CENSURA, O PIOR DOS MALES
Já correndo solta, a campanha
para as eleições deste ano faz com que os meios de comunicação estejam a todo
vapor, o que, em princípio, poderia parecer auspicioso, afinal eleitores e
sociedade bem-informados significariam exercício pleno da democracia, calcada
na escolha consciente pelos cidadãos dos seus representantes e dirigentes.
Há uma gritaria geral em torno
das chamadas fake news, informações inverídicas sobre fatos e pessoas, em geral
candidatos, que os desabonem (ou até que os valorizem) sem contrapartida na
realidade. Os celulares tornaram cada um de nós receptores, emissores e
retransmissores de mensagens escritas, de voz e gráficas de todo o mundo e para
o mundo todo. Essa é uma realidade tecnológica maravilhosa, que certamente nos
ligou, potencialmente, aos outros 7 bilhões de irmãos. É obvio que isso está
incomodando e vai incomodar ainda mais, muita gente.
Na semana que findou, vimos a
tentativa frustrada do parlamento nacional de fazer passar, em regime de
urgência, legislação de controle das fake news. Notícias falsas, destruições de
reputações por meios torpes têm sido comuns na nossa história política. A
agilidade dos meios atuais altera a eficácia, mas não melhora ou piora o
caráter dos agentes. Eu até me arriscaria a dizer, que como o acesso às redes
sociais são igualmente disponíveis, inverdades veiculadas podem facilmente serem
contestadas nos mesmos espaços virtuais quase ao mesmo tempo em que são
divulgadas.
O que pode estar ocorrendo é que
determinados acontecimentos do passado, que relembrados, com a força das
imagens e disseminados com a rapidez e a intensidade que os meios atuais
permitem, podem realmente alterar resultados eleitorais, mas isso por si mesmo
não é mau, se as informações forem fidedignas a fatos ocorridos. Evitar que situações
verdadeiras sejam trazidas a público configura censura, isto sim é ruim. Essas
postagens afetam, por exemplo, a credibilidade dos candidatos que mudaram
radicalmente suas posições políticas e ideológicas entre duas eleições, mas isso
não é fake news, é a Verdade.
Se por um lado, a maior
disponibilidade de comunicação entre pessoas e instituições democratiza a
informação, observa-se, por outro, o oposto nos canais tradicionais de
comunicação: jornais, rádios e televisões pela parcialidade indesejável que vêm
demonstrando.
Esses veículos atingem os
usuários dos seus serviços de modo unidirecional, sem possibilidade de diálogo
ou contestação pela própria natureza de suas ferramentas de trabalho, o que em
princípio, lhes deveria aumentar a responsabilidade no que divulgam. Há
indubitavelmente um serviço público de informação à população que devem cumprir
com isenção e imparcialidade. Essas instituições, seus profissionais e
proprietários certamente têm opiniões, partidos, interesses e nada mais natural
que os expressem, mas sempre deixando claro a autoria do que professam.
Hoje se vê grandes emissoras de
televisão, por sua considerável penetração na população, que deveriam estar
prestando serviço de educação democrática ao povo, colocarem-se a serviço de
partido, candidato ou ideologia, sem pudor, durante as 24 horas do dia, todos
os dias, em campanha sem isenção ou equilíbrio.
É por essas e outras similares
razões que os veículos formais de informação – jornais, rádios, televisões -
estão perdendo espaço na mídia geral, na mesma velocidade em que perdem
credibilidade. O que lhes cabe nesta nova arrumação é se transformarem nas
fontes primárias e confiáveis de informação e de análise crítica.
Fake News verdadeiros, atentados
a honra e crimes similares (por qualquer tipo de veículo de comunicação) têm
que ser apurados com presteza com a colaboração das prestadoras de serviço de
internet, por um aparelho judicial imparcial e expedito. Sei o quanto isso pode
ser difícil quando a própria justiça superior do país se imiscui no comezinho
da política partidária, ideológica e de interesses paroquiais. Aqui não vai
poder valer “O exemplo vem de cima”.
O foco deve ser sempre ampliar
liberdades, apurar excessos e inverdades, punir exemplar e prontamente
comportamentos faltosos, mas nunca censurar. Até porque ao se pretender impedir
a propaganda eleitoral pelas redes sociais, pretende-se impedir que os
eleitores sejam lembrados dos malfeitos em passado não tão antigo.
Nunca controlar previamente as
comunicações é a regra de ouro da Democracia.
A censura é o pior dos males!
Crônicas da Madrugada. Danilo Sili
Borges. Brasília – Abr. 2022
O autor é membro da Academia
Rotária de Letras do DF. ABROL BRASÍLIA
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