A FEIRINHA DA QI 15
A Feirinha a que me refiro nesta
crônica é mesmo aquela situada na QI 13. O fato é risível e nos remete a
grotesca polarização em que vivemos. O título original era “A feirinha da 13”. Aos
sábados cedo, encaminho o texto, a alguns periódicos que me dão a honra de
publicá-los aos domingos e ao longo da semana.
O primeiro a quem mandei reportou-me,
desculpando-se e comunicando que nesta semana não me iria publicar, justificando
que seu veículo tem objetivos culturais, não pretendendo tomar parte em
questões políticas. Demorei segundos
para entender. Ao ver o número 13 o editor, logo o associou ao partido que
utiliza esse número nas eleições e sem mais pensar descartou meu artigo.
Percebi que a leitura equivocada
seria feita por muitos outros leitores. Preferi errar a localização da feirinha
por umas dezenas de metros do que contribuir com a indignação de alguns ou dos
aplausos de outros nesta época de um Brasil insensato.
Que me perdoem os promotores e
“feirantes” daquele agradável encontro sabatino. Estou certo de que ninguém
deixará de visitá-los pelo meu proposital erro geográfico. Meu intuito é bem
outro, o de conclamar meus vizinhos, moradores do Lago Sul, a prestigiarem a Feirinha.
O comércio local terá a ganhar com o maior afluxo de pessoas na Praça, que lhe
é contígua, divulguem-na em cada loja.
Tudo teria sido mais fácil se a
praça maior que abriga a Feirinha tivesse o nome grafado numa grande placa azul
com letras brancas, fincadas em local estratégico, mas por aqui não é assim. As
denominações foram dadas sobre os mapas. Quando indispensável a população cria
e adapta: Eixão Sul, Eixinho de Cima, Rua da Igrejinha, Rua das Elétricas,
Praça do Relógio.
Em Brasília os logradouros e equipamentos
urbanos não costumam receber denominações de seus mortos ilustres. Claro,
existem exceções como a Ponte JK. A denominação de outra ponte sobre o Lago
Paranoá, que também homenageia ex-presidente, tem sido motivo de disputa
política e judicial. Neste caso é a tentativa inútil de apagar a História. Caso
agudo de miopia ideológica.
Minha curiosidade se aguçou e fui
ao Waze, aplicativo de localização para os celulares. Na versão que tenho não
consta a praça. Recorri então ao detalhado Google Maps, muitas fotos do ambiente
e a denominação apenas localizada da Praça do Tenis, abrigada no espaço maior,
sem nome, referindo-se a quadra desse esporte, disponibilizada ao público, com iluminação
e movimentadas partidas, onde um dos atletas seniors é meu niteroiense amigo
Francisco Lacerda Neto.
Aos leitores de fora do DF, esclareço:
Em Brasília e nas cidades do Distrito Federal existem grandes feiras algumas
com funcionamento permanente. Feira dos Importados, antiga Feira do Paraguai,
denominação que persiste; Feira do Guará, que veste boa fração da população.
Feirinhas específicas em que
artistas e artesãos apresentam e comercializam seus produtos são comuns tal
como em todos as cidades. Pequenas e agradáveis, pontos de encontro e de
socialização. Temos algumas tradicionais que comercializam orgânicos, outras
com artesanato. A Feira da Torre de TV, grande e tradicional é a mãe de todas,
ponto turístico imperdível, síntese do Brasil, do artesanato, de sabores e de
falares, como é a própria Brasília. “Cidade Síntese” na visão de JK.
No Lago Norte há muito anos o
poder público, por sugestão da comunidade, criou um espaço denominado Quituarte,
permanente, que reúne expositores de artesanato e arte. Referência em
gastronomia. Tem a cara do bairro, sofisticado e descontraído.
No sombreado das árvores muitas
atividades se desenvolvem naquele espaço da Praça 13, denominação popular que
está pegando. Pela manhã, mães e babás
levam crianças para as atividades matinais ao sol e nos brinquedos disponíveis
em áreas cobertas de areia e principalmente para a socialização com os
amiguinhos.
Às terças, a partir das 9h,
senhoras – e alguns senhores – todos em alegres trajes esportivos reúnem-se
para sob a liderança da Adelaide praticarem ginástica de origem oriental. A partir da atividade, o grupo senhoril cresceu
e com frequência os participantes promovem encontros com outras finalidades.
Há aproximadamente 2 anos, nesse
logradouro acolhedor, com interessantes equipamentos públicos, aos sábados, pouco
mais que 20 “feirantes” se reúnem entre frondosas paineiras e expõem e
comercializam variadíssimos produtos.
Talvez por minha origem carioca,
sou fascinado por feiras. Esta tem pouco a ver com aquelas em que ia buscar os
hortifrutis enquanto morador do Rio, mas o clima, a oportunidade de estabelecer
contatos e conhecimentos são os mesmos.
Vou aos sábados a feirinha, por
prazer e para prestigiar os artesãos que vão expor suas habilidades, mais até
que para o comércio. Encanto-me com os queijos artesanais; os bread rools
coloridos; com as empanadas argentinas produzidas por autêntico jovem portenho;,
com os defumados, hobby semanal de um funcionário público; com os pães da
senhorinha, certamente avó de adolescentes, que passou a noite os assando na
sua mansão vizinha à feira; aprender sobre saúde com a produtora de iogurte sem
conservantes; a cerveja artesanal; com o café especial que a neta, nos seus 18
anos, vem propagandear, deixando de aproveitar o sábado no clube, para divulgar
o arábica que o avô aposentado planta, colhe, trata e embala em quantidade
pequena, só para apreciadores.
Na manhã dos sábados, na Feirinha
da Praça 13, Lago Sul, viva uma experiência humana encantadora!
Crônicas da Madrugada. Danilo
Sili Borges. Jun.2022
O autor é membro da
Academia Rotária de Letras do DF. ABROL BRASÍLIA
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