TAL COMO HÁ 200 ANOS
Sempre há frutos a colher. A
Lavanderia da Praça tem-nos exposto roupa suja dos que ali vivem. E haja
sujeira! É preciso saber afastar o lixo das postagens podres para ler edição
interessante de “Quem é Quem”.
O ano de 1821, tal como este, foi
de apreensão para os brasileiros. Fortes pressões contra o príncipe regente Pedro
de Alcântara se sentiam. Novos personagens
surgiram no cenário, como José Bonifácio de Andrada e Silva se impuseram e
deixaram seus nomes na História. Outros se revelaram com inusitada grandeza como
a Princesa Leopoldina.
Quem mais contribuiu para a
independência do Brasil, passou incógnito, foi Napoleão Bonaparte, que ao fazer
suas tropas invadirem Portugal em 1807, pôs a Família Real e a Corte Portuguesa
a correr para se abrigar na distante colônia americana, em 1808. O Rio de
Janeiro, pachorrenta capital, ganhou logo nova dinâmica, e o Brasil, em 1815, é
elevado a condição de Reino Unido a Portugal e Algarve, deixando sua condição
colonial.
Ser a sede do reino, se fez bem
ao Brasil, fez mal a Portugal. Com a derrota de Napoleão em 1815 em Waterloo, a
antiga metrópole procura retomar sua importância. Confortavelmente instalada no
Rio, a Corte não dava mostras de querer retornar. O bem-bom se acabou com a
eclosão no Porto, em 1820, com a Revolução Constitucionalista que postulava o
fim do absolutismo, o retorno do agora Rei Dom João VI e da Corte a Portugal e do
rebaixamento do Brasil ao seu antigo status colonial.
Premido pelas exigências e em
defesa da própria coroa – num mundo que rompera com o absolutismo – Revolução
Francesa,1789, e que já namorava o sistema republicano, Estados Unidos, 1776 –,
João retorna a Portugal com sua Corte, deixando o reino do Brasil entregue à
Regência do primogênito Pedro de Alcântara.
Conta-se, que na partida, prevendo
o Brasil independente, o pai teria dito ao filho: “Pedro, ponha a Coroa sobre a
tua cabeça antes que algum aventureiro o faça.”
O risco do Brasil fora do
consórcio, sabia-o também a Corte, que exigia o retorno do príncipe para
Portugal. A permanência do Regente significava a unidade do território e era objetivo
da Corte a fragmentação do território brasileiro na conhecida estratégia do
“dividir para governar”.
Pedro vacila, mas a influência
firme da princesa Leopoldina é decisiva para sua permanência. Patriotas
brasileiros mobilizaram a opinião pública e colheram expressivo número de assinaturas
que mostraram ao Regente sua grande aceitação popular. Em 9 de Janeiro de 1822,
Pedro decide: “ .....Diga ao povo que fico”.
Mas até então não era intenção de Pedro a ruptura
com Portugal. O desenrolar dos fatos e as ameaças, inclusive militares, é que o
conduziram ao Grito do Ipiranga. Note-se aqui, já uma lição para hoje: ameaças,
destemperos, demonstrações de força podem levar a soluções indesejadas até – e
principalmente – para quem as faz!
1821 e 1822, anos de aprendizado
no caminho da soberania. Crise e oportunidade. Vultos que crescem e se perenizam
na memória e nas páginas da História, outros que desaparecem ou se inscrevem
como bufões no anedotário que fala dos chalaças e de tipos assim.
José Bonifácio de Andrada e
Silva, paulista, passou a maior parte de sua vida na Europa, formou-se em
Coimbra, da qual também foi professor, tornou-se graduado servidor do governo, o
que lhe permitiu grande experiência europeia. Só para exemplificar,
encontrava-se na França ao eclodir da Revolução Francesa. Retornou em idade já considerada avançada. Aproximou-se
da Corte e colaborou fundamentalmente com a independência. Homem de ideias modernas:
contrário à escravidão, favorável a governos constitucionais, dos primeiros a
defenderem uma capital no Planalto Central. Tal foi sua importância que lhe foi
conferido o título de Patriarca da Independência.
Maria Leopoldina da Áustria,
nascida Habsburgo, foi protagonista da Independência. Como era comum então,
casou-se por procuração com Pedro de Alcântara, príncipe herdeiro do trono do Reino
dos Bragança, que estavam no longínquo Brasil. Culta, vinda de uma das mais
nobres casas reais europeias. Enfrentou a realidade de um país tropical, de um
companheiro rude e inculto e tornou-se peça-chave nas decisões que ele tomou de
desafiar as forças portuguesas e proclamar-se imperador de território por unir e
por tudo desenvolver. O povo brasileiro, em sua agonia, aos 29 anos, ao morrer
grávida a acompanhou, sofrendo sua dor e a humilhação que então sofria.
Hoje andamos às voltas, acoitados
e temerosos pelo futuro, ameaçados pelas forças da intolerância, do ódio, da
mentira. De todas as cores.
Dividir para alcançar o Poder
satisfaz os radicais. De todas as cores. Mas impede que o país se organize em
um projeto de crescimento, que nos una pelo bem comum.
Crônicas da Madrugada. Danilo
Sili Borges. Brasília – Set. 2021
O autor é membro da Academia
Rotária de Letras do Distrito Federal. ABROL BRASÍlIA
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