PUTIN CHAMOU PRO PAU, QUEM VAI?

Confiante de que Putin havia aceitado os conselhos do nosso capitão-presidente sobre as inconveniências de começar uma guerra com a Ucrânia, já estava com as ideias arrumadas para trazer aos leitores considerações sobre este segundo ano sem carnaval. Nos últimos tempos, tenho me limitado a assistir pela TV os festejos dos alegres dias do Rei Momo. Das Escolas de Samba, aprecio mesmo os sambas-enredo, o espetáculo em si, não me diz muita coisa. É um carnaval enlatado, produzido por técnicos de teatro, para turistas em camarotes e arquibancadas.

Cronistas existem para falar dos acontecimentos mais relevantes do momento que se está vivendo. Do dia a dia. Do que é bom, do que dói, do que preocupa.  Ainda na adolescência, desde que comecei a ter entendimento crítico do que lia, passei a ser assíduo leitor de crônicas, no período áureo do estilo, quando pontificavam nos jornas cariocas os conhecidos cronistas mineiros e tantos outros talentosos escritores que dedicavam parte do seu tempo ao cotidiano.

Durante muito tempo entendi que a crônica tinha o mesmo “tempo de prateleira” que o pão francês, isto é, deveria ser consumida, enquanto o assunto estava quente. Com o amadurecimento, percebi que dentre as fontes primárias que os historiadores consultam, as primeiras deveriam ser as crônicas, que funcionariam como o velhíssimo slogan do radiofônico “Repórter Esso”: “A Testemunha Ocular da História”, que lhes permitiria, “sentir” a opinião dos viventes enquanto o fato estava em discussão.

Na última quinta-feira, 24, o mundo acordou com o eco das bombas russas em solo ucraniano. Putin tinha determinado a invasão daquele país. Do meu ponto de vista são irrelevantes as razões apresentadas pelo moderno Czar. Não vou aqui discuti-las.

Mal começadas as ações militares, o líder russo fez uma advertência aos que porventura pretendessem ajudar à agredida Ucrânia, algo do tipo: “Isso é uma questão de família, quem vier se meter aqui, vai sofrer consequências nunca vistas nas histórias das guerras”.

Tive a atenção despertada para a desproporção das forças militares dos invasores para a capacidade de defesa demonstrada pelos ucranianos, que, aliás, não provocaram a hecatombe. O massacre perpetrado traz em si mesmo um recado, não à Ucrânia, já batida “a priori” e sem com quem contar em seu auxílio. Mas a futuros adversários do poderio da repaginada Rússia.

A humilhação sofrida ao longo de eventos históricos, pode enterrar em solo fértil a semente da desforra, da vingança e da recuperação do que foi perdido. De uma semente assim nasceu, cultivada por Hitler, a 2ª Guerra. O desmantelamento da URSS, foi humilhação para a Rússia que a liderava, ainda que fosse alforria para outros povos, por ela conduzidos a ferro e fogo.

Tendo em vista não ter havido por parte da Ucrânia ameaça, ou ação concreta contra a Rússia e ainda assim estar sofrendo invasão total em seu território – do qual, em 2014, lhe  havia sido amputada a Criméia - sou levado a admitir a hipótese feita por inúmeros analistas de que a intenção do Czar Wladimir é a de restaurar o antigo império territorial ocupado pela URSS, sem, no entanto, fazer renascer a ideologia socialista que se mostrou econômica e socialmente ineficiente, mas para ter sob seu controle o antigo império.

A Rússia está se lixando para as ameaças de retaliações que lhe têm sido feitas pela OTAN e pelo velho Biden. Não serão sansões econômicas que o irão intimidar.

Um novo tempo nas relações das forças mundiais está surgindo. Há os que temem um agravamento que possa chegar a um confronto nuclear.  O mais provável, no entanto, são os arreganhos, como os da Guerra Fria.

Rússia e China, pondo de lado antigas pendências territoriais, recentemente firmaram amplo acordo de cooperação o que indica o mundo caminhando para um modelo multipolar, o que de um certo modo pode ser bom para a periferia, se tivermos líderes que saibam andar no fio da navalha.

Esse acordo estratégico imobilizou as forças lideradas pelos Estados Unidos a uma reação imediata no caso da agressão à Ucrânia. A justificativa da OTAN e a do próprio governo americano de não poderem agir por falta de amparo legal – não ser o país invadido membro do tratado – não convence frente à agressão perpetrada contra à Ucrânia, sem motivo plausível.

Ocorre-me agora a dúvida: Como agirão os Estados Unidos e seus aliados se, em tempo breve, a China invadir, para se apropriar de Taiwan, território que entende ser seu?

Paro, vou preparar um café forte, desses de cápsula, precifico-o em dólar, um absurdo. Já é noite e amanhã tenho que distribuir este texto. No isolamento do meu sótão, recebo informações nada privilegiadas. Junto pedaços. Construo narrativas (expressão da moda) que pretendo que a realidade acompanhe.

Nos esportes, nos negócios, na política, e nas guerras, principalmente nestas, a liderança é fator preponderante. Declaro publicamente que não gosto de Wladimir Putin, da sua natureza autocrática, do seu modo desumano de ser. Mas percebo que não há, no momento, na chefia das grandes nações nenhum líder a altura dele, com a sua audácia, para competir com ele, para aceitar os desafios que ele está colocando ao mundo.

A Rússia está cercada de bases da OTAN. Putin é um estrategista, um jogador arrojado que está confiando na tibieza dos líderes que se lhe opõem. O jogo está feito!

Alguém vai pagar para ver?

Crônicas da Madrugada. Danilo Sili Borges. Brasília – Fev. 2022

danilosiliborges@gmail.com

O autor é membro da Academia Rotária de Letras do DF. ABROL BRASÍLIA

 

Comentários

  1. Li com atenção merecida por um Confrade e Companheiro em Rotary. Estou certo de que a Humanidade se vê diante do desafio de se perguntar: Como manter a paz entre as Nações. Estou certo, também, de que nós, Rotarianos, precisamos atuar no sentido de construi-la com nossas reflexões e ações. Em meu texto "Até quando???" procuro, como você Confrade Danilo Sili Borges (ver em http://www.joperpadrao.com.br/ate-quando/) fazer a parte que me toca.
    Parabéns por sua crônica.

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