EU, CIDADÃO PORTUGUÊS
Estava, desta vez, pronto para
falar de Augusto Alves, um saudoso mestre, português da Ilha da Madeira, a quem
devo muito da minha formação. Augusto foi o homem (no sentido de ser humano)
mais inteligente que conheci dentre as centenas de milhares com quem convivi ao
longo de uma vida passada em instituições ligadas ao cultivo do saber. Interrompi
essa crônica por motivo que logo lhes darei conhecimento.
Para encerrar a participação do
madeirense professor neste depoimento, direi apenas que sua vinda para o
Brasil, no início dos anos 1950, quando aluno da Universidade de Coimbra se deu
por se indispor com o Salazarismo. Fugindo, e de carona num barco pesqueiro,
buscou refúgio e cidadania no Brasil. Comprometo-me, em futuro próximo,
completar o artigo iniciado e interrompido sobre esse “Tipo inesquecível”.
A crônica que iniciara se interrompeu
no momento em que me inquiri, por que as pessoas buscam outra cidadania fora ou
além daquela que lhe foi atribuída pelo nascimento?
Cidadania é a possibilidade de
viver numa “cidade” organizada com instituições estabelecidas em funcionamento
harmônico e garantindo direitos iguais a todos, com as leis sendo cumpridas sem
privilégios.
Percebi que na minha palheta de
emoções ressaltavam as cores da indignação. Afinal o dinheiro roubado e
devolvido teve ou não autoria? Houve corruptos e corruptores?
Aquelas malas com os 51 milhões existiram ou não? A corridinha do deputado com
a mala?
Os dinheiros nas cuecas, a do
assessor e a do senador, não se fala mais nisso?
Nomes que vão e voltam: renans,
jaders, aécios, cunhas, collors. sarneys. fhcs. valdemares.
Leis e PECs que se fazem para
privilégios. Agora nas imediações das eleições, após 3 anos sem aumento para os
funcionários do executivo, o presidente notou que terá poucos votos desse
povinho, falou em 5%, mas está cogitando em dar o aumento no vale refeição,
para deixar de fora os aposentados. Casuísmos, injustiças. Outros segmentos do
funcionalismo obtiveram aumentos expressivos. Cidadania de quê?
O que se pode esperar do após 2022
se prevalecer o que se vê das prévias com a polarização medíocre dos candidatos
sem programas. Um calcado numa ideologia falida, tentando ressuscitar nesta
parte do mundo a URSS, sob a liderança de um patético protagonista álcool-circense
e do outro, de uma mistura de Trump e Putin, quando este, o de verdade está
fadado ao fracasso estrondoso. Estamos mesmo no sal...
Acho que não vou ter necessidade
de um pesqueiro para me levar a Lisboa. Alcançar a cidadania portuguesa, no
presente, está bem viável para descendentes.
Meu avô paterno nasceu no
Concelho de Sabrosa, 1860. Chegou ao Brasil ainda no Império. Minha avó, em
Lisboa. Vou pedir essa cidadania aos 81 anos de idade, provavelmente nesta
idade não vá para lá residir, mas irei para rememorar os anos que ali vivi sob
o abrigo de um convênio entre a UnB e o Laboratório Nacional de Engenharia
Civil, valioso na minha formação profissional. Com a condição de cidadão
lusitano homenagearei meus maiores e terei a sensação de estar vinculado a uma
comunidade organizada, com leis, poderes decentes e respeito entre
instituições.
Se alguém estiver pensando que
essa providência tem a ver com tentativa de proteção de patrimônio, quero
informar que vivemos, minha mulher e eu, com nossas aposentadorias, ela do INSS
e eu de servidor público federal, como professor universitário, cujos proventos
sofrem constantes atentados, como se fossemos os grandes culpados do déficit
das contas públicas.
Não estou renunciando a minha
cidadania brasileira, mas dando um grito de desabafo por estar vivendo tempos
tão bicudos nesta terra sempre tão promissora. Brasil País do Futuro, como o
viu Stefan Zweig, e tão poucas vezes de algum presente.
Nós só precisamos de vergonha na
cara!
Crônicas da Madrugada. Danilo
Sili Borges. Brasília – jun. 2022
danilosiliborges@gmail,com
O autor é membro da
Academia Rotária de Letras do DF. ABROL BRASÍLIA
Saúde Professor Danilo! Pois, sucesso você já tem! Lembre-se que Gonçalves Dias, quando em Coimbra, já preconizava: "As aves que aqui gorjeiam, não gorjeiam como lá". . .
ResponderExcluirColorosos parabéns luso-brasileiros, meu caro Prof. Danilo.
ResponderExcluirO conteúdo e o nível de sua redação expressam sua grandeza de homem de bem e de intelectual.
"Os liquidar ex abundância cordis".
Corrigindo o computador:
ResponderExcluir"OS LOQUITUR EX ABUNDANTIA CORDIS"