EXPERIÊNCIA PRÉVIA
Por Danilo Sili Borges
Ao contratar Jorge de Jesus, o
sortudo e competente técnico que levou o Flamengo a sucessivos títulos em 2019,
o clube poderia ter levado para comandar seus treinamentos, orientar seus
craques durantes os jogos, inventar estratégias e estabelecer táticas durante
as batalhas esportivas um cartola, ou um desses sábios comentaristas de futebol
que sabem tudo e têm todas as soluções da cabine de transmissão ou após o
término da partida. Não o fez por um motivo: conversa mole não ganha jogo. “Me
mostre o que você já fez”. Mesmo estranhando o uso do pronome, o português Jesus
apresentou o currículo. Aceito, veio para o Rio. Veio, viu e venceu. Ele sabia
das coisas do futebol, simples assim!
Em jornais de negócios,
eventualmente, encontram-se anúncios do tipo: “Empresa de grande porte procura
executivo com experiência em liderança de corporação que atue em âmbito
internacional. Curriculum Vitae para este Jornal. Sigilo garantido”.
Esses profissionais são, por todo
o mundo, disputados a peso de ouro. No Brasil, o mais importante cargo
executivo, o CEO, do inglês Chief Executive Officer, é o de Presidente da
República, como, aliás, em qualquer país, o chefe do poder executivo é o líder
daquela organização nacional. Em qualquer deles, o que se espera é que seu CEO
esteja à altura das funções que lhe são destinadas.
Vale a pena, darmos uma olhada
nos CEOs, isto é, nos presidentes da Republica do Brasil a partir da redemocratização.
Sarney, Collor, Itamar, Fernando Henrique, Lula, Dilma, Temer e agora Bolsonaro.
Lembro que nós, os milhões de brasileiros com direito a voto, escolhemos o CEO,
exceto o primeiro, escolhido por votação indireta dada a Tancredo.
Este cronista não emitirá nenhum
juízo de valor sobre as personalidades que têm conduzido o país nessas décadas.
Que os leitores o façam com a vivência que tiveram e as consequências que ainda
sentem por conta das suas administrações. Como sugestão, apliquem, para
começar, o critério usado pelo Flamengo, o da competência por experiência
prévia. Outros parâmetros lhes virão à mente: integridade, espírito público. Façam
como os comentaristas de futebol, palpitem com o jogo terminado. A análise
ajudará em escolhas futuras.
O empreendimento Brasil é muito
antigo, tem 520 anos. Desligou-se da holding
em 1822, depois de tê-la sustentado por três séculos. Tem um considerável PIB,
o décimo em quantidade de riquezas produzidas num ano em comparação com os
demais países do planeta, mas que é pouco quando idealmente dividido pelos 215
milhões de sócios desse grande empreendimento, principalmente levando em conta
que existem alguns com a boca grande, e que ficam com a maior parte dessas
riquezas.
Esta crônica vem a propósito de
dois fatos. O primeiro é estarmos em meio à crise que nos obriga ao
recolhimento domiciliar em dias de fim de quaresma, portanto de introspecção que
culmina na Páscoa que simboliza o renascimento, a renovação. Segundo, estando a
população ligada aos meios de comunicação devido à preocupação com a pandemia,
nossos políticos entraram em modo de exibição paroxística. A necessidade de se
mostrarem competentes – fazendo currículo de experiência prévia – exibindo
qualidades, competências, virtudes, mas, inevitavelmente, não conseguindo
esconder defeitos.
Alguns, no afã da luta política, esquecem-se
do sofrimento imposto pelo impedimento ao trabalho diário, desprezando os males
da medida, outros fazem deste fato gancho para suas pretensões, pregando o “libera
geral” da irresponsabilidade. Digladiando-se sem respeito pela dor da população
desvalida e desesperada.
Estou anotando no meu caderninho
quem é quem. Estou de olho nos candidatos à Presidência, a quem caberá boa
parte da obra de reconstrução da economia nacional após a Covid-19. A hora de observar
é esta.
A crise está sacudindo a política,
a economia e, por consequência, toda a sociedade. Mudanças profundas se
avizinham, será importante que sejam lideradas por homens capazes. Na banca do
cassino do poder as rodadas do pôquer político estão correndo soltas.
Aventureiros conhecidos tentarão renovar o perfil, outros vão aparecer com
apoio da mídia interesseira. As fakenews que elegem e destroem reputações estão
mais ativas que nunca.
Não vamos, certamente, precisar ir a Lisboa ou à Galileia buscar um
novo Jesus, basta abrir os olhos e começar a ver quem é quem.
Crônicas da Madrugada.
Danilo Sili Borges. Brasília – Abr.2020
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