O QUÊ VAI MUDAR EM 2022?
Ao picotar o
tempo, os humanos criaram o futuro e inventaram a esperança.
Aos 25 anos, aportei em Brasília,
em março de 1967, para ser assistente do Prof. Aderson Moreira da Rocha, este
incumbido pela UnB de instituir seus cursos de engenharia. A Universidade
buscava excelência na implantação da nova faculdade, para superar crise
política que sobre ela se abatera. Com a construção de Brasília em tempo
recorde, a interiorização do desenvolvimento, o programa rodoviário cujo ícone
era a Belém-Brasília, a industrialização e a construção de barragens para
produzir a energia para o desenvolvimento a engenharia estava em alta. As
escolas deveriam formar profissionais para a produção da riqueza, da economia
real, aprendendo com quem sabia fazer isso. Aderson reuniu para orientar as
diversas especialidades os melhores profissionais-professores existentes na
época, tanto para a Engenharia Civil, quanto para a Mecânica e a Elétrica. Os
que conheciam das ciências e dos canteiros de obras, dos laboratórios e do chão
das fábricas. Esses convocavam jovens que julgavam talentosos para virem em
caráter permanente.
Alinhavo tudo isso para falar da
transição do ano de 1967 para 1968, minha primeira passagem de ano em Brasília.
Naquela época, após a segunda
quinzena de dezembro, a cidade constituída de jovens esvaziava. Todos queriam passar
as festas nas cidades de origem. Zélia e eu resolvemos ficar. A nossa gravidez
ia pelo meio, com enjoos e indisposições. Sós, recebemos, de bom grado, o
convite do colega engenheiro Miguel Zwi, para passarmos o festejo da transição de
67 para 68 com sua família. O saudoso amigo era naquela altura importante
profissional da Hidroservice, conceituada empresa do Professor Theophilo
Othoni, que o deslocou para atender aqui o programa da UnB e demandas
empresariais.
Miguel esteve conosco por dois ou
três anos e foi logo requisitado para atividades fora de Brasília. Ao passar dos anos, seu nome ficou inscrito
entre os melhores de sua especialidade no panteão dos grandes engenheiros
brasileiros. Sempre professor e engenheiro de projetos e obras, uma atividade
alimentando a outra, como deve ser. Um dia, os responsáveis pela educação dos
engenheiros brasileiros vão entender essa obviedade.
Trago o contexto, para relatar o
episódio que anualmente, durante todas essas décadas, me faz lembrar aquela
passagem de ano. Reunidos na sala ampla do apartamento da SQS 305, aguardávamos,
degustando vinho e as maravilhas que Dona Mimi havia produzido, penso que da
tradição judaica para ocasiões festivas. Janelas abertas ouvíamos músicas e
conversas e risos dos apartamos vizinhos, clima de festa na espera da troca de
ano. Os meninos mais velhos filhos do casal estavam agitados, a todo momento
chegavam à janela, perscrutavam os céus, davam-se conta de foguetes esporádicos.
Nos minutos que antecederam meia-noite, os garotos ocuparam a janela, atentos,
aquela era a primeira vez que passavam acordados a transição. Vivas! Abraços!
Os melhores desejos e pensamentos positivos para o bebê que na barriga de Zélia
estava a crescer.
Acabadas as efusividades,
observei a expressão de decepção do menino mais velho, então, com uns 7 anos. “Não
vi nada, não mudou nada, não aconteceu nada. Está tudo igual”. Devido à
expectativa criada pela mídia e por todos nós, a simplicidade do jovem esperava
uma marcação cósmica, universal do evento, por exemplo, o aparecimento precoce
do sol, ou a explosão de uma estrela, por pequena que fosse, mas nada, era
muito sem graça e no seu entender, incompreensível.
Os humanos aprenderam a picotar o
tempo para acompanhar a sazonalidade e se anteciparem aos cuidados necessários à
própria proteção, mas ao criar o futuro, inventaram a esperança e a dizer “dias
melhores virão”.
E daí, tornaram-se exímios em manipularem
expectativas.
“A era dos combustíveis fósseis está com os
dias contados, daqui para a frente só energia limpa”. Os presidentes, afirmam que
em 10 anos “só carros elétricos em nossas ruas”. Mas há coisas que não dizem,
ou porque não sabem, ou porque sabem e não querem contar. Como vão produzir a
eletricidade para essa demanda? O que se conhece como energia limpa hidroelétrica,
eólica e fotovoltaica serão insuficientes, a primeira por ter suas fontes praticamente
exauridas e as outras por limitações tecnológicas. Há então uma limitação a ser
vencida. O que está na prancheta dos planejadores e ainda não largamente
divulgado?
Com a tecnologia atualmente
disponível como movimentar os grandes navios e seus containers, sem os
combustíveis derivados do petróleo? E as aeronaves que ligam todos os pontos do
planeta em horas?
Na segunda metade do século XX, admitia-se
que a produção de energia elétrica se faria pelas grandes centrais nucleares. O
problema então era o lixo radioativo gerado, que não se resolvia, mas que se
empurrava para as gerações futuras. Acidentes de grandes proporções interromperam
o entusiasmo dessa solução, que agora volta a pauta, com usinas de porte
pequeno, mais baratas, mas que não eliminam os problemas de segurança e do
destino dos rejeitos radioativos. Bill Gates é um dos promotores dessa solução
e afirma: ”Seremos capazes de construir usinas a prova de erros de qualquer
imbecil”, atribuindo os acidentes pretéritos a erros humanos. Engenheiros sabemos
que não há obras com 100% de segurança. No caso de usinas nucleares, acidentes
sempre serão grandes catástrofes.
Interesses poderosos pretendem
classificar a energia nuclear como forma de energia limpa.
“Se correr, o bicho pega...”
Crônicas da Madrugada. Danilo
Sili Borges. Brasília – Jan.2022
O autor é membro da
Academia Rotária de Letras do DF. ABROL BRASÍLIA
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