigo mandado por Deus para que os pecadores empedernidos refletissem sobre os seus pecados, sobre os desvios de conduta, sobre a falta de fé e pensassem e se corrigissem. Naquela época, as pragas eram mandadas para isso. E hoje, servem para alguma coisa? Será que dá para aproveitar e tirar daí algum ensinamento?
Os homens de hoje, na maioria, não acreditam nessas coisas. Vai uma pergunta para estimular qualquer discussão. Quem criou o corona vírus?
Eu não acredito nesse Deus vingativo e punidor. Cada um tem suas crenças. Mas qualquer que ela seja, o momento é adequado para reavaliarmos a qualidade da nossa presença no mundo. Somos ou não irmãos?
 O Universo, desde o muito pequeno, ao infinitamente grande é cheio de surpresas e inevitáveis perigos – os naturais e os que nós mesmos plantamos. Bombas, mísseis, drones assassinos, não resolvem essas coisas.
Sentimentos melhores, solidariedade, visão do mundo por inteiro, nada de “farinha pouca, meu pirão primeiro” é o que se espera.
Enquanto o novo corona não é contido, nada de desespero. Tome os cuidados necessários e faça como a Marta, aquela sexóloga, ex-prefeita de São Paulo, um dia ensinou: “relaxe e goze”. Afinal, tudo passa!
Crônicas da Madrugada. Danilo Sili Borges. Brasília – Mar.2020

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