O MEC E NOSSOS AZARES
Por Danilo Sili Borges
De repente, na dissonância da
política que o país atravessa, ouve-se um som de bom senso. Surge alguém com
semblante desanuviado, sorriso largo, presença agradável, que dá longa
entrevista aos principais jornais das emissoras de televisão, sem agredir ninguém,
sem falar de guerra e dizendo: “Vim para dialogar, não tenho formação para
discutir ideologias, vamos tratar da educação tecnicamente”.
Seguro, sereno, confiante. Aproximadamente
80% dos brasileiros não se alinham entre os extremos, de lá e de acolá. Esses
não querem gente como um ex-reitor da UFRJ, que pregava para alunos e para toda
a comunidade acadêmica que desejava fuzilar os que pensam diferente dele com “uma
BOA bala e enterrá-los numa BOA cova...”. Ou, como os seus opostos,
que entendem que, com armas e mais munições, questões sociais se resolvem. Essa
maioria respirou aliviada, afinal, no MEC haveria bom senso, nem Weintraub, nem
Haddad.
Que pena! Durou pouco. O
Professor Decotelli perdeu-se pelo caminho da sua nomeação para se tornar Ministro
da Educação. Seu pecado: vaidade. Quem não a tem?
Já ouvi e li, citado por muitos,
que as pessoas se realizam em suas vidas alcançando metas de três naturezas: as
do Ter, as do Poder e as do Conhecer. O comum, pelo que observo, é procurarmos
uma mescla dessas virtudes, se assim a elas pudermos chamar. O Ter é conseguir
para si, para seu uso, e o dos que de você dependem, dos meios que a natureza e
a sociedade disponibilizam em troca do seu trabalho. O Conhecer é a habilidade
da integração consciente com seu meio natural e social. É a cultura no seu
sentido original, que é alcançada formal ou empiricamente pela escola ou pela
vida. O Poder é a expressão social da influência daquela pessoa no seu meio e depende
das expressões do Ter e do Saber, além de condições intrínsecas à sua própria
personalidade. Essa composição, ao lado de valores do espírito como
solidariedade, amizade, compaixão, ética, simplicidade compõem o Ser.
Os humanos buscam nos receptáculos
desses valores as porções que lhes parecem necessárias ou que lhes cabem na
partilha entre os demais seres e formam seus cabedais. Essas buscas exigem
esforço. É justo, portanto, a vaidade decorrente do atingimento das metas
colimadas.
Exacerbação na busca de qualquer
desses aspectos – Ter, Conhecer, Poder – pode significar patologia. Todos
conhecem pessoas para as quais a riqueza, o Ter, é tudo, deixando de lado até
os melhores valores do Ser para alcançá-la, como a ética, por exemplo. O Poder
tem a mesma característica, basta abrirmos um jornal para vermos exemplos
prontos e diários desses desvios de personalidade, na conduta doentia de tantos
homens públicos.
Também o Saber. Existem pessoas
que entesouram conhecimentos. Vivem com um mínimo de conforto e de bens
materiais, isolados em si, no deleite de saberem cada vez mais para usarem em
nada. Um saber egoísta, uma vaidade vazia.
Por razões que desconheço, o
Professor Decotelli, ao voltar das fontes mais altas do Saber, não foi capaz de
comprovar, com documentos, a qualidade dos conhecimentos que dizia trazer em
sua bagagem. Logo ele, que foi proposto para apaziguar a casa do saber formal
deste grande país, cuja maior carência é exatamente a educação, o meio mais
direto de levar o Saber às pessoas.
Não que se exigisse do Ministro
da Educação a titulação, agora já em discussão por todos os cantos. Até porque,
outros predecessores seus ocuparam aquela cadeira ministerial, alguns com
brilho, outros constantemente embaciados, sendo ou não doutores.
Decotelli foi ambicioso ao buscar
seu doutorado na Universidade de Rosário, Argentina. Ele buscava, penso eu,
Saber. Infelizmente não deu. Se fosse só o papel, o diploma, ele poderia tê-lo
conseguido por aqui mesmo ou em outros locais do mundo, sem tantas exigências
como na renomada universidade platina, e hoje seria um festejado Ministro da
Educação. Tantos já o fizeram.
De todos os desvios de caráter,
estou convencido que o menor deles é a vaidade, quem não o exibe em maior ou
menor grau, mesmo quando, quer ocultá-la? Foi nele que o simpático Professor
Decotelli escorregou, não há porque crucificá-lo.
O azar foi nosso, perdemos, tenho esse sentimento, um grande ministro!
Crônicas da Madrugada. Danilo Sili Borges. Brasília –
Jul.2020
danilosiliborges@gmail.com
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