RESOLVENDO CONFLITOS
As lacunas, representam os
conflitos íntimos e têm que ser ultrapassadas por pontes como a capa da
publicação, a poesia, sugere? Como
construí-las? Com a função de abrir o evento e apresentar a palestrante,
levantei o que me parecia ser o ponto crítico a ser esclarecido, conciliar a
linguagem técnica, científica, precisa da psicanálise com o falar simbólico,
individual, próprio e exclusivo do poeta, que como bem definiu Otto Lara
Resende, “é só isto, um certo modo de ver”.
Conceitos precisos e poemas
intercalados, sacados da sua obra, que justificavam as afirmações, mostravam, a
um só tempo, a sensibilidade e a preparação intelectual da palestrante. Valeu!
Conflitos não têm nos dias
recentes sido tratados com a mesma elegância e propriedade descritas acima.
Extasiado, o mundo tem assistido a brutalidade com que tem se desenrolado um
antigo desajuste entre dois países, Ucrânia e Rússia. Não vou aqui tecer
considerações maiores sobre direitos, razões ou expectativas. Faço menção
apenas a mortes e milhões de refugiados. Infelizmente não posso deixar de
registrar o que se está chamando Técnica Ambev para Solução de Conflitos Bélicos,
baseado na conversa do ex-Presidente Lula ao pregar para uma plateia de
inconsequentes que o aplaudiu, que, aqui no Brasil, a paz seria alcançada numa
conversa de bar, antes dos supostos negociadores detonarem uma caixa de
cerveja. Sem comentários quanto a solução do “estadista”. Lembro apenas que
conversas de bar regadas a álcool em meio a conflitos, costumam pegar fogo,
como sabe bem a polícia, e acabar na delegacia, quando não, no pronto-socorro
ou no necrotério.
Vivendo a experiência que os anos
emprestam, mesmo aos menos dotados, entendo que os conflitos só se podem
realmente considerar resolvidos quando se encontram soluções em que os
litigantes terminem ambos satisfeitos, mas percebo que essa é situação de
grande excepcionalidade. A instituição própria para a resolução de conflitos é
a Justiça, que quando acionada coloca nos pratos de sua balança provas e
argumentos e, apesar do cuidado da venda nos olhos, bate o martelo e indica a
quem cabe a razão. Termina ali, na maioria das vezes, o litígio legal, mas
raramente o das mentes e corações.
Para diminuir dores pós-parto
judicial, contendores muitas vezes buscam a chamada arbitragem, a resolução de
alguns tipos de conflitos, principalmente negociais, por instituições
específicas. Tenho tido a oportunidade de participar desse tipo de atividade na
área de questões de engenharia na COJAB, Corte de Justiça Arbitral de Brasília,
por convite de seu Diretor, o também engenheiro, Oswaldo Garcia, assíduo leitor
destas crônicas.
As questões fronteiriças
brasileiras foram resolvidas por arbitragem. Quando no início deste texto disse
do meu envolvimento com resolução de conflitos, o fiz por me referir as
releituras recentes que fiz de Juca Paranhos, O Barão do Rio Branco, de Luís
Cláudio Villafañe e, que para completar o perfil do grande negociador das
fronteiras brasileiras, igualmente do O Barão e a Gastronomia, de Affonso José
Santos. No conjunto, recolhi das obras, a maneira pela qual o sedutor diplomata
brasileiro resolveu intricadas questões fronteiriças envolvendo pendências com
Argentina, com a Bolívia e Peru e talvez a mais emblemática, com a França, que
pretendia expandir área da sua Guiana sobre território amazônico brasileiro,
questão que foi para arbitramento da Suíça. Nesta, o Barão mostrou toda capacidade
da sua personalidade, apresentando aos árbitros um Brasil competente, com
argumentação imbatível, profundamente estudada, nos aspectos jurídicos,
históricos e geográficos. Fomos, por Paranhos, cultos e suplantamos à França,
europeia, vizinha e parceira da Suíça em tantas questões.
Pergunto-me se a indisposição do
presidente Emmanuel Macron com o Brasil, focado na Amazônia, não terá a ver com
a acachapante vitória de Rio Branco, ainda não digerida, pela orgulhosa
diplomacia francesa?
Rotary participou da fundação da
ONU, em 1945, por ser então comprometido com a paz mundial e o entendimento
entre os povos. Como associado a um Rotary clube, aprendi que nossa instituição
atua em duas vertentes principais. Uma a dos serviços humanitários que leva às
comunidades necessitadas meios para melhorarem suas condições de vida, sempre utilizando
trabalho voluntário. A segunda vertente, a que está em foco neste artigo, é a
busca da paz mundial. Rotary International tem investido recursos e esforços
num programa de preparação de pessoal de alto nível em Resolução de Conflitos
em universidades renomadas em alguns locais estrategicamente escolhidos no
mundo.
Todas as atividades rotárias
organizam-se com base no companheirismo, que se estimula a partir dos encontros
semanais. A paz e o entendimento é a “cola” que nos une, para formá-lo. É
habitual que as reuniões rotárias iniciem com uma oração ecumênica para
ressaltar os valores das melhores qualidades do caráter, aquelas que levam ao
entendimento e à paz. Com frequência ao rotariano é lembrada a Prova Quádrupla,
um filtro a que os rotarianos devem submeter suas ações na vida.
Tal como no livro da Jéssica, encontramos
lacunas e conflitos, mas com sabedoria construímos pontes.
Crônicas da Madrugada. Danilo
Sili Borges – Abr. 2022
O autor é membro da
Academia Rotária de Letras do DF. ABROL BRASÍLIA
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