BRASIL, FARTURA NEWS
Por Danilo Sili Borges
O jornalista José Simão
imortalizou a frase: “O Brasil é o país da piada pronta” e se notabilizou por
colher fatos pitorescos que confirmam esse enunciado, tal como nos anos 60 do
século passado, Stanislaw Ponte Preta, o inesquecível Sérgio Porto, cunhou a
expressão Febeapá, que significava “Festival de Besteiras que Assola o País”,
título de livros que publicou com enorme sucesso.
Os dias correntes se caracterizam
pela enxurrada de notícias que circulam por todos os quadrantes do espaço
nacional, verdadeiras e fakes. Aos borbotões – além das ocasionadas pela
pandemia – o que torna o trabalho dos jornalistas muito facilitado, pois não
mais precisam ir à cata de informações, elas lhes vêm às mãos. Um maná! Alguém
da área já chamou o Brasil de Fartura News. Também pudera. O presidente
Bolsonaro cria, pelo menos, uma polêmica diária na sua entrevista relâmpago na
porta do Palácio da Alvorada, logo respondida pelo Rodrigo Maia. Assunto para
muitas edições de telejornais.
São muitos os protagonistas
habituais dessas notícias. Vejam o exemplo do ocorrido no sábado, 11/07: O
Ministro Gilmar Mendes do STF, numa live, sem maior importância, resolveu dizer
que o Exército Brasileiro estava associado ao genocídio que, segundo o
controvertido juiz, se cometia no país por termos à frente do Ministério da
Saúde um general da ativa daquela força, sem as qualificações médicas
específicas, no momento em que milhares de brasileiros morrem contaminados pela
Covid-19. Crise deflagrada, notícias garantidas por, pelo menos, uma semana.
Notas, explicações, clima quente e, como sabemos, não vai dar em nada.
A multiplicação dos meios de
comunicação – TV, lives, youtube, whatsapp, face, twitter – estimula o protagonismo dos que amam ver nos
jornais televisivos da noite suas imagens, se possível, alvo de comentários e
polêmicas. A glória! Egos inflados e, no que couber, votos garantidos nas
próximas eleições.
Antigamente os juízes
defendiam-se dos insistentes repórteres, dizendo que só lhes era ético
pronunciarem-se nos autos do processo. Bons tempos! Penso que quanto menos
próximos estavam do jogo da política melhores eram os resultados. Hoje ficam
muito evidentes as suas eternas vinculações com os padrinhos que os conduziram
aos tribunais e até o puxa-saquismo dos que tentam chegar lá. Uma vergonha essa
via de mão dupla!
São tantas as matérias que as
mais relevantes para o Brasil, as de maior consistência passam quase despercebidas.
Foi o caso das declarações do General Villas Bôas, ex- Comandante do Exército sobre
a necessidade de o Brasil ter um plano para sua pacificação e desenvolvimento.
Depois de elencar as potencialidades
físicas do país e da formação étnica da nossa gente, o experiente brasileiro
pergunta: “O que nos falta para que se produza uma mobilização da vontade e das
capacidades no sentido de soberanamente os utilizemos atendendo
prioritariamente às necessidades do nosso povo?”
E continua apontando as razões
históricas que nos levaram à letargia em que há décadas nos encontramos e
conclui “...carecemos de um projeto nacional que nos possibilite ter um olhar
em direção ao interesse comum, capaz de nos livrar da prevalência do
individualismo, do imediatismo e dos interesses grupais ou corporativos.”
O general não explicitou, mas
sabe como todos nós, o risco que corre a estabilidade política e democrática enquanto
não superarmos índices sociais tão vergonhosos quanto os que ostentamos. O
impasse provocado pela polarização político-ideológica desacerbada e
irresponsavelmente manipulada para fins eleitoreiros, é perigosa a prazo
dilatado e causa do imobilismo presente. Neste contexto é que deve ser lida a
moderada proposta do general Villas Bôas, no nosso entender. Não se pode descartar a tentativa da tomada do
poder por golpes ou pela força, o que pode chegar a comprometer a própria
integridade territorial do país, em si um milagre, consagrado pela ação hábil de
gerações, principalmente nos dias posteriores ao ato da Independência, quando
diversas províncias não aderiram de pronto ao Império que se formava.
O colonizador português, até
1808, não mostrou interesse na inter-relação entre as partes do território,
pois temia que unidos, o sentimento nativista despertasse precocemente. Medido
em tempo histórico, essa unidade é recente.
Por enquanto, é necessário que os
boquirrotos se moderem! Deixem os jornalistas garimparem suas notícias.
O velho soldado sabe bem o valor da Paz e da unidade da Pátria!
Ouçam-no.
Crônicas da Madrugada.
Danilo Sili Borges. Brasília – Jul. 2020
danilosiliborges@gmail.com
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