UNIDOS POR PRINCÍPIOS?!
Nestes longos 20 dias, relaxei o
acompanhamento que faço da realidade nacional e mundial pelos meios de
comunicação que acesso. Dever de todo cidadão do mundo é formular hipóteses
sobre os fatos visíveis do futuro que o alcançará (e a todos) segundo seus prognósticos.
Alguns são mais descansados (ou
otimistas) dizem: “deixa pra lá, o futuro a Deus pertence”. Outros, além de
perscrutarem o porvir, atitude meramente intelectual, atuam no sentido de
moldá-lo ao seu jeito, são os que querem fazer a História. São muitos os jeitos
pretendidos, os interesses, os objetivos, daí os conflitos. Estes inevitáveis
moldam ao longo do tempo os caminhos da sociedade. Eventualmente formam-se
grandes maiorias em torno de objetivos significativos, mormente em situações de
grandes riscos sociais, como guerras, por exemplo, ou quando fortes interesses
de grupos poderosos estão ameaçados.
Recebi, nesses dias, o terceiro
volume da trilogia Escravidão, do jornalista-historiador Laurentino Gomes, que
nos tem dado, aos leigos em História, a oportunidade de conhecer importantes
fatos da história pátria por meio de obras magistralmente escritas com o rigor
científico indispensável. Assim tem sido com os seus conhecidos 1808, 1822 e
1889 e agora com a citada coleção.
Segurei meu ímpeto de
aprofundar-me na leitura, fiz o reconhecimento da obra: capas, índices, orelhas
e viagem em voo de drone por toda a obra. E aproveitei o cheiro agradável do
livro novo. Se você nunca fez isto, experimente!
Preferi, no entanto, retornar aos
tomos anteriores e atualizar as avaliações que havia feito durante a leitura –
a primeira em 2019, a segunda em 2021 – registradas às margens e aos pés das
páginas.
São muitas as janelas pelas quais
qualquer fato histórico pode ser estudado. A imbricação da realidade com a
particularidade do que se pretende pôr em foco, sempre perde quando o
especialista-historiador, para isolar o seu objeto de estudos, se vê obrigado a
realizar os cortes para realçar as relações interfronteiras do seu estudo.
Há como contar de muitas maneiras
a História de um país. São inúmeros os compêndios da história econômica do
Brasil, ou de sua história política, todos segmentados por períodos tão
pequenos quanto as lentes que desejemos usar. Até para os leigos como eu, que
pretendem um retrato de corpo inteiro de nosso Brasil, a Companhia das Letras publicou,
em 2015, Brasil: uma Biografia, das professoras Lilia M. Schwarcz e
Heloisa M. Starling.
Não há fato que perpasse mais a
História do Brasil que a Escravidão. A singular formação étnica do país é o fio
condutor que permite deslindar o passado, projetando-o no hoje e no amanhã. A
escravidão que persistiu ao longo da quase totalidade da nossa vida, como
colônia e como nação independente, deixou marcas e deixa registros diários da
sua existência. Afinal, não tão distantes estamos de 1888.
Dos meus registros e da minha
memória sei que o Brasil forjou sua riqueza nas minas e nas lavouras pelo braço
escravo, e que por isso, a elite de então se fez surda aos clamores
humanitários, mesmo no século XIX, contra a Escravidão e contra o tráfico escravo
pelo Atlântico Sul. Fomos dos últimos a abolir a escravidão e dos últimos a não
fazermos o comércio de escravos. Tudo isso se passava sob o consenso das
elites. Isto lhes era conveniente.
Com certeza que eleições livres,
garantidas pelo poder constituído, posse dos eleitos pelo voto direto e
universal são condições indispensáveis para a democracia. Já vivemos golpes e
quarteladas, não as queremos mais. Andam certas as elites em se reunirem e,
alto e bom som, afirmarem esses preceitos.
Combate à corrupção com punição
dos culpados, independência de poderes, práticas políticas de interesse
público, educação e saúde de qualidade...
Não! Não é preciso “ensinar padre
a dizer missa”, a sociedade que se mobiliza, em nome da democracia, contra um
eventual, hipotético e possível golpe, tem agora diante de si a
responsabilidade de fiscalizar o país para que ele siga por caminhos menos
tumultuados que aqueles que vem trilhando, por impeachments, lava jatos,
prisões de políticos e respectivos indultos ou algo similar. Democracia, mais
por convicção, que por interesse!
Os leigos em História esperam
melhores lições!
Crônicas da Madrugada. Danilo
Sili Borges. Brasília – Jul.2022
danilosiliborges@gmail.com
O autor é membro da
Academia Rotária de Letras do DF. ABROL BRASÍLIA
Danilo - suas fontes são as melhores possíveis - Laurentino gomes - vou começar a ler escravidão após ler os 3 últimos do Laurentino , escritor sério e honesto. Analisar o papel das elites neste cenário traz a melhor visão do q possamos esperar pro futuro. Como sempre estamos sintonizados. ABS. Ronaldo carneiro
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