LIENE NÃO RESPONDEU

 Por Danilo Sili Borges

O vírus chegou à Liene antes da vacina.

No mesmo dia, outros mais de 4 mil brasileiros morreram da mesma causa. Na corrida insana, o micro-organismo ainda vai levando vantagem sobre a inteligência humana, mormente quando esta não é adequadamente utilizada.

Claro que os números crescentes de vítimas da pandemia que nos são anunciados diariamente pelos meios de comunicação nos atingem e abalam, mas enquanto não têm um rosto, uma voz, lembranças de convívios e de fatos e afetos ainda são números.

Liene nos foi tirada no ápice da sua vida, no momento da colheita que só havia começado. Esposa do nosso companheiro e amigo Giordano Garcia Leão no Rotary Club Lago Sul, pertencia à Casa da Amizade do Rotary onde realizava expressivo serviço humanitário entre os que a instituição se dedica. Giordano, a filha Carolina, os filhos Hugo e Lupércio e os 4 netos não terão como suprir o vazio deixado pela sua presença e personalidade singular.

Discreta, de elegância inata, de expressar-se em tom baixo e contido, fazia-se notar por força da sua personalidade a um só tempo meiga e firme nos propósitos que delineava para si e nas tarefas que lhe cabiam. Por seus dotes naturais, como empresária, sócia de seu marido, construíram juntos empreendimento comercial de grande êxito e respeitabilidade no Distrito Federal. Proprietária da Imobiliária Thaís, querida por todos no Guará onde era conhecida como Leninha, exercia suave – como era próprio do seu jeito – e profícua liderança comunitária.

Hoje, 8/4/21, ao receber a notícia do seu passamento, vitimada pela pandemia, retornei à sua página no Facebook, para novamente ver as postagens que com frequência ela fazia e que como apreciador de literatura e especificamente de poesia eu baixava para ler. O bom gosto e a sensibilidade pelas peças postadas sempre me agradaram muito, ainda que nunca tivesse tido a oportunidade de lhe expressar isso, sequer nos comentários daquela rede social ou pessoalmente.

Sugiro aos seus amigos que, nesta hora de dor, voltem a percorrer as páginas que Liene deixou na internet para reviverem a delicadeza da sua inteligência e do seu espírito. De lá:

NINGUÉM CRUZA

NOSSO CAMINHO

POR ACASO

E NÓS NÃO

ENTRAMOS

NA VIDA DE

NINGUÉM SEM

NENHUMA RAZÃO

Não há lenitivo, ou justificativa para a tragédia, nada traz conforto. A conversa de que cada um tem sua hora, de que tudo estava escrito é conversa mesmo. Liene foi vítima, como centenas de milhares de outros têm sido, da pandemia e da incúria dos que deveriam pensar e tomar providências em benefício da sociedade no tempo certo. Nós, seus amigos, choramos sua perda. Se a vacinação tivesse sido mais efetiva e a ciência ouvida, a teríamos conosco.

Por minha modesta atuação com estas Crônicas da Madrugada, fui incumbido de organizar com outros companheiros um grupo para estruturar na nossa comunidade a Academia Rotária de Letras de Brasília, entidade que congrega rotarianos amantes da cultura e que já possui antecessoras em funcionamento em diversos estados e em países latino-americanos com êxito e despertando grande interesse, sob a liderança nacional e internacional do Presidente Geraldo Leite, da Academia Brasileira Rotaria de Letras - ABROL – Nacional.

Logo ao listarmos os primeiros nomes para compor o grupo dos organizadores, propusemos o de Liene, que consultada, com sua modéstia habitual, alegou apenas gostar de ler, e não saber se gostaria de participar da nascente entidade, mas que nos daria uma resposta definitiva mais adiante. Não tivemos tempo de ouvir o seu “de acordo”.

Crônicas da Madrugada. Danilo Sili Borges. Brasília – Abr. 2021

danilosiliborges@gmail.com

 


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