BRASIL, PARABÉNS PRA VOCÊ
Daqui a exatamente um ano e um
mês, nosso país completará 200 anos como nação soberana, após 300 como colônia
portuguesa. A relevância mostra-se não apenas pelas comemorações que certamente
estão sendo preparadas, mas pelo balanço histórico e “contábil” que essa
oportunidade propicia para que possamos medir onde estávamos em 7 de setembro
de 1822 e aonde chegaremos em 7 de setembro de 2022. Dessas reflexões deverão
surgir o autoconhecimento nacional que permitirá esboçar as grandes linhas por
onde deverá seguir a nossa sociedade em um mundo cada vez mais rápido e
disposto ao desenvolvimento científico e tecnológico.
Todos os leitores destas Crônicas
da Madrugada têm caminhado ao longo deste século (1922-2022), uns a mais,
outros a menos tempo, por suas veredas e autoestradas e visto muitas coisas,
boas e más. A pandemia e mormente o conflituoso clima político-institucional
farão com que as comemorações do Bicentenário tenham o sabor de cerveja choca. Será
um triste fim de século e um mau começo de outro!
Nações, empreendimentos e pessoas
com “baixo astral” devem procurar seus gurus, pais de santo, rezadeiras para se
positivarem. Que nossos líderes, mesmo os de caixa-dois, entendam o momento e
assumam a responsabilidade de criarem o clima adequado. “Um bom começo é meio
caminho andado”, ensinava minha sábia avó Amélia.
Dos festejos do 1º Centenário da
Independência, ouvi participantes, li registros históricos, convivi com memórias
existentes no Rio. O início do Segundo Centenário ocorreu em contexto auspicioso,
o mundo lambia as feridas deixadas pelo conflito de 1914/1918, cheio de vigor e
pretendendo longo período de paz e prosperidade. Aqui, a monarquia de 66 anos
deixou saldo positivo, o maior deles a unidade territorial. A República estava
em consolidação e se ia afirmando. Tínhamos o que mostrar ao mundo na exposição
do Centenário, inclusive nosso futuro inequívoco.
O Rio de Janeiro estava
remodelado, a cidade aliava sua beleza natural ao aprazível e moderno urbanismo,
cidade antes insalubre era agora segura pelas campanhas de vacinação promovidas
pelo Dr. Oswaldo Cruz, que convenceu a população que vacina, ciência e respeito
ao meio ambiente eram garantias contra endemias. O Rio era espelho e exemplo
para o país.
A República havia, por obra e
arte do monarquista Barão do Rio Branco, resolvido todas as pendências de
fronteiras com a Argentina, França, Bolívia e Peru, por arbitragem ou acordo,
sem disparar um tiro. A Semana de Arte Moderna em São Paulo sacudia o mundo
intelectual do país.
Para abrigar os pavilhões das
exposições dos diversos países, o Morro do Castelo no centro da cidade foi
desbastado. Delegações estrangeiras construíram prédios, alguns dos quais
existem ainda hoje.
Nascia o 2° século. Acontecimentos
mundiais e internos o balizaram. Lembremos: 2ª Guerra Mundial, Guerra Fria, Globalização.
Entre nós, 1930, Getúlio; 1946, Redemocratização; 1960, Juscelino, Brasília;
1964, Governos Militares; 1985, Redemocratização. E agora, quase 2022?
O Brasil cresceu muito. Suas
paisagens humanas, físicas e políticas alteraram-se, crescemos durante longos
períodos a taxas altíssimas, soubemos criar fluxos de ascensão social que aspirou
para cima tantos de nós, fazendo crescer a classe média, mas não soubemos,
contudo, distribuir bem a riqueza gerada. Não fomos líderes no planeta, mas
alcançamos destaques pontuais, como no setor agropecuário. Se me fosse
perguntado onde falhamos nesses dois séculos, diria que foi na educação, que
nunca foi prioridade no país e continua não sendo.
Dói sentir que faremos a
transição para o Terceiro Centenário no pior dos ambientes políticos: Defrontam-se
duas forças ideológicas ultrapassadas, de um lado, a esquerda dogmática que
aprendeu e ensina política e economia pelo catecismo dos séculos XVIII e XIX,
do outro lado, a proposta de um liberalismo de bengalas, da mesma época. Não
percebem os dogmáticos que os processos de produção mudaram e que sofrerão alterações
maiúsculas adiante. Na realidade, modelos, ambos, que ruíram há muito tempo.
Os anos que se avizinham, com a
produção cada vez mais automatizada e internacionalizada, com a predominância
da inteligência artificial, a maneira de produzir se afastará daquela pensada
na teoria marxista e, portanto, distante das consequências nela previstas. A
China com seu sucesso negocial e desenvolvimentista vem exemplificando isso. E
para não perder o passo e o espaço, as reformas e as ações de Biden também
apontam para caminhos inéditos nos Estados Unidos.
No parto do Terceiro Centenário do
Brasil soberano, suas forças vivas devem ao povo a elaboração de um projeto de
nação ágil, flexível que entenda e acompanhe um mundo cada vez em evolução mais
rápida, sem amarras ao passado ideológico-dogmático. E para isso, que o
primeiro quarto do século, seus primeiros 25 anos, sejam dedicados, com
absoluta prioridade, à educação de qualidade, ao saber, ao domínio das ciências
e das artes sem a preocupação gramscista de conquistar mentes para esta ou
aquela ideologia, mas somente para formar cabeças capazes de entender o mundo,
as ciências, as relações dos fenômenos da natureza e os humanos e para estarem
prontas para atuar, produzindo o melhor para a humanidade.
Se pensarmos que a primeira
transmissão radiofônica no Brasil foi um discurso feito pelo Presidente
Epitácio Pessoa em 7 de setembro de 1922, na Abertura do Centenário, e
compararmos com o que o mundo contempla hoje nas comunicações, podemos avaliar
a grandeza do que ocorrerá ao longo dos próximos 100 anos.
Não temos o direito à mediocridade!
Crônicas da Madrugada. Danilo
Sili Borges. Brasília – Ago. 2021
O autor é membro da Academia
Rotária de Letras do DF. ABROL - BRASÍLA
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