TAL COMO HÁ 200 ANOS

 



Os brasileiros, temos vivido as últimas semanas sob a tensão constante do que ocorrerá no próximo dia 7 de Setembro. Ouvindo a História, comemora-se o 199º aniversário da Independência. Dando ouvido aos pronunciamentos mal-humorados, às fakenews e aos cantadores rurais teremos grossos temporais, fechando o tempo quente da sauna alimentada com o carvão da intolerância.

Sempre há frutos a colher. A Lavanderia da Praça tem-nos exposto roupa suja dos que ali vivem. E haja sujeira! É preciso saber afastar o lixo das postagens podres para ler edição interessante de “Quem é Quem”.

O ano de 1821, tal como este, foi de apreensão para os brasileiros. Fortes pressões contra o príncipe regente Pedro de Alcântara se sentiam.  Novos personagens surgiram no cenário, como José Bonifácio de Andrada e Silva se impuseram e deixaram seus nomes na História. Outros se revelaram com inusitada grandeza como a Princesa Leopoldina.

Quem mais contribuiu para a independência do Brasil, passou incógnito, foi Napoleão Bonaparte, que ao fazer suas tropas invadirem Portugal em 1807, pôs a Família Real e a Corte Portuguesa a correr para se abrigar na distante colônia americana, em 1808. O Rio de Janeiro, pachorrenta capital, ganhou logo nova dinâmica, e o Brasil, em 1815, é elevado a condição de Reino Unido a Portugal e Algarve, deixando sua condição colonial.

Ser a sede do reino, se fez bem ao Brasil, fez mal a Portugal. Com a derrota de Napoleão em 1815 em Waterloo, a antiga metrópole procura retomar sua importância. Confortavelmente instalada no Rio, a Corte não dava mostras de querer retornar. O bem-bom se acabou com a eclosão no Porto, em 1820, com a Revolução Constitucionalista que postulava o fim do absolutismo, o retorno do agora Rei Dom João VI e da Corte a Portugal e do rebaixamento do Brasil ao seu antigo status colonial.

Premido pelas exigências e em defesa da própria coroa – num mundo que rompera com o absolutismo – Revolução Francesa,1789, e que já namorava o sistema republicano, Estados Unidos, 1776 –, João retorna a Portugal com sua Corte, deixando o reino do Brasil entregue à Regência do primogênito Pedro de Alcântara.

Conta-se, que na partida, prevendo o Brasil independente, o pai teria dito ao filho: “Pedro, ponha a Coroa sobre a tua cabeça antes que algum aventureiro o faça.”

O risco do Brasil fora do consórcio, sabia-o também a Corte, que exigia o retorno do príncipe para Portugal. A permanência do Regente significava a unidade do território e era objetivo da Corte a fragmentação do território brasileiro na conhecida estratégia do “dividir para governar”.

Pedro vacila, mas a influência firme da princesa Leopoldina é decisiva para sua permanência. Patriotas brasileiros mobilizaram a opinião pública e colheram expressivo número de assinaturas que mostraram ao Regente sua grande aceitação popular. Em 9 de Janeiro de 1822, Pedro decide: “ .....Diga ao povo que fico”.

 Mas até então não era intenção de Pedro a ruptura com Portugal. O desenrolar dos fatos e as ameaças, inclusive militares, é que o conduziram ao Grito do Ipiranga. Note-se aqui, já uma lição para hoje: ameaças, destemperos, demonstrações de força podem levar a soluções indesejadas até – e principalmente – para quem as faz!

1821 e 1822, anos de aprendizado no caminho da soberania. Crise e oportunidade. Vultos que crescem e se perenizam na memória e nas páginas da História, outros que desaparecem ou se inscrevem como bufões no anedotário que fala dos chalaças e de tipos assim.

José Bonifácio de Andrada e Silva, paulista, passou a maior parte de sua vida na Europa, formou-se em Coimbra, da qual também foi professor, tornou-se graduado servidor do governo, o que lhe permitiu grande experiência europeia. Só para exemplificar, encontrava-se na França ao eclodir da Revolução Francesa.  Retornou em idade já considerada avançada. Aproximou-se da Corte e colaborou fundamentalmente com a independência. Homem de ideias modernas: contrário à escravidão, favorável a governos constitucionais, dos primeiros a defenderem uma capital no Planalto Central. Tal foi sua importância que lhe foi conferido o título de Patriarca da Independência.

Maria Leopoldina da Áustria, nascida Habsburgo, foi protagonista da Independência. Como era comum então, casou-se por procuração com Pedro de Alcântara, príncipe herdeiro do trono do Reino dos Bragança, que estavam no longínquo Brasil. Culta, vinda de uma das mais nobres casas reais europeias. Enfrentou a realidade de um país tropical, de um companheiro rude e inculto e tornou-se peça-chave nas decisões que ele tomou de desafiar as forças portuguesas e proclamar-se imperador de território por unir e por tudo desenvolver. O povo brasileiro, em sua agonia, aos 29 anos, ao morrer grávida a acompanhou, sofrendo sua dor e a humilhação que então sofria.

Hoje andamos às voltas, acoitados e temerosos pelo futuro, ameaçados pelas forças da intolerância, do ódio, da mentira. De todas as cores.

Dividir para alcançar o Poder satisfaz os radicais. De todas as cores. Mas impede que o país se organize em um projeto de crescimento, que nos una pelo bem comum.

Crônicas da Madrugada. Danilo Sili Borges. Brasília – Set. 2021

danilosiliborges@gmail.com

O autor é membro da Academia Rotária de Letras do Distrito Federal. ABROL BRASÍlIA


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