NA VELOCIDADE DO EAGLE

 



Você deve estar se perguntando o que o cronista quer dizer com essa história de Eagle. Vou esclarecer logo, Eagle é o processador quântico que a IBM apresentou esta semana ao mundo, “com 127 bits quânticos, ou qubits”. Você não está entendendo bem, nem o cronista. A imprensa internacional trouxe dados da nova tecnologia e da disputa entre os países desenvolvidos para o domínio dessa tecnologia com base na física quântica. Máquinas já existem e estão em aprimoramento e os “cachorros grandes” dessa área estão em luta ferrenha para chegarem logo ao mercado com produtos que colocarão os atuais computadores obsoletos, nada além, em pouco tempo, de peças de museu.

Se nos reportarmos aos dois últimos anos, vamos ter outros exemplos do que a ciência e seus agentes têm dado à humanidade. Avançados conhecimentos científicos caminhavam em velocidade de cruzeiro, nos laboratórios das universidades, para gerar novas tecnologias para produção de vacinas mais eficientes para doenças já conhecidas. Com a eclosão da pandemia pelo SARS-CoV-2, mobilizou-se o mundo científico e, em tempo recorde, surgiram vacinas baseadas em princípios científicos ligados à genética e de eficácia bem superior às anteriores.

O Brasil mostra-se como exemplo de êxito no controle da pandemia, pela aplicação em larga escala dessas vacinas, o que se tornou possível pela existência de um excelente sistema público de vacinação e no hábito, já centenário, da população estar esclarecida a respeito das vantagens da vacinação em massa no controle de endemias e epidemias que historicamente nos infelicitam.

Há menos de uma semana a imprensa noticiou o leilão da tecnologia “5G”, a internet de altíssima velocidade, que já está alterando profundamente todas as relações entre entidades e seres humanos, rompendo barreiras e fronteiras. Paralelamente o governo brasileiro anunciou a implantação de cabos de fibra ótica pelos rios da região amazônica, como forma de levar conhecimento e progresso às populações mais interiorizadas do país.

Com os aumentos da tarifa da eletricidade, a opção por gerar a sua própria se acentuou e a energia fotovoltaica em telhados e fachadas alcançou 7,3 GW, que somado com a solar comercial atinge 12 GW. Para permitir comparações, Itaipu produz 14 GW. A geração total de energia elétrica no país é de 180 GW, a fotovoltaica é hoje de apenas 7% do total.

Ao terminar a COP26, os presidentes dos Estados Unidos e da China, nações líderes, dialogaram em busca de soluções para a sustentabilidade da “casa comum”, avanço expressivo em relação às ameaças e acusações que se observavam em eventos similares do passado. Os atuais responsáveis não querem que a “casa” caia.

Mundo com 8 bilhões de indivíduos, boa parte sem usufruir dos benefícios que a tecnologia disponibiliza, inclusive dentro das ilhas de riquezas. Tensões que se acumularam e certamente estamos próximos, para os otimistas, de um ponto de inflexão, ou de ruptura, para os catastróficos.

O que se percebe é que os avanços tecnológicos, que cada vez mais se aceleram, trazem mais qualidade à vida humana, pressionando as estruturas políticas e econômicas, levando-as a se tornarem incapazes de lidar com a realidade atual. As teorias econômicas e político-sociais vigentes, que embasam a organização do Estado moderno foram formuladas há 2 ou 3 séculos com o advento da Revolução Industrial e da Revolução Francesa são hoje como modelitos elegantes que se vão vendo rasgados por uma realidade que se impõe com velocidade estonteante. Modos econômicos de produção como o adotado pela China, fora dos cânones marxistas e a própria proposta socializante (ainda modesta, mas a possível no contexto daquela sociedade) do governo Biden apontam na direção de grandes revisões e reformas. Tudo ainda tímido, em presença do que necessariamente terá que ser feito para nos acomodar, a todos, com conforto e segurança, nesta “casa comum”.

Que as lideranças menores percebam o estágio histórico que estamos vivendo, não insistam no passado, ele fatalmente não voltará. As regiões periféricas, como é o caso do Brasil, devem se situar e procurar entender por onde caminhará a história. Ignorar a ciência e a tecnologia não evitará que sejamos impactados, mas a um custo muito elevado. A melhor estratégia é não ser atropelado.

Preparar nossas populações para a transição que está ocorrendo sob nossos olhos é ação patriótica. Isso deve-se fazer principalmente na escola, junto aos jovens, preparando-os para o futuro próximo e para o presente, que está a morder nossos calcanhares, e não tentando amarrá-los a um passado que teima, a cada dia, se tornar ainda mais obsoleto.

 Os modelos de produção vigentes faliram, um por se mostrar concentrador de riquezas, não conduzir à sustentabilidade ambiental e ser excludente em sua natureza, o outro, que pela ineficiência comprovada não chegou a se mostrar alternativa válida no mundo em rápidas transformações tecnológicas e por não mobilizar o melhor das potencialidades individuais.

Os avanços da ciência e da tecnologia tornaram fora de propósito essas filosofias e teorias, e estão sendo delas o carrasco. Deles também virão os impulsos e as diretrizes para o pensamento inovador dos novos pactos da convivência humana.

O Brasil terá eleições em breve, a polarização que há muito se observa no nosso ambiente político, sem que discutamos um projeto de nação para o mundo que se vai impondo, possivelmente nos levará a discutir sobre dois cadáveres ideológicos insepultos. Um erro de perspectiva!

Crônicas da Madrugada. Danilo Sili Borges. Brasília – Nov.2021

danilosiliborges@gmail.com

O autor é membro da Academia Rotária de Letras do DF. ABROL BRASÍLIA


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