IDEIAS INOVADORAS

 


Sentei-me frente ao computador nesta sexta-feira para começar a escrever a crônica do fim de semana. O tema estava definido: A falta de relevância nas entrevistas e outras aparições públicas dos candidatos, o que me tem feito sentir como em uma longa, monótona e silenciosa viagem pelo Saara, montado num velho camelo manco. A paisagem não muda e não há com quem conversar por falta de assunto estimulante. Os candidatos seguem as instruções de seus marqueteiros, contratados ou da própria família. Um deles que se aventurou, por uma ou duas vezes, a falar o que pensa foi logo contido e lhe advertiram, “Pare de falar besteiras, senão vai perder a eleição”.

Desculpe-me o leitor, mas não quero logo de início induzi-lo a erro, mas não é meu pensamento que os políticos tenham que ser os formuladores das inovadoras políticas econômicas e sociais que fazem as sociedades humanas se renovarem e caminharem para frente, para essas funções existem os cientistas políticos e sociais que acompanham tendências, perscrutam o futuro, analisam experiências vividas e formulam teorias para que os políticos, no ombro a ombro com o povo, as testem e adaptam para alcançar os melhores resultados ou descartá-las.

A distorção que hoje se vê é o marqueteiro, o sórdido personagem, pago para interpretar os anseios imediatos do eleitorado e colocar na boca e nas atitudes do seu contratante argumentos para convencer os eleitores, ainda que isso não corresponda às ideias, princípios e tendências do candidato, em jogo cínico de esconder fatos e dizer inverdades, entre eles conhecido como “papo de campanha”, para nós, estelionato eleitoral.

Ronaldo Campos Carneiro é um pensador talentoso, um formulador de teorias e estratégias para a integração das áreas econômica e social, aliando a formação técnica de engenheiro e economista à visão humanística decorrente da sua experiência em organismos internacionais de crédito orientado ao desenvolvimento. Dos seus muitos trabalhos publicados, das suas palestras e das longas conversas que temos mantido, percebi que suas propostas para o encaminhamento da solução para o impasse da longa e angustiante crise por que passa a sociedade brasileira têm fulcro na conciliação do atendimento às fortes demandas sociais, que resumidamente se traduzem na desigualdade econômica da população, com o encontrar os meios para uma economia pujante, ativa, inserida no contexto mundial, competitiva e inovadora, o que só é  exequível numa economia de mercado, a única capaz de produzir riqueza, mesmo que nem sempre seja competente em distribui-la.

Em seu livro “Voltar às origens para merecer o amanhã”, Ronaldo detalha sua proposta de um pacto social voluntário, entre governo, trabalhadores e empresa pelo qual a empresa assumiria o encargo da nutrição, saúde e educação dos trabalhadores e seus familiares, tendo a contrapartida da correspondente redução de encargos. Algumas vantagens são óbvias, como o melhor aproveitamento dos recursos, que na forma de impostos, têm a maior parte dilapidada nos trâmites administrativos, não chegando a cumprir o objetivo   para o qual foram arrecadados.

As diferenças individuais não serão nunca eliminadas, pensa o autor, são inerentes às condições humanas. O que a sociedade moderna e democrática deve proporcionar, neste primeiro momento, para a   realidade brasileira, é a isonomia na partida, para que os jovens de todas as famílias de pais trabalhadores possam ter as condições de saúde e assistência para irem às disputas da vida com iguais condições físicas e preparo intelectual dos demais.

Neste mesmo dia, 13/5, colhi no Estadão primoroso artigo do conhecido jornalista Fernando Gabeira, na seção Espaço Aberto no qual a proposta inovadora é uma relação inédita entre natureza e tecnologia.

Prega o autor a revisão da concepção iluminista de que a tecnologia deveria ser priorizada para subjugar a natureza aos objetivos humanos, o que levou as consequências ambientais hoje graves, como o ameaçador aquecimento global. Outra crítica conceitual, está assente na visão cristã sobre a superioridade da espécie humana em relação às demais manifestações da vida, que durante séculos avalizou o desrespeito à vida natural.

O articulista entende que por nossas especialíssimas condições de biodiversidade temos como nos associarmos aos projetos de algumas democracias ocidentais, como Estados Unidos e França, pelo resgate da sustentabilidade do planeta, colocando o Brasil como um dos protagonistas dos novos tempos.

Textualmente diz: ‘De posse do seu grande tesouro, o País, com a maior biodiversidade do planeta, teria condições de iniciar um ciclo sustentável e direcionado para o futuro.”

Há décadas o Brasil está chafurdando na lagoa de oxidação dos excrementos resultantes do metabolismo político da mediocridade e da desonestidade com que é administrado. São muitas as possibilidades com potencial para resgatar o país da indefinição em que flutua. Neste texto aventamos duas.

Ao fechar seu texto, Gabeira faz afirmação que é adequada a sugestões e estudos que surgem na academia, nos institutos de pesquisa, nos centros de inteligência dos ministérios civis e militares, mas que se perdem por falta de ouvidos.

“São conversas vistas com ironia na política brasileira. Mas podem ser uma espécie de mensagem na garrafa quando o pragmatismo esbarrar em seus limites.”
Crônicas da Madrugada. Danilo Sili Borges. Brasília – Mai. 2022

danilosiliborges@gmail.com

O autor é membro da Academia Rotária de Letras do DF. ABROL BRASÍLIA

 


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