RESOLVENDO CONFLITOS

 


 


Ultimamente, tenho andado envolvido com o tema Resolução de Conflitos. Terça-feira, 5/4, de modo agradável, assistindo a palestra da psicanalista Jéssica Caiado, intitulada O que fazemos com as lacunas das nossas vidas. O evento online foi promovido pela Academia Rotária de Letras do DF, ABROL BRASÍLIA, da qual tenho a honra de participar. Jéssica é também escritora, poeta e as lacunas citadas comparecem no seu livro de poesias recém-publicado “As lacunas da vida em mim”.

As lacunas, representam os conflitos íntimos e têm que ser ultrapassadas por pontes como a capa da publicação, a poesia, sugere?  Como construí-las? Com a função de abrir o evento e apresentar a palestrante, levantei o que me parecia ser o ponto crítico a ser esclarecido, conciliar a linguagem técnica, científica, precisa da psicanálise com o falar simbólico, individual, próprio e exclusivo do poeta, que como bem definiu Otto Lara Resende, “é só isto, um certo modo de ver”.

Conceitos precisos e poemas intercalados, sacados da sua obra, que justificavam as afirmações, mostravam, a um só tempo, a sensibilidade e a preparação intelectual da palestrante. Valeu!

Conflitos não têm nos dias recentes sido tratados com a mesma elegância e propriedade descritas acima. Extasiado, o mundo tem assistido a brutalidade com que tem se desenrolado um antigo desajuste entre dois países, Ucrânia e Rússia. Não vou aqui tecer considerações maiores sobre direitos, razões ou expectativas. Faço menção apenas a mortes e milhões de refugiados. Infelizmente não posso deixar de registrar o que se está chamando Técnica Ambev para Solução de Conflitos Bélicos, baseado na conversa do ex-Presidente Lula ao pregar para uma plateia de inconsequentes que o aplaudiu, que, aqui no Brasil, a paz seria alcançada numa conversa de bar, antes dos supostos negociadores detonarem uma caixa de cerveja. Sem comentários quanto a solução do “estadista”. Lembro apenas que conversas de bar regadas a álcool em meio a conflitos, costumam pegar fogo, como sabe bem a polícia, e acabar na delegacia, quando não, no pronto-socorro ou no necrotério.

Vivendo a experiência que os anos emprestam, mesmo aos menos dotados, entendo que os conflitos só se podem realmente considerar resolvidos quando se encontram soluções em que os litigantes terminem ambos satisfeitos, mas percebo que essa é situação de grande excepcionalidade. A instituição própria para a resolução de conflitos é a Justiça, que quando acionada coloca nos pratos de sua balança provas e argumentos e, apesar do cuidado da venda nos olhos, bate o martelo e indica a quem cabe a razão. Termina ali, na maioria das vezes, o litígio legal, mas raramente o das mentes e corações.

Para diminuir dores pós-parto judicial, contendores muitas vezes buscam a chamada arbitragem, a resolução de alguns tipos de conflitos, principalmente negociais, por instituições específicas. Tenho tido a oportunidade de participar desse tipo de atividade na área de questões de engenharia na COJAB, Corte de Justiça Arbitral de Brasília, por convite de seu Diretor, o também engenheiro, Oswaldo Garcia, assíduo leitor destas crônicas.

As questões fronteiriças brasileiras foram resolvidas por arbitragem. Quando no início deste texto disse do meu envolvimento com resolução de conflitos, o fiz por me referir as releituras recentes que fiz de Juca Paranhos, O Barão do Rio Branco, de Luís Cláudio Villafañe e, que para completar o perfil do grande negociador das fronteiras brasileiras, igualmente do O Barão e a Gastronomia, de Affonso José Santos. No conjunto, recolhi das obras, a maneira pela qual o sedutor diplomata brasileiro resolveu intricadas questões fronteiriças envolvendo pendências com Argentina, com a Bolívia e Peru e talvez a mais emblemática, com a França, que pretendia expandir área da sua Guiana sobre território amazônico brasileiro, questão que foi para arbitramento da Suíça. Nesta, o Barão mostrou toda capacidade da sua personalidade, apresentando aos árbitros um Brasil competente, com argumentação imbatível, profundamente estudada, nos aspectos jurídicos, históricos e geográficos. Fomos, por Paranhos, cultos e suplantamos à França, europeia, vizinha e parceira da Suíça em tantas questões.

Pergunto-me se a indisposição do presidente Emmanuel Macron com o Brasil, focado na Amazônia, não terá a ver com a acachapante vitória de Rio Branco, ainda não digerida, pela orgulhosa diplomacia francesa?

Rotary participou da fundação da ONU, em 1945, por ser então comprometido com a paz mundial e o entendimento entre os povos. Como associado a um Rotary clube, aprendi que nossa instituição atua em duas vertentes principais. Uma a dos serviços humanitários que leva às comunidades necessitadas meios para melhorarem suas condições de vida, sempre utilizando trabalho voluntário. A segunda vertente, a que está em foco neste artigo, é a busca da paz mundial. Rotary International tem investido recursos e esforços num programa de preparação de pessoal de alto nível em Resolução de Conflitos em universidades renomadas em alguns locais estrategicamente escolhidos no mundo.

Todas as atividades rotárias organizam-se com base no companheirismo, que se estimula a partir dos encontros semanais. A paz e o entendimento é a “cola” que nos une, para formá-lo. É habitual que as reuniões rotárias iniciem com uma oração ecumênica para ressaltar os valores das melhores qualidades do caráter, aquelas que levam ao entendimento e à paz. Com frequência ao rotariano é lembrada a Prova Quádrupla, um filtro a que os rotarianos devem submeter suas ações na vida.

Tal como no livro da Jéssica, encontramos lacunas e conflitos, mas com sabedoria construímos pontes.

Crônicas da Madrugada. Danilo Sili Borges – Abr. 2022

danilosiliborges@gmail.com

O autor é membro da Academia Rotária de Letras do DF. ABROL BRASÍLIA

 


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