O TALIBAN PERDEU A GUERRA
Só ganha a guerra quem abraça a
paz.
O permanente estado de ocupação
estrangeira a que tem estado sujeito o Afeganistão e a luta entre suas facções
internas indicam uma situação distante da estabilidade política e militar. Esse
é um aspecto geopolítico que transcende o escopo da crônica e o conhecimento do
cronista. Há uma guerra que a espécie humana vem travando há milênios contra si
mesma, que está gloriosamente vencendo nos últimos tempos. Nesta, os arrojados,
mas primitivos guerreiros talibãs, lutam contra aqueles a quem se deveriam
aliar.
Restabelecer a “rota da seda” com a China, ou ter
bons acordos com a populosa e problemática Índia, ou conviver com a Rússia, a
maior das potências de 2ª categoria, não é o que vai serenar os mujahidin. O que os vizinhos pretendem é conter os talibãs
no Afeganistão, evitando que eles exportem o próprio mau humor para as
populações islâmicas de seus países.
Inadvertidamente caracterizei o
comportamento dos partidários talibãs como de “mau humor”. Acho que acertei.
Toda violência, agressividade, desumanidade tenho certeza, têm origem naquelas 8
horas, terço das 24 do dia, destinadas ao descanso, mas também às práticas
conjugais. O problema do mujahid está entre o
estender a mão para desligar a luz à hora de deitar-se e o sentar-se à mesa para
a refeição matinal. Aí é tempo do amor, do realizar e ser realizado, do dar e
receber. Não me parece que isso seja possível com as mulheres sendo tratadas
como vemos pelas imagens e relatos da mídia e da literatura.
Se me fosse dado o poder de colocar
um “jabuti” na tal lei islâmica – como se faz no colendo parlamento verde
amarelo – eu, sub-repticiamente introduziria a Lei Maria da Penha, tal como
existente no Brasil, com o tradicional “Revogam-se as disposições em contrário”.
Sei que não resolveria tudo, como aqui não resolveu, mas iria ajudar, com
certeza.
A maior, a interminável, a mais
burra das guerras é a que o Talibã impõe ao país contra as mulheres, contra
suas próprias mulheres, privando-as dos mais comezinhos direitos. Esse é assunto
por demais discutido e o espaço dessa crônica me é precioso. Um nome pode nos
trazer tudo à memória: Malala, a menina, baleada porque queria ir à escola,
hoje, Prêmio Nobel da Paz. Ao desconsiderar nos seus esforços de governar o Afeganistão,
ou até no de lutar suas guerras, 50% da inteligência da sua sociedade, o Talibã
já perdeu a guerra, qualquer guerra.
Ao chegarem a Cabul, os
guerreiros que puseram para correr o poderosíssimo exército americano
anunciaram que adotariam as mais fundamentalistas leis islâmicas.
– Impiedosos e sanguinários guerreiros, vocês conhecem
tudo de guerras, mas não sabem nada de mulheres! E por isso estão fadados à
derrota.
Pelo meu entendimento de vivente
simples, só existe mesmo uma grande lei que não nos pede licença, consenso ou
maioria para existir, a Lei da Natureza, que abrange o Universo. Sobre essa Lei,
um desses iluminados da humanidade, Einstein, refletiu: “Eu só queria conhecer
o pensamento de Deus”. Como não conhecemos, criamos leis (com inicial minúscula)
a partir dos fragmentos que vamos encontrando e descobrindo da Lei Natural. E
assim se formam as filosofias, as religiões, as ciências, toda a sabedoria
humana com sua soberba.
A refinada cultura islâmica
produziu nas artes e nas ciências belas contribuições ao longo dos séculos. A
doçura e a beleza da mulher comparecem na poesia e nos nomes que as meninas
recebem dos pais, lembrando a harmonia das flores e a doçura das frutas. Como
são comuns naquela cultura as Yasmins, as Tâmaras, as Rosas!
Dálias, Hortênsias, Azaleias, Camélias,
Violetas, Melissas, Gardênias, Margaridas foram revestidas pela natureza de uma
atratividade que poetas e cientistas perceberam ser a garantia da continuidade
das espécies. Claras, Helenas, Marcelas, Anas, Gabrielas, flores ou mulheres? Pouco
importa, se todas são as fontes perenes de onde a vida se renova.
Há aí um forte apelo sensual que
não é erótico, nem necessariamente sexual, origem na sua sublimação da
criatividade humana, senhora de todas as artes.
Os antepassados desses talibãs,
que escreveram leis tão duras contra a outra parte da humanidade sabiam da
beleza das mulheres, temiam perdê-las, tinham o mesmo sentimento do colecionador
de curiós ou canários cantadores, o de trancafiá-los em gaiolas, apropriando-se
da beleza e do canto, ainda que este seja triste ou de desesperança.
Homens talibãs, envolvam as
papoulas que crescem viçosas em seus desertos, em panos negros, escondam-lhes
toda a exuberância e vejam o que sobra delas. Além da beleza perdida não lhes
arrancarão nem o ópio, nem a heroína com que abastecem dependentes de todo o
mundo. Flores e Mulheres para exercerem toda a sua sensualidade, toda a sua
beleza, precisam ser vistas, contempladas, admiradas. Vocês escondem suas
mulheres num absurdo egoísmo, lhes extirpando a essência do ser.
Deixem que sejam livres, que
estudem, cresçam, que façam a guerra ao lado de vocês, usando a inteligência e
a coragem que elas têm, do mesmo tamanho que as suas.
Os hippies diziam “faça amor, não
faça a guerra”. Estou convencido que, para vocês, fazer guerra é muito
importante, então lhes digo: “Façam guerra com seus inimigos e amor de
qualidade, com suas mulheres”.
E dias melhores virão!
Crônicas da Madrugada. Danilo
Sili Borges. Brasília - Ago. 2021
O autor é membro da
Academia Rotária de Letras do Distrito Federal. ABROL- BRASÍLIA
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