OS ASSUNTOS DO DOMINGO
Por Danilo Sili Borges
Garimpar temas para a crônica dos
domingos é coisa que desconheço, meu trabalho é selecionar entre os que se me vão
acordando às madrugadas, aí pelas 4 horas e se oferecendo para minhas
elucubrações, enquanto ainda no torpor da noite incompleta e solto da
autocensura e dos limites do senso comum, o que me permite voos para ver, com
poucas emoções, questões que me preocupam.
Ao longo do dia, se o tema persiste, é possível que daí surja a crônica.
Nesta semana, foram muitas as ofertas recebidas e que dariam bons textos. Vou
mostrar algumas.
“Acabei com a Lavajato, no meu
governo não tem corrupção”, talvez esse convencimento o tenha feito tornar
impossível a permanência, no Ministério, de Sérgio Moro, especialista em
combater bandidos de colarinhos de todas as cores e até daqueles que não usam
gravata. E vi também, com poucas horas de diferença, no Dia da Padroeira do
Brasil, Nossa Senhora de Aparecida, manifestações a exortar o povo a impedir
que a Lavajato fosse descontinuada. A aparente contradição apareceu no meu
torpor matinal. Opiniões e visões diferentes dariam boa crônica, pensei. Acho
que vou por aí. Logo considerei que religiosos e presidente tinham a mesma
intenção: Um país decente. Será? A dúvida que me assaltou, esta sim, poderia
dar crônica interessante. O sono incompleto me estaria fazendo ver fantasmas?
Noutra madrugada, o imaginado
agastamento do Ministro Marco Aurélio interrompeu meu já difícil dormir, quando
sonhava com manhã domingueira da adolescência na minha Icaraí, ainda com seu
histórico trampolim. Imaginei o mal
estar do Ministro ao ver sua decisão suspensa pelo seu colega e reprovada pela
opinião pública do planeta e de todas as galáxias. Naqueles poucos minutos, nos
quais as ideias ocorrem livres, perguntei a mim mesmo: – Será que Sua
Excelência, o Ministro Celso, com tantos anos de Tribunal, antes de conceder o habeas corpus ao André do Rap, não poderia ter trocado
ideias com colegas do tribunal? Será que cada ministro, que cada um desses 11
ministros, pensa que é dono único da verdade ou que existem 11 verdades para
cada assunto?
Marco Aurélio poderia ter
dividido suas dúvidas e imagino que as tivesse – ter dúvidas é sinal de
inteligência – e trocado ideias com Gilmar, talvez com o próprio Fux. Se não quisesse
envolver os atuais, uma ligação para o ponderadíssimo Carlos Ayres de Britto
poderia lhe mostrar rumos e alternativas. Certamente uma conversa a distância
com aquela angelical ex-ministra, a Ellen Gracie, lhe fizesse ver todos os
lados da questão. A sensibilidade feminina nunca se deve descartar.
Sou engenheiro formado há 56 anos,
ao me aparecerem problemas espinhosos recorrerei, como tenho recorrido, a
colegas de grande saber e bom senso. Se existisse um SAE – Supremo para Assuntos de Engenharia – eles poderiam estar sentados lá, como o Marco
Aurélio e os demais que estão no STF. Questão de escolha no vestibular, de quem
os indicasse, da política e até do parentesco na época da vaga. Simples assim. Deus
não ungiu os ministros e eles devem acreditar nisso.
Os médicos quando têm paciente em
risco, chamam colegas e fazem Junta Médica. André do Rap solto é risco para
milhares.
Eis que inesperadamente o país é
surpreendido com o cofrinho do Vice-Líder do governo no Senado, devidamente
coberto com suas cuecas, guardando importância superior a 30 mil reais. A
corrupção baixou de nível, de dólares para reais.
Poucas horas depois da mídia
internacional ter repercutido a escatológica história, um amigo português
mandou-me a piada que por lá circula a justificar a fraqueza do Real no mercado
de câmbio, tendo como causa a sua contaminação por coliformes fecais, com
origem no hábito de políticos brasileiros guardarem papel moeda nas cuecas.
Ser piada em Lisboa não me
agradou.
Na madrugada, acordei incomodado
com desagradável odor. A princípio achei que havia sofrido um acidente noturno,
afinal tinha exagerado na pizza do lanche vespertino. Felizmente logo me dei
conta que tudo não passou de produto da minha imaginação, sempre aguda naquele
horário e me empurrando para escrever. Veio-me logo a mente o grotesco episódio
do vazamento nervoso sofrido pelo Senador Francisco Rodrigues sobre seus tão
bem protegidos 30 mil reais.
Governo sem corrupção é outra coisa!
Crônicas da Madrugada.
Danilo Sili Borges. Brasília – Out.2020
danilosiliborges@gmail.com
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