ELEIÇÔES E REFLEXÔES

 

Por Danilo Sili Borges

Com eleições a cada dois anos, estamos sempre em período pré-eleitoral. Discussões, reflexões e escolhas são práticas democráticas bem vindas, mas tudo quando é demais, até churrasco de picanha com cerveja gelada, tem limites.

Mas não são dessas eleições gerais que quero falar. Na última quinta-feira, 1º de outubro, os engenheiros elegeram os presidentes dos seus conselhos regionais – um por estado e pelo DF e o presidente do conselho federal – CREAs e CONFEA, numa eleição nacional, por estado, e ao mesmo tempo geral para a presidência do Confea.

 Voto no DF e minhas observações referem-se à experiência que tive e que imagino tenha sido similar nos demais estados. Vou começar pelos elogios. Nestes 56 anos de formado não me lembro de ter deixado de votar uma única vez. Tive preocupação com contaminação, pois sei que aos 80, com suas compatíveis morbidades, não haveria doutor para me segurar se o bichinho me pegasse. Fui e encontrei, para pessoas nas minhas condições, ambiente seguro, preparado higienicamente com os melhores requisitos. Nada a questionar.

Encontrei candidatos mascarados, a distância recomendada, pedindo votos, sem apertos de mão, sem abraços e sem beijinhos, e o melhor, sem bandeiras, sem faixas, sem referências de qualquer espécie a partidos, tendências, preferências, dessa ou daquela chapa, por bandeiras, cores ou ideologias. Claro, que os candidatos são cidadãos políticos, como todos nós, mas não misturaram as estações. Sinalizaram com clareza que não pretendem pôr o órgão de representação profissional a reboque da política maior. A isso se chama maturidade.

Fato a registrar foi a disputa entre duas engenheiras à presidência do CREA-DF. Há muito a engenharia deixou de ser profissão masculina. Fátima Có foi reeleita. Adriana Rabelo, que concorreu pela primeira vez, voltará à disputa com suas propostas, suas qualidades que indicam o quanto ela será importante ao Crea no futuro. Fátima, que ocupará pela terceira vez a presidência do conselho, tem longa e exitosa folha de serviços prestados à engenharia.  Vitória esperada e merecida. Oportunidade de continuar a ótima administração que vem conduzindo.

O Sistema Confea – Creas é uma espécie de Geni da antiga música do Chico, nasceu para apanhar. Muitas vezes com carradas de motivos, outras porque sua história ficou perdida no tempo de um país que, sempre preso ao imediatismo, não cultiva o passado, sua História.

Por que os senhores da tecnologia, os engenheiros, não providenciaram para que a eleição fosse pela internet? Perguntaram-me.

Obrigaram desta vez, os colegas eleitores a arriscaram-se à contaminação pela Covid-19, porque, como em outras inúmeras vezes, o Sistema recusou-se a eleições virtuais, sob as mais evasivas desculpas ou fazendo ouvidos moucos e cara de paisagem.

A nossa Geni tem lá suas culpas. Por exemplo, a participação nas eleições, não chega a atingir 10%, em geral, do universo de eleitores. Dos que votam, quase totalidade são associados às entidades de classe, cujas lideranças se compõem para definir candidatos. O processo assim é manipulável. Tais entidades, no geral, com pequenos quadros associativos, dependem umbilicalmente dos conselhos para suas sobrevivências financeiras. Fecha-se aí o quadro.

Abrir o processo, admitir o voto a distância, chamar para as eleições profissionais cujo prestígio não decorra das atividades classistas, mas de outras, por exemplo, a docência, a liderança empresarial, o projetista prestigiado, pode alterar o sistema de forças há décadas estabelecido. Essa é a resposta da pergunta feita acima, o porquê de não haver eleições pela Internet.

Atiram pedras imerecidas os que não conhecem sua história, que começa no distante século XIX, gravidez heroica, para que a sociedade brasileira tivesse serviços técnicos conduzidos por profissionais competentes, habilitados legalmente, formados nas escolas, herança da vinda da Família Real para o Brasil.

Passamos pelo movimento tenentista que levou à Revolução de 30. Profissionais de prestígio e brilhantes como o arquiteto Adolpho Morales de los Rios, o engenheiro Paulo de Frontin, os irmãos engenheiros Rebouças e tantos outros, que por suas atividades profissionais e cívicas destacaram nossas profissões no meio social, até que em 1933, no período em que  o Brasil se preparava para o desenvolvimento que teve nestes 90 anos, que muitos ignoram, por falta de perspectiva histórica, Getúlio Vargas, seu Ministro da Educação e Saúde Pública em conjunto com o Ministro do Trabalho, criaram o nosso Sistema Profissional. Visão de futuro.

Aos dirigentes eleitos do Sistema cabe mostrar às autoridades que “não há país desenvolvido sem uma engenharia de qualidade”.

 “Só os gênios enxergam o óbvio” Nelson Rodrigues.

Crônicas da Madrugada. Danilo Sili Borges. Brasília – Out. 2020

danilosiliborges@gmail.com

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