A CIÊNCIA E O CORREIO BRAZILIENSE

 


Houve um momento na história em que a humanidade percebeu que “iguais causas produzem os mesmos efeitos”. Estava colocada a pedra fundamental da ciência. É certo que ainda hoje, tanto tempo passado, muitos ainda acreditam ser possível interferir nas leis naturais por magias diversas. O processo civilizatório é lento, mas inexorável, e sempre pode receber uma mãozinha para ajudá-lo a romper com crendices e bruxarias mais rapidamente. E os meios de comunicação de massa podem ter papel importante nisso.

Sou assíduo leitor de jornais, mantenho quatro assinaturas digitais dos maiores do país e minha primeira ação matinal é visitá-los. Não vou esconder que o primeiro a receber meu bom-dia é o Correio Braziliense, do qual sou assinante ainda da época do Correioweb, que me fornece uma versão digital de tipo antigo, mas muito funcional. Uso o CB como um balizador dos demais veículos da imprensa que vou visitando em série. Sua isenção na política e nas avaliações dos fatos da feroz luta ideológica lhe dão a credibilidade que um leitor sem paixões procura. Artigos profundos e bem embasados de seus colaboradores habituais complementam o que se precisa para começar o dia. Como cidadão brasiliense tenho o “plus” das coberturas dos temas locais nas seções Cidades, Diversão e Arte, entre outras.

O acreditado matutino mantém a seção Ciências em destaque, pelo menos na versão que recebo, o que já é detalhe a merecer elogio em relação aos demais que contrato. Tenho por hábito abrir todas as abas do site e tomar conhecimento, muitas vezes superficial, do conteúdo de cada uma, o que não é o caso do mencionado. Tendo dedicado a maior parte da minha vida profissional à academia – sou hoje docente aposentado da UnB – e informações sobre Ciência e Tecnologia fazem parte dos meus interesses e curiosidades, por um lado, e preocupações por outro, pois entendo ser por essa via, pelo domínio pleno desses campos, que teremos a alforria do nosso povo.

Não vou aqui dizer que o Brasil é improdutivo nesse setor, pelo contrário, nossas universidades públicas e algumas particulares, com o apoio institucional do CNPq – Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico e de fundações estaduais, cujo desempenho notável é o da paulista FAPESP – Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo, apresentam produção científica em volume apreciável. Notável são as conquistas da Embrapa, da Embraer, da Petrobras nos desenvolvimentos tecnológicos em suas áreas.

O que percebo é a pouca informação que a população recebe pelos meios de comunicação das atividades científicas e tecnológicas em geral. É verdade que para os interessados na área existem publicações e canais pagos de TV especializados, mas isso, além das limitações econômicas, só atinge os já inoculados pelo tema. Na minha visão, informações devem chegar ao público, principalmente aos jovens, pelos veículos que alcançam faixas mais largas da população. E, parece-me que é essa a intenção do Correio Braziliense com a sua secção “Ciências”. Se a intenção é boa, a realização não está à altura das tradições daquele jornal.

Esta crônica está sendo escrita em 10 de julho, antes de me definir pelo tema, dei a voltinha pelo jornal. Na parte de ciências, as últimas matérias que encontrei publicadas estão datadas de 6 a 12 de junho, portanto há sensivelmente um mês. Bateu-me a mesma pequena decepção diária ao não me deparar com matéria nova. Será que ao longo destes dias nada aconteceu no mundo que merecesse a atenção do meu jornal preferido, para que ele pudesse gerar matéria que provocasse no seu leitor interesse, curiosidade e até inquietação?

Sei que muitas vezes as informações aparecem dispersas em matérias de outras naturezas, por exemplo, agora as discussões sobre a pandemia têm posto em foco temas ligados à ciência e ao empirismo na cura de doenças. O que entendo como necessário, no entanto, é fazer com que o leitor e, portanto, a população, reflita sobre o valor da Ciência e da Tecnologia nas suas vidas e no crescimento sustentável do país.

Como capital, Brasília reúne quadros que podem subsidiar a seção Ciências do CB com maestria e atualidade. Vai sugestão concreta.: A menos de 5 km da redação do Correio está a Universidade de Brasília, uma das melhores universidades do país. Um entendimento com o Decano de Pesquisa e Pós- graduação da UnB poderá abrir as portas para colocar os leitores do CB em contato com o que está ocorrendo naquela casa, no Brasil e no mundo. E não é pouca coisa.

Cientistas, professores, alunos de pós-graduação gostam de falar do que sabem e do que estão fazendo. É só os ouvir.

Crônicas da Madrugada. Danilo Sili Borges. Brasília – Jul. 2021

danilosiliborges@gmail.com

O autor é membro da Academia Rotária de Letras do Distrito Federal – ABROL BRASÍLIA


Comentários

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