O DESAFIO DA DÉCADA
Por Danilo Sili Borges
Democracia e liberalismo foram os
vencedores da disputa econômica no século vinte. O sistema de produção
capitalista que se implantou com força a partir do século XIX, apoiou-se na
ciência e nos recém-nascidos conceitos gêmeos, tecnologia e mercado. Os primórdios
da produção capitalista foram de intensa e desumana exploração do trabalho em
benefício da acumulação do capital, o que provocou o surgimento de teorias que
pregavam modelos de produção que fossem menos gravosos à mão de obra.
A resposta foi a implantação
revolucionária de modos de produção favoráveis ao trabalhador, na Rússia em
1917, que levou à criação da URSS. Sistema em que os bens de produção eram do Estado,
que dividiria os resultados socialmente. Esses seriam otimizados, entendiam
seus propositores, por planejamentos governamentais. Para que isso funcionasse,
a revolução implantou a chamada ditadura do proletariado. Adeus democracia. Estavam
estabelecidos os polos da disputa econômica do século XX. A lógica do
planejamento centralizado era a da otimização pela racionalidade, que
certamente sairia vencedora num confronto com a desorganização que se verifica
quando miríades de empresas decidem, por si, o que fazer, pensavam seus propositores.
No século XX, discutiu-se se
planejamento centralizado, o partido único, a produção estatal, os objetivos
nacionais definidos em âmbito partidário levariam a maior produtividade e a uma
partição equânime dos resultados, já que o capitalismo produzia, como até hoje,
grande desigualdade social e econômica.
O sistema capitalista viceja em
arcabouço político democrático que permite o confronto de ideias políticas, o
que se cristaliza na multiplicidade de partidos que tentam chegar ao poder por
eleições periódicas. Quem orienta o que se produz é o mercado pela demanda, que
é também quem regula a formação dos preços. O trabalho, através de suas
representações classistas, disputa com as empresas, a sua parcela no resultado
da produção.
O capitalismo democrático opera
por processo de conflitos, e da sobrevivência dos mais aptos, sendo aparentemente
gastador de energia e de altíssima entropia. Por que, então, ao longo do século
passado, as sociedades que se organizaram no modo socialista não suportaram a
competição e acabaram cedendo, restando poucas e inexpressivas evidências
daquele modelo?
Há é claro uma exceção, a China.
O mercado é o motor da economia
atual. A tecnologia responde a suas demandas, e daí surge a energia necessária
ao seu funcionamento. Tecnologia é o saber fazer a partir dos conhecimentos que
a ciência disponibiliza. Quem responde melhor e mais rápido ganha a competição.
O processo de inovação é contínuo.
Nas economias centralizadas o
mercado é atrofiado pelo planejamento que pretende substituí-lo em nome da
eficiência, que não ocorre, sem concorrência e mais, os produtos não passam
pelo “teste do mercado” e são ruins. Lembram-se do Lada que importamos?
No século XX a China voltou aos
trilhos da sua história milenar, agora para atender os problemas de uma
população de um bilhão e meio de habitantes. Adotou o regime comunista. Ao
perceber que seguia o modelo econômico que estava levando ao naufrágio seu
vizinho de fronteira, resolveu mudar o cardápio, do strogonoff para hamburger
com fritas.
Adotou modelo híbrido, sem perder
o controle político e de planejamento unificado, abriu-se para o capitalismo estimulando
empresas internacionais a operarem em seu território, gozando de vantagens
dentre as quais farta e barata mão de obra, potencial mercado consumidor.
Paralelamente simplificou regras para o empreendedorismo interno, que tem
respondido exitosamente. Há nesse arranjo desequilíbrio que ninguém arrisca
dizer se ou quando se tornará problema agudo. A China tem surpreendido o mundo,
superando todas as previsões para o seu desenvolvimento. Investimentos corretos
em infraestrutura, educação, ciência e economia tornaram-na competidor
imbatível no que se propõe a fazer.
Obama e Trump tentaram bater os
chineses nesses segmentos por meio de taxação a importações, repatriando
empresas, incentivando setores que perderam competitividade nos Estados Unidos.
Tentativas inócuas. O competente parque negocial chinês detecta as demandas do
mercado internacional rapidamente e lança seus produtos, no melhor estilo
capitalista. E passamos a ver em tudo que adquirimos o “Made in China”.
Existirá um calcanhar de Aquiles no
desenvolvimento chinês?
Pelas análises que tenho lido, o
governo Biden acredita que sim. A proposta é alinhar a pauta de desenvolvimento
tecnológico às demandas mundiais de energia limpa, de conservação ambiental, da
produção de bens a partir de tecnologias ainda em experimento, ativando para
isso o incrível parque de inovação do país. Sua pretensão é tornar demodée,
praticamente tudo o que se produz hoje no mundo e tornar permanente o processo
de inovação sob a liderança americana.
Os Estados Unidos pretendem
estressar a China e o mundo com novas espantosas tecnologias. Possivelmente
vamos conhecer outros Steve Jobs, Bill Gates, Henry Ford, Larry Page.
A conferir!
Crônicas da Madrugada. Danilo Sili
Borges. Brasília – Fev. 2021
danilosiliborges@gmail.com
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