A HORA DA INDEPENDÊNCIA

 Por Danilo Sili Borges

Nada é mais importante para países e para pessoas que sua independência, mas deve-se ter em conta que ela é sempre relativa. Foquemos neste artigo no relacionamento entre estados nacionais. A necessidade da complementaridade de bens e serviços para suas economias, por si, comprovam essa afirmação. O que a dependência comercial e mesmo de outras naturezas não pode significar é submissão aos interesses do outro, é entregar o direito de decidir suas ações a terceiros. E isso é comum entre nações, tanto declarada, quanto sub-repticiamente.

A política externa praticada por uma nação permite perceber o grau de autonomia que ela tem de gerir suas ações políticas e comerciais. Não fosse assim, não teríamos no caso do Brasil, no passado, governos que definiram explicitamente suas políticas externas como independentes – PEI. Isso ocorreu nos governos de Jânio Quadros e João Goulart, cujos respectivos chanceleres, Afonso Arinos de Mello Franco e Santiago Dantas, conduziram o País em plena guerra-fria por caminhos de seu interesse próprio. Ambos os ministros estão entre os melhores que passaram pelo Itamarati, apesar de não terem sido diplomatas de carreira. Sugiro aos jovens lerem as biografias desses ilustres dignos patriotas brasileiros.

Juscelino e Geisel, cada um a seu modo, seguiram trajetórias de política externa independente.  O governo de metas de Juscelino necessitava de recursos que lhe foram quase que totalmente negados pelos financiadores externos. Com a habilidade que lhe era própria, JK recorreu a recursos dos institutos de aposentadoria e pensão – IAPs – dos trabalhadores, que na época eram ainda capitalizados porque a demanda por benefícios era moderada. Apelou à emissão de moeda, isto é, à inflação e realizou a maioria de suas metas.  Deste modo criou a infraestrutura para que o capitalismo internacional investisse no Brasil, o que fez com que o país alcançasse índices de crescimento por décadas. JK criou a Operação Pan Americana, que ameaçou roubar o protagonismo americano no sul do continente, obrigando o presidente Kennedy a baixar os olhos para este lado do mundo e propor a Aliança para o Progresso.

 Geisel, insuspeito do ponto de vista ideológico, penúltimo general presidente do período de exceção, rompeu o acordo militar com os Estados Unidos, firmou cooperação de desenvolvimento de energia nuclear com a Alemanha e manteve o Brasil fora do Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares, o que só veio a mudar no governo Collor. 

Geisel soube distinguir bem suas convicções ideológicas dos interesses comerciais e diplomáticos do Brasil aproximando-se dos novos países africanos e da américa latina adotando política terceiro mundista. Certamente sua experiência como CEO da Petrobras num dos melhores períodos da empresa contribuiu para sua visão ecumênica.

Ideologicamente Geisel acreditava no Brasil como potência emergente pelo seu desenvolvimento científico e tecnológico alcançado naquela época. E postou-se como presidente daquela nação.

Na atualidade, o governo Trump deu pouca importância à América Latina, exceto para conter a imigração para os Estados Unidos. Nosso atual governo, sem pedir reciprocidade, apenas por gosto pessoal, atrelou sua política externa umbilicalmente à do presidente Trump, que em poucas horas deixará a Casa Branca. Tudo indica que a orientação da Política Externa Americana mudará, sob Biden.

Internacionalmente temos hoje uma situação excepcional. Temos parceiros comerciais que conosco têm relações de dependência recíproca, sem falsos amores, como aliás são as relações entre países. Apenas interesses, quem pensa diferente se ilude. Não entende do jogo.

Temos boa oportunidade para reconstruir nossa política externa, mas devemos ter atenção para os seguintes pontos:

Atualmente no mundo criamos um clima de animosidade em que ninguém é por nós, pelo contrário;

Nossa produção agropecuária é de grande importância para o equilíbrio na oferta internacional de alimentos, mas também somos vulneráveis compradores de insumos essenciais, portanto não é bom chantagear com esse argumento;

Vale no balcão da lojinha do libanês, como na nossa relação com nosso maior cliente, a China: “O cliente tem sempre a razão”, ou pelo menos não deixe que motivos fora do comercio atrapalhem suas vendas.

Aprendi, há muitos anos, com o Engenheiro Virgílio Abreu, saudoso amigo, homem de fé religiosa, que por muitos anos foi empresário em Brasília, que o líder, o chefe, dá o caráter da instituição, que passa a ser como ele. Seu exemplo era a Igreja que tinha em Cristo seu eterno líder, que lhe dava, pela força de sua vida e de seu sacrifício, o exemplo indelével daquela instituição.

Nas empresas, nas famílias e em qualquer organização os chefes é que lhes emprestam o tom, o caráter.

O Brasil precisa descontrair, reconstruir sua imagem.

O Brasil precisa voltar a sorrir!  A hora é esta.

Crônicas da Madrugada. Danilo Sili Borges. Brasília – Jan. 2021

danilosiliborges@gmail.com

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