SANEAMENTO, AGORA VAI
Por Danilo Sili Borges
A
infraestrutura, depois de 198 anos de independência, continua sendo o mais apertado
gargalo do desenvolvimento nacional e paradoxalmente a porta de saída mais
larga para nos livrarmos das nossas angústias sociais e econômicas.
Os
caminhos para a circulação da produção estão sendo desobstruídos pela ação do
engenheiro Tarcísio de Freitas, Ministro da Infraestrutura, que tem tornado operacionais
rodovias, portos, ferrovias setores nos quais as maiores dificuldades se deviam
à excessiva carga de corrupção, acrescida da inépcia administrativa, provocada
pelo preenchimento de cargos técnicos pelo toma-lá-dá-cá da política.
O
saneamento básico, água e esgotamento sanitário, é o maior problema social do
Brasil, por estar na base dos demais. Sua não solução afeta a saúde, a
mortalidade infantil, o trabalho, a produtividade da mão de obra, a renda
familiar, o rendimento escolar e a dignidade do ser humano, impedindo o
exercício pleno da cidadania. E, para coroar, é usado como meio de manipulação
eleitoreira, quando, do palanque, o candidato promete: “Eleito, vou fazer
correr água abundante nas torneiras desta comunidade.” Água por votos, quem não
quer?
Não há
bolsa-família e sucedâneos que possam remediar o que o não-saneamento deixa no vazio.
Saneamento
é caro. Água é eleitoralmente visível, nota-se ao lavar cada prato, a cada
banho no bebê. Esgoto é outra história. É obra enterrada. Se não há uma rede
pública de recolhimento, a fossa negra resolve, mesmo poluindo o lençol
freático. Ou, como ainda se vê por aí, direcionando as águas servidas para a
rua, que se juntando às dos vizinhos, formam valas que acabam por poluir
riachos e rios. Bairros e cidades do fedor.
Próximo
às eleições, o candidato anuncia que vai “fazer o esgoto“. A empresa pública
implanta a rede de recolhimento, e sem nenhum tratamento, atira o recolhido no
curso d’água mais próximo. Poluição em escala.
Este
preâmbulo mal cheiroso é para dizer que em julho passado o governo aprovou o
novo marco regulatório do Saneamento. Até então, cabia ao governo, quase sempre
estadual, responsabilizar-se pela implantação dos equipamentos e pela prestação
dos serviços de água e esgoto dos municípios por meio de suas empresas.
Os resultados percebem-se a olho nu ou de
narinas atentas, que nunca foram bons. Números da situação existente podem ser
obtidos no velho e preciso Google.
A filosofia, antes praticada, ficou clara
agora, quando partidos de orientação estatizante ajuizaram ADI – Ação Direta de
Inconstitucionalidade – impugnando o novo marco do Saneamento Básico que
permite que a iniciativa privada entre na atividade, argumentando que, por ser “o
Saneamento atividade de interesse social não pode visar lucro”. A isso se
poderia chamar, viver fora do seu tempo.
A
Igreja Católica medieval tinha o lucro como proibido. Teorias políticas criadas
no século XIX, de oposição ao
capitalismo, viam no lucro a ferramenta pela qual se dava a apropriação do
trabalho pelo capital. Algumas sociedades significativas chegaram a implantar
regimes baseados nesses princípios, mas nunca foram eficazes e dissolveram-se
por inviabilidade econômica, nostalgicamente.
Nas
economias modernas, capitalistas ou não, o lucro é a mola mestra que faz girar
e crescer todo o sistema econômico que, ao fim e ao cabo, suporta os
necessários avanços sociais. O lucro não é entesourado, guardado no baú ou sob
o colchão de um Tio Patinhas. Ele é reinvestido, essa é a lógica do
crescimento. O sistema exige rígido controle que vai além dos chamados “de
mercado”, por si mesmos imperfeitos, com ação governamental forte e constante.
Alimentação
é talvez a primordial atividade de interesse público, e onde implantaram a
produção estatal, sem visar lucro, colheram desabastecimento e filas.
Bom
senso é o principal ingrediente em qualquer teoria ou prática política. Consta
que a milenar cultura chinesa, frente a dificuldades para por em marcha o
desenvolvimento sustentável do país, reuniu, numa tarde, seus modernos e mais
capazes mandarins em torno de uma mesa de chá, servido em finas louças
ancestrais. Sábios líderes, pós Mao, escreveram a obra secreta, “O Lucro é a
Solução”. Usando seus ensinamentos os, agora bem trajados, à ocidental, CEOs da
República Popular da China resgataram da fome e da miséria bilhões de seus
cidadãos.
Soube que os velhos mandarins estão a escrever outro livro,
contratados por grande editora mundial, “O Lucro acordou o Dragão”. Eu
recomendarei a leitura do futuro “best seller” aos ideólogos de determinados
partidos políticos brasileiros.
Crônicas da Madrugada.
Danilo Sili Borges. Brasília – Set.2020
danilosiliborges@gmail.com
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