E AS REFORMAS? QUE REFORMAS?
Isso, à primeira
vista, pode parecer um grande prejuízo, mas talvez não venha a ser, pelo
contrário. Os pontos de vista do ministro sobre o funcionalismo público, sempre
largamente expostos, levaram a crer que a máquina administrativa do Estado
seria desmontada para em seu lugar tentar criar-se um simulacro das
organizações do setor privado, origem da autoridade reformista. Diga-se de
passagem, que visita ao currículo da citada autoridade nada mostra como ele
tendo sido executivo protagonista dos setores da atividade privada dedicados à
produção de riquezas. Sua vivência nessa atividade, deu-se sempre no mercado
financeiro e com peculiaridades.
S.Exa. nunca
percebeu que os maiores problemas da administração pública estão nas funções de
confiança serem ocupadas por indicações de políticos, nos acordos
“toma-lá-dá-cá”, por escolhas “a dedo”, estranhas aos quadros permanentes.
Frustrada a reforma administrativa, certamente, fomos salvos de outra
catástrofe.
Quanto à reforma
tributária, uma simples consulta aos lucros anuais das empresas,
classificando-as por setor de atividades, mostrará que nada é tão lucrativo
quanto os bancos. A classe média brasileira sabe o que custam o cartão de
crédito, o cheque garantido e as taxas cobradas dos correntistas. O segmento
industrial perde espaço no PIB, o de serviços depende da massa salarial,
minguante a cada ano. A agropecuária, que mantém o país de pé, é principalmente
financiada pelos bancos oficiais.
Reformas
tributárias devem redistribuir o peso a suportar do orçamento público pelos diversos
agentes e segmentos da economia, sem privilégios e incentivando os efetivamente
eficazes. Não é tarefa para banqueiro conduzi-la. Salvos outra vez?
Piadistas
pessimistas dizem, frente à longa agonia que o Brasil – e os brasileiros – vêm
passando por décadas, que a melhor reforma seria mesmo a da Cobertura. Isto é,
uma vez que o nossa terra foi descoberta por Cabral, que voltemos a cobri-la,
com o manto da vergonha, sobre tudo como está atualmente, até o que foi
desenvolvido nestes 200 anos de independência (e não foi pouco), incluindo o
povo magnífico, capaz de sacrifícios intermináveis e, bem coberta, a devolvamos
à metrópole portuguesa, com uma carta assinada pelos nossos “estadistas”, com o
pedido de desculpas por não termos sido
capazes de alimentar, criar empregos, viabilizar saúde e educação aos nossos
concidadãos, nesta terra em que há 522 anos, o escrivão de frota, Pero Vaz de Caminha, que, por aqui, em poucos
dias, percebeu e notificou ao Rei Dom Manuel, o Venturoso, as potencialidades
da terra.
A operação
“Recobrimento” pouparia o esforço que muitas famílias brasileiras vêm fazendo
para emigrar para Portugal, invertendo secular fluxo migratório que trouxe
nossos avós para esta terra, então da esperança, quando lá se dizia que aqui
era a “terra das árvores das patacas” (pataca era antiga moeda portuguesa), que
bastava sacudi-las e recolher no chão a fortuna imediata.
Portugal
atravessa boa fase econômica e social e recebe bem os precursores do
Recobrimento, que entre outras coisas colaboram para manter estáveis os
declinantes parâmetros demográficos daquele país, fenômeno comum em modernas
nações europeias.
Incluindo-se a
Constituição de 1824, primeira do Brasil independente, a que contou na sua
elaboração com a mais ampla participação popular foi a de 1988, promulgada após
longo período de exceção. Democrática, igualitária, cidadã, como a classificou
seu principal mentor, o deputado Ulisses Guimarães, a Carta sob a qual vivemos
foi sendo alterada, deturpada por interesses vários, particulares e
corporativos, alguns, e por interpretações ocasionais e de interesse de
temporalidade curta, para acomodar situações não mais que políticas, pelos
tribunais superiores, mas que se inscreveram na jurisprudência, tornando-as
definitivas.
Para que
reformas deem certo – a Administrativa, a Tributária e quaisquer outras com
menor cotação na Praça – é necessário, antes de mais nada, a Reforma da
Política no seu sentido mais amplo, pois ela deve abranger toda a administração
pública, incluindo judiciário, executivo, justiça, forças armadas, em todos os
níveis.
Um único
objetivo deve ser colimado: o respeito dos cidadãos às suas instituições e isso
passa necessariamente pelo bom conceito, admiração e confiança do povo nos seus
dirigentes, nos seus representantes, nos seus soldados, nos seus juízes.
Privilégios,
sinecuras, fóruns privilegiados, aposentadorias esdrúxulas de parlamentares,
planos de saúde só comparáveis aos de xeiques de emirados do petróleo,
presidentes da República e outras autoridades com seus cartões de crédito,
moradias em palácios como se fossem reis, diárias absurdas têm que desaparecer.
Pretende-se:
Justiça efetiva, confiável, sem “nós e eles”, sem os artifícios dos chamados
vícios processuais para anular investigações; Redução do número de parlamentares,
redução de suas presenças em Brasília; Parlamentos com pautas curtas e claras.
Adeus aos jabutis; Redução do número de partidos políticos, quem quiser fazer
negócios abra uma padaria ou um mercadinho.
Em suma,
seriedade! As opções são poucas. Continuar como está não vai durar muito e o
barco vai acabar virando, há os que apostam e querem isso. São os pescadores de
águas turvas, ideológicos do quanto pior melhor. Há os que pensam no poder e
nos frutos que lhes possam proporcionar, ainda que ilícitos. E disso tivemos
tantas experiências. Há os que desistem e dizem entre dentes: “o Brasil não tem
jeito” e há a opção de levar o país na galhofa: “Cubra, peça desculpas e
devolva para Portugal”.
Crônicas da
Madrugada. Danilo Sili Borges. Brasília – jan.2022
O
autor é membro da Academia Rotária de Letras do DF. ABROL BRASÍLIA
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