A ESPIONAGEM E O SUBMARINO NUCLEAR
Nesta semana, a imprensa internacional, logo replicada pelos principais órgão locais, publicaram matéria sobre espionagem de tecnologia nuclear do mais alto interesse dos Estados Unidos, envolvendo o Brasil. Por aqui, o assunto ficou restrito às páginas internas dos veículos e não alcançaram as TVs.
Em 1959, a Marinha brasileira fundou
o Instituto de Pesquisas da Marinha – IPqM – que entre outros programas
científicos mantinha o do projeto de um submarino nuclear com tecnologia
nacional. Note-se que o primeiro equipamento deste tipo foi o americano USS Nautilus,
em 1954. No instituto de pesquisas, a Marinha reuniu equipe de cientistas
competentes, preparou quadro de pessoal a partir de oficiais da casa com cursos
de engenharia, física, matemática e iniciou os estudos com o objetivo
determinado no projeto do submarino.
Em meados dos anos 60, razões políticas
e econômicas impuseram o retorno imediato de alguns engenheiros e físicos dos
quadros daquela Força que faziam pós-graduação no conceituadíssimo MIT - Massachusetts
Institute of Technology –, como parte da preparação de pessoal de alto
nível para o projeto. Desânimo geral.
Muitos deles reformaram-se e
passaram a atividades civis, principalmente nas Universidades. Do IPqM, um
grupo veio para a Universidade de Brasília dar início ao Departamento de
Engenharia Elétrica da Faculdade de Tecnologia que então se instalava. Tenho de
memória alguns nomes, Brasil Lowndes, Raymundo Fialho Mussi, esses oficiais
retornados dos Estados Unidos. Lourenço Chehab, Descartes Teixeira engenheiros
e meus contemporâneos de faculdade, oriundos do mesmo Instituto, que
acompanharam aqueles. Do mesmo grupo, veio para o Departamento de Física José
Carlos de Almeida Azevedo, que desobedecendo a ordem de retorno concluiu o PHD
no MIT. Azevedo, posteriormente, foi Reitor da UnB. Tive a oportunidade de
ouvir deles, na época, informalmente, o sonho da construção do submarino
nuclear com tecnologia própria.
Ao longo dessas décadas o projeto
nunca se extinguiu, ora esteve em alta, ora quase desapareceu. Mas sempre fez
parte do imaginário e de ações concretas da nossa força naval.
O programa do submarino nuclear
voltou a ter grande impulso, após 1979, no período considerado do renascimento
do projeto, quando a política nuclear do país esteve orientada pelo brilhante cientista
almirante Othon Luiz Pinheiro da Silva, considerado o pai da energia nuclear
brasileira. A nota triste é que ao se reformar, passando à iniciativa privada,
o cientista foi apanhado e condenado pela Lava Jato em operações irregulares.
Creio que foi impossível
conseguir apoio dos detentores da tecnologia necessária para superar os
problemas de segurança de um equipamento dessa natureza. O desejável
desenvolvimento de tecnologia autóctone esbarrou sempre no corte de verbas e na
descontinuidade de objetivos estratégicos de um país que, infelizmente, não tem
um plano de nação, consensual e que por isso sofre grandes riscos. A péssima
decisão, a meu ver, de o Brasil assinar o Tratado de Não Proliferação de Armas
Nucleares, em 1996, ratificado pelo Congresso Nacional em 1998, nos colocou
ainda mais distante desse objetivo.
Devo esclarecer, que mesmo sendo
um pacifista juramentado, entendo que não podemos estar fora dos conhecimentos,
da posse e do manejo das armas de defesa do nosso povo e do nosso território,
essas são questões que não se terceirizam.
Escapou para a imprensa americana
que o país para o qual o engenheiro naval Jonathan Toebbe e sua mulher Diana
tentaram vender segredos do projeto dos submarinos de seu país era o Brasil. História
de espionagem na qual a lealdade brasileira permitiu que o casal de traidores
de sua pátria fosse desmascarado.
É curioso saber o motivo pelo
qual o Brasil foi o cliente escolhido pelos espiões para a venda do material
secreto que o engenheiro colecionou com propósito de negociar. Ele sempre teve pruridos
de os vender à nação inimiga do seu país, o comprador deveria ser alguém com
muito interesse em ter aqueles conhecimentos, mas que não fosse usá-los contra os
Estados Unidos (um traidor ético, quase do bem) e país suficientemente rico
para poder pagar pelas informações.
O Brasil foi o país escolhido, que
mostrando lealdade a tratados militares com os americanos, denunciou às
autoridades daquele país o contato preliminar que o espião tinha feito com o
serviço de segurança brasileiro, o que permitiu com que o FBI, montasse esquema
para apanhá-lo. Julgado recentemente, sua pena foi de 17 anos e de sua mulher
de 3. Pelo que sei da Justiça nos EUA, lá não usam, com largueza, progressões
de pena e “saidinhas”.
Não há como esquecer o rumoroso
caso dos segredos da Bomba Atômica passados pelo casal Julius e Ethel Rosenberg
à Rússia, que lhe permitiu explodir sua primeira bomba dois anos após Hiroshima
e Nagazaki. O casal foi eletrocutado na prisão em 1953. Os russos até hoje
negam ter recebido qualquer material de espionagem e afirmam que chegaram à
bomba por esforço próprio.
Os submarinos nucleares
apresentam grandes vantagens em relação aos convencionais com propulsão à
diesel. A principal é a capacidade de permanecerem submersos por longos
períodos sem terem que emergir para reabastecimento. Apenas 6 países no mundo
possuem esse tipo de equipamento: Estados Unidos, Rússia, China, Reino Unido,
França e Índia.
Afirmam conhecedores do assunto,
que na pauta dos temas tratados na recente viagem do Presidente Bolsonaro à
Rússia constou o apoio desse país à construção do tão esperado submarino,
dentro de um pacote de colaboração em desenvolvimento em energia nuclear e
indústria bélica.
Crônicas da Madrugada. Danilo
Sili Borges. Brasília – Mar. 2022.
O autor é membro da
Academia Rotária de Letras de Brasília. ABROL BRASÍLIA
Prof. Danilo,
ResponderExcluirObrigada por essa “curiosa” informação!
Creio que traidores …são pedras no nosso caminho🙄