NA VELOCIDADE DO EAGLE
Se nos reportarmos aos dois
últimos anos, vamos ter outros exemplos do que a ciência e seus agentes têm
dado à humanidade. Avançados conhecimentos científicos caminhavam em velocidade
de cruzeiro, nos laboratórios das universidades, para gerar novas tecnologias
para produção de vacinas mais eficientes para doenças já conhecidas. Com a
eclosão da pandemia pelo SARS-CoV-2, mobilizou-se o mundo científico e, em
tempo recorde, surgiram vacinas baseadas em princípios científicos ligados à
genética e de eficácia bem superior às anteriores.
O Brasil mostra-se como exemplo de
êxito no controle da pandemia, pela aplicação em larga escala dessas vacinas, o
que se tornou possível pela existência de um excelente sistema público de
vacinação e no hábito, já centenário, da população estar esclarecida a respeito
das vantagens da vacinação em massa no controle de endemias e epidemias que
historicamente nos infelicitam.
Há menos de uma semana a imprensa
noticiou o leilão da tecnologia “5G”, a internet de altíssima velocidade, que
já está alterando profundamente todas as relações entre entidades e seres
humanos, rompendo barreiras e fronteiras. Paralelamente o governo brasileiro
anunciou a implantação de cabos de fibra ótica pelos rios da região amazônica,
como forma de levar conhecimento e progresso às populações mais interiorizadas
do país.
Com os aumentos da tarifa da eletricidade,
a opção por gerar a sua própria se acentuou e a energia fotovoltaica em
telhados e fachadas alcançou 7,3 GW, que somado com a solar comercial atinge 12
GW. Para permitir comparações, Itaipu produz 14 GW. A geração total de energia elétrica
no país é de 180 GW, a fotovoltaica é hoje de apenas 7% do total.
Ao terminar a COP26, os
presidentes dos Estados Unidos e da China, nações líderes, dialogaram em busca
de soluções para a sustentabilidade da “casa comum”, avanço expressivo em
relação às ameaças e acusações que se observavam em eventos similares do
passado. Os atuais responsáveis não querem que a “casa” caia.
Mundo com 8 bilhões de indivíduos,
boa parte sem usufruir dos benefícios que a tecnologia disponibiliza, inclusive
dentro das ilhas de riquezas. Tensões que se acumularam e certamente estamos
próximos, para os otimistas, de um ponto de inflexão, ou de ruptura, para os
catastróficos.
O que se
percebe é que os avanços tecnológicos, que cada vez mais se aceleram, trazem
mais qualidade à vida humana, pressionando as estruturas políticas e econômicas,
levando-as a se tornarem incapazes de lidar com a realidade atual. As teorias econômicas
e político-sociais vigentes, que embasam a organização do Estado moderno foram
formuladas há 2 ou 3 séculos com o advento da Revolução Industrial e da Revolução
Francesa são hoje como modelitos elegantes que se vão vendo rasgados por uma
realidade que se impõe com velocidade estonteante. Modos econômicos de produção
como o adotado pela China, fora dos cânones marxistas e a própria proposta
socializante (ainda modesta, mas a possível no contexto daquela sociedade) do
governo Biden apontam na direção de grandes revisões e reformas. Tudo ainda
tímido, em presença do que necessariamente terá que ser feito para nos acomodar,
a todos, com conforto e segurança, nesta “casa comum”.
Que as lideranças menores
percebam o estágio histórico que estamos vivendo, não insistam no passado, ele
fatalmente não voltará. As regiões periféricas, como é o caso do Brasil, devem
se situar e procurar entender por onde caminhará a história. Ignorar a ciência
e a tecnologia não evitará que sejamos impactados, mas a um custo muito
elevado. A melhor estratégia é não ser atropelado.
Preparar nossas populações para a
transição que está ocorrendo sob nossos olhos é ação patriótica. Isso deve-se
fazer principalmente na escola, junto aos jovens, preparando-os para o futuro
próximo e para o presente, que está a morder nossos calcanhares, e não tentando
amarrá-los a um passado que teima, a cada dia, se tornar ainda mais obsoleto.
Os modelos de produção vigentes faliram, um
por se mostrar concentrador de riquezas, não conduzir à sustentabilidade ambiental
e ser excludente em sua natureza, o outro, que pela ineficiência comprovada não
chegou a se mostrar alternativa válida no mundo em rápidas transformações tecnológicas
e por não mobilizar o melhor das potencialidades individuais.
Os avanços da ciência e da
tecnologia tornaram fora de propósito essas filosofias e teorias, e estão sendo
delas o carrasco. Deles também virão os impulsos e as diretrizes para o
pensamento inovador dos novos pactos da convivência humana.
O Brasil terá eleições em breve, a
polarização que há muito se observa no nosso ambiente político, sem que discutamos
um projeto de nação para o mundo que se vai impondo, possivelmente nos levará a
discutir sobre dois cadáveres ideológicos insepultos. Um erro de perspectiva!
Crônicas da Madrugada. Danilo
Sili Borges. Brasília – Nov.2021
O autor é membro da
Academia Rotária de Letras do DF. ABROL BRASÍLIA
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