EM 2022, ELEIÇÕES E O 2º CENTENÁRIO
“O Brasil não tem jeito”. Tenho
ouvido cada vez com maior frequência essa desanimada e desanimadora afirmação,
emitida por gente que já viveu fases melhores e por jovens a quem parece que o
futuro não lhes pertence.
Ao completar o primeiro
centenário da independência – o país esteve 67 anos sob monarquia
constitucional e 33 em regime republicano –, o país via-se então aos 100 anos
fora do jugo da metrópole portuguesa. Pelos registros históricos e pelos
depoimentos de meu pai, tios e avós fiquei sabendo da grandiosidade daquela
efeméride. Revoltas e guerras, crises políticas, mudança de regime nada tirou a
confiança no porvir. Penso que o epíteto “Brasil, país do futuro” tenha sido
cunhado, como título do livro de autoria do escritor austríaco, de origem
judaica, Stefan Zweig, somente em 1942.
Em 7 de setembro próximo, se
completará o segundo século do Brasil independente. A proximidade das eleições
talvez não propicie o melhor clima para os festejos. A clivagem a que a
sociedade brasileira tem sido submetida nas últimas décadas é que não tem
permitido que vejamos com clareza por onde superar os óbices normais ao desenvolvimento
de qualquer comunidade humana. Um desserviço que políticos inconsequentes têm
prestado à Nação.
De maneira jocosa, responderia,
se me fosse perguntado, quais os desastres estratégicos destes últimos 100
anos, que nos levaram à situação em que estamos hoje:
Para ser simplório e começar uma
discussão, eu diria: “Na escola, o melhor é a merenda e, em segundo lugar, que
preferimos ônibus ao trem. Claro, que essas decisões não foram individuais, mas
políticas.
A implantação das primeiras
ferrovias deveu-se a Irineu Evangelista de Sousa, o Barão de Mauá, outros
brasileiros lhe seguiram na tentativa do óbvio, prover o país de meio de
transporte seguro e rápido que permitisse a ligação econômica do interior aos
grandes centros e aos portos. Empresas estrangeiras (inglesas) instalaram-se
para explorar o aparentemente frutuoso negócio. A visão estatal distorcida acabou
por inviabilizá-lo para a iniciativa privada. Ao assumi-lo, o governo suprimiu
o que entendeu serem ramais deficitários, levou à bancarrota dezenas, talvez
centenas, de localidades no interior e pôs a nocaute o modal ferroviário, até
hoje estendido na lona da incompetência.
Deixamos os trens e passamos a
circular por automóveis, ônibus e caminhões. A opção rodoviária correta para o
curto prazo, dos anos JK – pressa, menores investimentos estatais – gerou
empregos, impostos e industrialização, mas, ao não ser corrigida, nos deixou,
até hoje, com as calças na mão, na beira da estrada, pagando altos pedágios e
altas tarifas por tonelada transportada.
Durante largo período, os
governos entenderam a importância da educação primária (fundamental) pública,
responsabilidade dos municípios que cumpriam a obrigação com denodo,
valorizando as professoras, formadas nos cursos normais e com prestígio social
nas comunidades, ainda que com baixa remuneração. Os Grupos Escolares cumpriam a
missão nesse primeiro estágio. Professoras leigas tentavam suprir deficiências
no interior. Era um modelo a ser melhorado. Sucessivas reformas do ensino
acabaram por desmantelar o pouco que funcionava bem sem nada colocar no lugar. Hoje,
o ensino público inicial é medíocre e a primeira providência dos pais é levar
os filhos para escolas particulares.
A desvalorização dos
profissionais dedicados ao ensino, em todos os níveis, tem sido a tônica, desde
o status social, ao salário minguado. Ensino e educação são vistos como despesas
e como tal estão na mira para sofrerem cortes. Se fossem entendidos como
investimentos de médio e longo prazo – de 20 anos para mais – a visão dos
planejadores seria a de buscar maiores retornos. Mas para isso teríamos que ser
governados por estadistas!
Como a se penitenciar desse
descalabro, alguns governos constroem prédios, inauguram universidades e
escolas. Mas o conhecimento está na cabeça das pessoas. Resultados virão dando-lhes
oportunidades, valorizando-as material e socialmente. Somente cabeças bem-preparadas
formarão cabeças bem-preparadas. Daí começaremos bem o terceiro século da
independência. Tão simples como isso. Quem bancará?
Tema, necessariamente, em
discussão será a condução da política externa. Ter posicionamento claro em
relação às forças que jogam as grandes partidas do poder mundial, e mesmo na América
Latina, é primordial. Precisamos saber o que cada candidato tem na cabeça. Meio
ambiente sempre em tela.
A esquerda dará continuidade ao
que se viu no Fórum de São Paulo, que em linhas gerais procura fortalecer e
implantar governos socialistas na América Latina, o que explica os
investimentos, a fundo perdido, que o Brasil fez em países de governo de
esquerda, como modo de consolidá-los e de marcar a liderança brasileira, visando
a criação de uma União de Repúblicas Socialistas. É verdade que historicamente
a postura entendida como expansionista do Brasil gera temor nos vizinhos, não
sem motivos.
Candidatos mais à direita deverão
explicar seus possíveis posicionamentos frente aos contenciosos comerciais com
a União Europeia, com o comércio com a China e com os Estados Unidos nas
hipóteses da continuidade do segundo mandato de Biden ou do retorno dos
Republicanos à Casa Branca.
Cabe explicar, que na atualidade,
o expansionismo é muito mais ideológico e comercial e no mundo atual o avanço
sobre territórios só se vê em situações esporádicas, como no Oriente Médio e na
relação entre a Rússia e os antigos parceiros da URSS.
Ao eleitor consciente, que é
também formador de opinião, cabe ler as entrelinhas para ver em que mato está entrando.
Crônicas da Madrugada. Danilo
Sili Borges. Brasília – dez. 2021
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