CARTÃO VERMELHO
Por Danilo Sili Borges
Na última terça-feira, o
presidente Bolsonaro mostrou cartão vermelho para a equipe econômica. Acertou
em cheio na marcação, não foi nem necessário recorrer ao VAR. “Não vou retirar
de pobre para dar ao paupérrimo”, declarou. Na hora de puxar do bolso, saiu o
amarelo, o da advertência, o que sinaliza “da próxima vez é banho mais cedo...”.
Uma simples reflexão mostra o
quão frágil está a economia. Não há de onde deslocar recursos para atender
questões sociais de interesse político do presidente. A exaustão do caixa é
fácil de entender se levarmos em conta as altíssimas despesas com a pandemia,
os passivos recebidos, em 2019, pelo governo e, principalmente, os equívocos da
política econômica contracionista adotada desde então.
O objetivo de equilibrar contas
públicas a qualquer custo e rapidamente, a marretadas se preciso for, como meio
de levar credibilidade ao governo e, portanto, ao país, tem falhado por razões
fortuitas e por escorregões estratégicos. A questão da pandemia alinha-se entre
as primeiras. A redução da massa salarial e, por consequência, a do poder de
compra, via aprovação de normas de contenção de reajustes da remuneração do
trabalho e outras do mesmo jaez, deprime a economia por prazo indefinido e
afeta o que mais a impulsiona, o ânimo
do investidor. É do estado de espírito de quem empreende que se nutre o
crescimento econômico, muito mais que da informação que os cofres do Tesouro
estão cheios de ouro e de papel pintado de verde.
É preciso aqui distinguir o
investidor de longo prazo na economia – empreendedor – dos aplicadores de curto
prazo no mercado de capitais – especuladores – cujos interesses parecem
parametrizar medidas econômicas e que são conhecidos nos meios oficiais pela
alcunha de “mercados”.
A credibilidade procurada há
quase dois anos por meio exclusivo do equilíbrio fiscal está cada vez mais
distante. A tentativa de sair da sinuca por aumento de impostos contraria as
próprias crenças do ministro, declarado neoliberal, agrava a recessão, e não será
fácil fazê-la descer pela goela da sociedade já supertaxada e intoxicada desse
medicamento que paralisa a musculatura do setor produtivo, o qual necessita é
de consumidores e não de desonerações.
O governo já utilizou quase 50%
do seu mandato, o último ano será dedicado à campanha eleitoral, quando lhe
caberá apresentar números e realizações e disso dependerá a reeleição do
presidente. Nesta crônica me limito a análise da economia, sem forçar a mão no viés
político desses fatos. Ao que se pode observar no horizonte, não haverá fartura
de recursos para bancar programas assistenciais, além dos já providos, a não
ser pela adoção de saída inflacionária o que parece desmontaria toda a lógica
do governo, ou de cortes na carne de projetos essenciais.
Toca fora do compasso da atual política
econômica do governo, o que pode ser o farol indicador da sua recuperação, a
boa performance do Ministro da Infraestrutura
Engenheiro Tarcísio de Freitas, que sabe tirar leite de pedra, mobilizar
recursos e investimentos. Que gera confiança no setor produtivo e no laboral, que
cria empregos, que pratica economia real. Infelizmente, para o tamanho do
Brasil sua escala é muito pequena, mas é um exemplo do que é possível. Por que
não lhe soltam devidamente as amarras? O país precisa crescer.
A credibilidade de qualquer
empreendimento, seja uma empresa, seja um país, não vem do fato do empreendedor
ter as burras transbordando de dinheiro. Muitos mãos-de-vaca as têm e não são
empreendedores. Vejam os bancos, por exemplo, além de não empreenderem, não
fomentam, nem financiam as atividades produtivas como seria de esperar. Socialmente
são, na melhor das hipóteses, anódinos.
O bom conceito do empreendedor, a
chave que lhe abre as portas para a realização dos seus projetos, seja ele uma
empresa ou um país, deriva da sua
capacidade de reunir meios físicos, humanos, financeiros, coordenando equipe
motivada, otimista, vencedora. No nosso país isso foi feito diversas vezes, é
só consultar a História. E quando isso ocorreu a resposta foi imediata, o PIB
deu saltos e cresceu por muitos anos.
Tire do bolso, Presidente, o
cartão certo! O que não for feito agora será tema da oposição, em 2022.
Tem gente no banco e no aquecimento. Ponha um
novo time em campo, talvez ainda dê tempo.
Como a conversa é de futebol, é bom lembrar que: “Quem não faz, leva”.
Crônicas da Madrugada.
Danilo Sili Borges. Brasília – Set. 2020
danilosiliborges@gmail.com
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