CAUSA, EFEITO E RESPONSABILIDADE

Por Danilo Sili Borges


Na História da Humanidade a incorporação do conceito de causa e efeito foi demorada e até hoje há largos bolsões que preferem acreditar em magias e em “ouvi dizer” para encaminhar a solução de problemas de naturezas diversas, que vão da queda precoce dos cabelos, à cura de doenças graves. E, no entanto, foi esse conceito que permitiu o surgimento da ciência como a conhecemos hoje e a partir de uns poucos séculos para cá.
Não dá, numa sociedade moderna, para desprezar o longo caminho que começou com a observação dos fenômenos, depois tentando provocá-los, codificá-los e, se possível, modelá-los. Surgiram e continuam surgindo os gênios da raça, desde os pitágoras, na muito antiga Grécia, os galileos, os newtons e o mais recente Einstein e outros que o Prêmio Nobel anualmente revela ao mundo. O entrelaçamento de tantos conhecimentos científicos permitiu a complexidade do mundo atual. Causa e efeito. Conceito básico da ciência que nos permite entender o mundo e atuar sobre ele, dando suporte às maravilhas da tecnologia.
Pessoas com razoável cultura e uma pitada de bom senso, acreditam nisso e tomam decisões lastreadas nesses conhecimentos e informações. Por força da cultura de seu grupo creem na ciência, sabem que causa e efeito é princípio universal, vale em qualquer lugar deste vasto Todo Universal.
Sociedades cuja cultura absorveu mais cedo este conceito – causa e efeito – desenvolveram os conhecimentos científicos, valorizam o saber. Alguns países possuem universidades milenares, pois aprenderam que se chega à ciência pela educação, pela boa escola, pelos professores capacitados que dominam amplamente o conhecimento em suas áreas.
As ideias postas aqui, penso eu, são mais velhas que a Sé de Braga, expressão que aprendi na velha terra portuguesa, que abriga, há cerca de 800 anos, a Universidade de Coimbra.  
Pessoas que ainda creem em magia não precisam de comprovação científica para tomar decisões. Em casos de crises de saúde, como a atual, podem prescrever poções com cocô seco de morcego misturado com asa triturada de barata para curá-la, ou qualquer outra, mesmo sem o aval da ciência.  Se o receitador tiver uma trombeta, sairá pelas ruas anunciando seu elixir.
A ignorância das relações básicas de causa e efeito, e das consequências da ciência para o bem estar e a segurança das populações, nos faz entender, por exemplo, a guerra atual contra a educação e a cultura, como no passado recente mostraram a tentativa de instrumentalizar essas áreas com fins ideológicos. Ambos os procedimentos são estúpidos, anticientíficos e primitivos.
O mesmo primitivismo cultural mostra igualmente a falta de diálogo com ministros de apreciável formação científica em suas áreas, os quais têm sido defenestrados com maior ou menor ruído. Outros igualmente competentes estão pipocando na frigideira do obscurantismo.
Enquanto alinhavava esta crônica recebi a notícia da demissão do Ministro da Saúde, NelsonTeich. Pipocou.
Entendo que não devemos seguir a tropa por ouvir tocar o sininho da vaca madrinha. Não é porque a quase totalidade dos países segue o procedimento do isolamento social que temos que acompanhá-la. A ciência também se desenvolve pelo contraditório, mas no âmbito da ciência e por seus métodos. De orelhada não dá.
Poucos em nosso país têm a oportunidade de educação esmerada, que começa em tenra juventude e se prolonga por toda a vida e com o trabalho em designações variadas, o que permite o conhecimento da realidade nacional. Oficiais das Forças Armadas desenvolvem, entre missões e estudos, suas vidas. Muitos, hoje, já cumpridas suas jornadas profissionais, por suas qualidades pessoais e pelos conhecimentos acumulados, tornaram-se quadros importantes e encontram-se nas proximidades do poder político, em condições de levar ao núcleo decisório visão lúcida da realidade.
A      formação positivista dada, em todo o mundo, à oficialidade das forças armadas de cada país é também humanista na melhor essência que essa expressão possa ter.
Decisões equivocadas, conceitos aplicados indevidamente, objetivos escolhidos sem atentar às  prioridades humanas e sociais podem custar centenas de milhares de vidas de irmãos brasileiros.
A situação é grave, há perplexidade e medo pelas ruas, não se percebem ações coerentes.
Quem pode atuar deve fazê-lo imediatamente.
Não há como se omitir!
Crônicas da Madrugada. Danilo Sili Borges. Brasília – Mai. 2020.

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