CENSURA, O PIOR DOS MALES

 



“Tentar levar vantagem em tudo” notabilizou para sempre, muito mais que o seu inigualável futebol, o craque tricampeão mundial, meu contemporâneo niteroiense Gerson de Oliveira Nunes ao fazer o comercial de uma marca de cigarros, por ser ele, então, atleta de altíssimo desempenho e fumante conhecido. Injusto o conceito que a ele se associou. Todos sabem, na antiga capital fluminense, onde vive e sempre viveu, da sua vida simples e comedida de cidadão probo e sem vaidades. Ressalto esse fato para mostrar a força dos meios de comunicação em colar em pessoas e entidades rótulos e imagens, neste caso, sem nenhum intuito maldoso.

Já correndo solta, a campanha para as eleições deste ano faz com que os meios de comunicação estejam a todo vapor, o que, em princípio, poderia parecer auspicioso, afinal eleitores e sociedade bem-informados significariam exercício pleno da democracia, calcada na escolha consciente pelos cidadãos dos seus representantes e dirigentes.

Há uma gritaria geral em torno das chamadas fake news, informações inverídicas sobre fatos e pessoas, em geral candidatos, que os desabonem (ou até que os valorizem) sem contrapartida na realidade. Os celulares tornaram cada um de nós receptores, emissores e retransmissores de mensagens escritas, de voz e gráficas de todo o mundo e para o mundo todo. Essa é uma realidade tecnológica maravilhosa, que certamente nos ligou, potencialmente, aos outros 7 bilhões de irmãos. É obvio que isso está incomodando e vai incomodar ainda mais, muita gente.

Na semana que findou, vimos a tentativa frustrada do parlamento nacional de fazer passar, em regime de urgência, legislação de controle das fake news. Notícias falsas, destruições de reputações por meios torpes têm sido comuns na nossa história política. A agilidade dos meios atuais altera a eficácia, mas não melhora ou piora o caráter dos agentes. Eu até me arriscaria a dizer, que como o acesso às redes sociais são igualmente disponíveis, inverdades veiculadas podem facilmente serem contestadas nos mesmos espaços virtuais quase ao mesmo tempo em que são divulgadas.

O que pode estar ocorrendo é que determinados acontecimentos do passado, que relembrados, com a força das imagens e disseminados com a rapidez e a intensidade que os meios atuais permitem, podem realmente alterar resultados eleitorais, mas isso por si mesmo não é mau, se as informações forem fidedignas a fatos ocorridos. Evitar que situações verdadeiras sejam trazidas a público configura censura, isto sim é ruim. Essas postagens afetam, por exemplo, a credibilidade dos candidatos que mudaram radicalmente suas posições políticas e ideológicas entre duas eleições, mas isso não é fake news, é a Verdade.

Se por um lado, a maior disponibilidade de comunicação entre pessoas e instituições democratiza a informação, observa-se, por outro, o oposto nos canais tradicionais de comunicação: jornais, rádios e televisões pela parcialidade indesejável que vêm demonstrando.

Esses veículos atingem os usuários dos seus serviços de modo unidirecional, sem possibilidade de diálogo ou contestação pela própria natureza de suas ferramentas de trabalho, o que em princípio, lhes deveria aumentar a responsabilidade no que divulgam. Há indubitavelmente um serviço público de informação à população que devem cumprir com isenção e imparcialidade. Essas instituições, seus profissionais e proprietários certamente têm opiniões, partidos, interesses e nada mais natural que os expressem, mas sempre deixando claro a autoria do que professam.

Hoje se vê grandes emissoras de televisão, por sua considerável penetração na população, que deveriam estar prestando serviço de educação democrática ao povo, colocarem-se a serviço de partido, candidato ou ideologia, sem pudor, durante as 24 horas do dia, todos os dias, em campanha sem isenção ou equilíbrio.

É por essas e outras similares razões que os veículos formais de informação – jornais, rádios, televisões - estão perdendo espaço na mídia geral, na mesma velocidade em que perdem credibilidade. O que lhes cabe nesta nova arrumação é se transformarem nas fontes primárias e confiáveis de informação e de análise crítica.

Fake News verdadeiros, atentados a honra e crimes similares (por qualquer tipo de veículo de comunicação) têm que ser apurados com presteza com a colaboração das prestadoras de serviço de internet, por um aparelho judicial imparcial e expedito. Sei o quanto isso pode ser difícil quando a própria justiça superior do país se imiscui no comezinho da política partidária, ideológica e de interesses paroquiais. Aqui não vai poder valer “O exemplo vem de cima”.

O foco deve ser sempre ampliar liberdades, apurar excessos e inverdades, punir exemplar e prontamente comportamentos faltosos, mas nunca censurar. Até porque ao se pretender impedir a propaganda eleitoral pelas redes sociais, pretende-se impedir que os eleitores sejam lembrados dos malfeitos em passado não tão antigo.

Nunca controlar previamente as comunicações é a regra de ouro da Democracia.

A censura é o pior dos males!

Crônicas da Madrugada. Danilo Sili Borges. Brasília – Abr. 2022

danilosiliborges@gmail.com

O autor é membro da Academia Rotária de Letras do DF. ABROL BRASÍLIA



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