CREDIBILIDADE É QUASE TUDO

 



Premido pela incoerência entre discurso e ações, um presidente da república, pediu que esquecêssemos tudo o que ele tinha escrito na sua longa vida acadêmica.

Ainda no governo, justificando atos lastreados em maus princípios de conduta moral, em certa altura ele declarou: “O governo é aético”.

Ao se despedir de seu segundo mandato, sua aceitação popular era baixíssima e o partido do qual ele é um dos líderes nunca mais retornou à Presidência e hoje passa por crise de identidade que ameaça sua sobrevivência entre as grandes siglas.

“Credibilidade é o que faz com que alguém (ou alguma coisa) mereça ser acreditado”, ensina um bom dicionário.

Atribuído a Abraham Lincoln, o conceito abaixo anda meio esquecido dos nossos meios políticos, jurídicos e da própria mídia, provavelmente por acreditarem que no mundo da comunicação instantânea seja possível contorná-lo:

“Pode-se enganar a todos por algum tempo; pode-se enganar alguns por todo o tempo; mas não se pode enganar a todos todo o tempo.”

Por aqui, para tentar superar esse aforisma universal, trocam-se periodicamente os enganadores. Os mesmos enganados embarcam, cheios de confiança, em novas canoas furadas, pintadas de cores variadas, festivamente ornadas com flâmulas, que vão do vermelho-havana, passam pelo azul-arara, e chegam ao futebolístico amarelo-seleção.

Vi nesta semana, ladrão confesso de dinheiro público, com a agravante do crime ter sido cometido quando era Ministro de Estado, ter as provas do seu crime (ou crimes), contrariando o senso comum, anuladas pelo STF, mesmo após o produto do roubo ter sido devolvido. Certamente a “grana” lhe será reposta, por incrível que pareça, sem provas não houve crime, com juros, correção monetária, pedido de desculpas e ainda lhe caberá alguma ação indenizatória contra o Estado brasileiro.

A História jurídica brasileira é plena de exemplos de profissionais altivos, magistrados ou não. Eu me pergunto se aqueles que militam nos tribunais, já se deram ao prazer de ler sobre a vida e a conduta grandiosa do advogado Heráclito Sobral Pinto. Principalmente os mais jovens. Inspirem-se.

Estou trazendo neste texto exemplos que me são caros, a mim. Cada um têm ou deve ter seus ídolos. Outros além da Anitta. São milhares de vultos que têm pontuado nossa história com exemplos de grandeza, e é preciso revivê-los no altar da ressurgência. A Pátria está a correr perigo de desagregação por podridão moral.

Aos empresários, aos empreendedores, aos que se dizem adeptos da livre iniciativa leiam a obra de Jorge Caldeira, Mauá - Empresário do Império, que conta a vida de Irineu Evangelista de Sousa, o Barão de Mauá, e o tomem por modelo nos negócios e na conduta moral, que em todos os momentos de sua incrível vida de negócios manteve intacta sua credibilidade, seu maior patrimônio.

Aos que, a um só tempo, são políticos, homens de governo e empreendedores, conheçam o Engenheiro Paulo de Frontin,  que, no derradeiro ano do Império, abasteceu de água, em 6 dias, o sedento e pestilento Rio de Janeiro. Empresário pioneiro no ramo das ferrovias, Senador, renomado professor e líder profissional.

Inspirem-se no Barão do Rio Branco, Juca Paranhos, que, monarquista, doou sua competência à República e garantiu ao Brasil suas melhores fronteiras sem disparar um tiro, sem fazer um inimigo.

Nesta época de pandemia, em que ainda se contestam as vacinas, nos acostumamos a ver heróis de aventais brancos salvando vidas. Seu patrono é o grande médico Oswaldo Cruz, que dá nome ao competente Instituto FIOCRUZ.

Acompanho a aprovação da PEC do Calote, que sob o pretexto humanitário e justo de prestar auxílio a parcela considerável da população nacional, propõe o não pagamento de dívidas do governo há muito vencidas. Ninguém duvida, a PEC é eleitoreira. Com os precatórios vincendos criar-se-á uma bola de neve e é previsível um futuro calote de proporções inimagináveis. Adeus credibilidade. Falar em grandes investimentos para 2022, como tenho ouvido, é capítulo do livro a ser escrito pelo Guedes, “Me engana, que eu gosto”.

Rompem-se tetos, desrespeitam-se as faixas definidas para a inflação que orientava o planejamento de famílias e empresas, despesas sem previsão de receitas, tarifas de energia e preço da gasolina em descontrole.  Culpados sempre dólar e árabes. PIB que não cresce e que não tem previsão de crescimento, num V, que ninguém V.

O leitor poderá pensar que estou escrevendo contra o atual governo, não. Também a respeito dele, mas vejo a crise como sistêmica e antiga. A crise brasileira é moral e o único remédio que entendo viável é a busca da credibilidade. E o momento certo para começar a aplicá-lo é na campanha eleitoral que já está correndo solta.

Os candidatos devem ser levados a estabelecerem um pacto de alto nível, pressionados pelos segmentos da mídia, das corporações laborais e empresariais que os apoiam para colocarem as campanhas em nível de programas e projetos.

Nunca nosso povo dependeu tanto do bom senso dos que pretendem governá-lo para restaurar a credibilidade no que é público, e somente a Sociedade Civil pode levá-los a isso.

A desagregação da ordem econômica, moral, jurídica, o desânimo da população com o futuro da nação põem em risco a integridade nacional. É preciso reverter este quadro o quanto antes, dentro de uma moldura de normalidade democrática. Não dá para deixar, “para ver como é que fica”, ou muito menos, “deixar chegar no fundo do poço para a gente intervir”.

Crônicas da Madrugada. Danilo Sili Borges. Brasília – Dez.2021

danilosiliborges@gmail.com

O autor é membro da Academia Rotária de Letras do DF. ABROL BRASÍLA


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