POR UM BELO BUMBUM

 


 

Mesmo não sendo hipocondríaco, mas por questão de autopreservação da espécie, visito regularmente as páginas dedicadas à saúde nos diários que assino. Não sou candidato à cirurgia estética, mas a expre
ssão Brazilian Butt Lift, mesmo no meu inglês, pouco mais que macarrônico, permitiu-me perceber que se tratava de uma intervenção para levantar traseiros das pessoas insatisfeitas com os seus, que a intimidade internacional com a cirurgia a tornava conhecida pela sigla BBL. Seguiam-se comentários sobre ser ela o mais recorrente dentre os procedimentos do tipo estético. Estatísticas eram apresentadas, inclusive de riscos observados mundialmente. 

As ideias se associaram rapidamente, e logo percebi que a secular miscigenação propiciada pela nossa formação étnica que nos presenteou com as formas femininas, de graça insuperável e singular, deveriam estar na denominação do procedimento médico que a um só tempo aumenta e empina o “derrière” das mulheres trazendo-lhes elegância ao perfil e ritmo ao caminhar, algo natural em nossas conterrâneas.

Verifiquei, depois, que o criador da cirurgia foi o saudoso e internacionalmente festejado cirurgião plástico Ivo Pitangui, que recebia celebridades em sua clínica no Rio para diversos tipos de intervenções, esta inclusive. O ilustre médico fez escola e espalhou pelo mundo seu método, possibilitando que mulheres de todas as raças, tipos, estaturas pudessem dele se beneficiar, moldando seus bumbuns ao tipo do das brasileiras. Do meu ponto de vista, um compreensível desejo.

Lembro-me bem que para os americanos o grande fetiche sexual eram os seios, Jayne Mansfield, estonteante atriz loura de desempenho apenas razoável tornou-se famosa pelo tamanho e pela maneira insinuante com que expunha suas mamas, numa época em que o silicone ainda não entrava na composição corporal da atratividade feminina. Gina Lollobrígida, além de ter sido notável no soerguimento do cinema italiano no pós-guerra, encantou o mundo com a sua fartura exposta, jamais olvidada. Que me perdoe o grande cirurgião plástico de Brasília, o Dr. Simão Pedro Safe De Matos, de citá-lo nesta crônica não especializada, meu amigo de muitas décadas, um mágico do bisturi, mas uma obra como essa só você e a natureza dariam conta de esculpir, em matéria tão delicada.

Anitta, nossa mulher show, penso que seja na atualidade a maior expressão internacional do atributo brasileiro da área do glúteo exemplificativo, que acrescido de outras qualidades a tem feito brilhar no aspecto da modernidade da exibição das habilidades corporais.

Sem os contorcionismos, o tema me faz recordar saudoso, confesso, do longínquo 1954 quando 2 polegadas a mais de quadris, isto é, de bunda, polegadas hoje buscadas em gorduras de outras partes do corpo – para corrigir esquecimento da natureza – , tiraram o título de Miss Universo de Martha Rocha, gerando decepção nacional quase do tamanho da derrota para o Uruguai na Copa de 1950. Coisas que acabaram por fazer Nelson Rodrigues falar do nosso Complexo de Vira-Latas.

Os gringos -americanos e europeus – custaram a perceber que aqueles 5 centímetros faziam a diferença..... para mais. Hoje suas mulheres querem resgatar Martha Rocha, glúteos, cheios, redondos, altos, ritmados no andar. A vingança tardia da maravilhosa Martha Rocha que virou adjetivo a indicar a qualidade de tudo que era belo no país. Tínhamos bolo Martha Rocha, mármore Martha Rocha, tecido Martha Rocha...

A beleza humana é fugaz, Martha faleceu aos 87, em Niterói, em 2020, em um asilo para idosos.

Voltando ao assunto, note o leitor que não estou aqui contrapropondo a prevalência do bumbum, como símbolo da feminilidade, aos seios, ambos os atributos compõem a silhueta da sensualidade feminina, desde que nas justas proporções.

Os artistas e a natureza sempre souberam valorizar essas formas em suas obras ao entenderem bem que não havia primazia de bom gosto entre americanos e brasileiros, eles adeptos de seios grandes, nós, chegados a bumbuns fornidos e empinados, mas que na realidade a perfeição viria da junção dessas formas num só corpo, numa obra. E existem muitas que vemos nas ruas, praias, piscinas e por aí.

Um artista gaúcho, meu amigo, imortalizou no concreto as formas de seios e bundas femininas num maravilhoso painel encomendado por um clube de Brasília para ornamentar sua área externa, isto nos anos 1960. O arquiteto Luiz Carlos da Cunha criou um painel de rara beleza e inspiração, assunto de comentários e reportagens da mídia nacional, ainda muito pudica naquela época.

Cunha recentemente deu-me a grande honra de prefaciar o seu livro autobiográfico, Memórias Brasilianas, obra sentida, verdadeira, de sua vida de entusiasmado professor da UnB numa universidade e numa cidade que nasciam e da aventura dos jovens que nós éramos no difícil período político de então. Ao referir-me a sua escultura chamei-a de “Painel de Bundas e Peitos”. Para o prefácio Luiz Carlos, agora um respeitável senhor, já entrado nos 80, me solicitou que o trocasse para “Seios e Glúteos”. Fiz as correções, certo de que..... para menor. Nada se alterou na beleza da obra.

Crônicas da Madrugada. Danilo Sili Borges. Mai – 2022

danilosiliborges@gmail.com

O autor é membro da Academia Rotária de Letras do DF. ABROL BRASÍLIA


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