CADÊ A COERÊNCIA?
Pelo Vasco, por exemplo: o velho
clube de São Januário pode andar repetindo a série B, que a minha esperança não
esmorece e sempre, a qualquer lampejo de recuperação, o coração bate forte a
espera do retorno aos melhores e gloriosos dias.
Com o MDB também têm sido assim. Há décadas
jogando nas séries B ou C da política nacional, depois de ter sido o couraçado
da resistência democrática no infindável mar do período ditatorial, torpedeado,
viu cair tantos dos seus soldados, continuou na luta que desembocou no
movimento das “Diretas Já”, na eleição de Tancredo e na Constituição de 88. Apequenou-se,
encalhou nos bancos de areia do mar raso da corrupção e tornou-se precursor do
Centrão e pai de um Tucano, que hoje morre depenado e sem descer do muro.
Os velhos portugueses esperaram por
anos nas praias o retorno de Dom Sebastião, o rei desaparecido na batalha de Alcácer-Quibir na África. Até Antônio Conselheiro o aguardou em
Canudos séculos depois do fato histórico, com narrativa mística. Eu, homem do
meu tempo, para salvar o Vasco da longa fase nos andares inferiores do futebol
anseio por craques que possam reviver as glórias que nos deram Ademir Menezes,
Roberto Dinamite, Romário.
O carcomido casco da grande belonave,
cuja imensa carcaça sobrevive do espólio rico das tradições de moralidade e
coragem que deixaram Ulysses Guimarães, Thetônio Vilela, Dante Oliveira, Barbosa
Lima Sobrinho, Alencar Furtado tem visto seu cabedal ser dilapidado por
personagens soturnos que se enquistaram em seus porões, ratos conhecidos que vêm
conspurcando esse rico patrimônio intangível, a gloriosa memória da agremiação,
que faz parte da história brasileira, nas barbas do povo, que assiste impotente
suas falcatruas impunes, por décadas.
Restam, é bom dizer, a bem da
verdade, no MDB personalidades valiosas e ilustres políticos. Cidadãos como eu,
torcedores fiéis, que a cada jogo, isto é, a cada eleição, torcem pela vitória desses,
tiveram há alguns meses um alento: O episódio no qual a senadora Simone Tebet,
que apoiada pelo que há de bom no partido, lutou e venceu para impor sua
candidatura à presidência da República como a 3ª Via, tentando furar a
polarização, convenientemente compactuada entre Bolsonaro e Lula, sabendo
ambos, das grandes rejeições que amargavam entre a população.
Em maio publiquei a crônica “Simone
Tebet e a 3ª Via”, na qual expressei minhas esperanças em sua candidatura como
fator de moderação e de rompimento da estúpida polarização que está atrasando o
desenvolvimento do Brasil. Em 7 de agosto repeti a dose, desta vez com o texto,
“Mulheres que estão causando”, cada vez mais acreditando na capacidade da
senadora para liderar, um movimento alternativo para novos caminhos para o
País, reconstruindo o MDB, desatolando o couraçado do lodo fétido do esgoto da
política.
Sabia da quase inviabilidade do
êxito da sua candidatura, mas via na oportunidade da sua crescente liderança
fazer o MDB ressurgir. Afinal, a parte sã tinha apoiado sua candidatura, seu
nome tinha alcançado dimensão nacional, principalmente pelas boas atuações nos
debates.
Terminado o primeiro turno das
eleições, qual não foi a minha surpresa ao ver a Senadora prestar seu apoio a
um dos lados, justamente àquele que ela tinha acusado de corrupção e cujo
candidato, sua vice tinha relatado de ter determinado violência contra seu pai
para tomar-lhe dinheiro para campanhas do PT, mediante arma apontada para sua
cabeça.
Os que estiveram contra Tebet na
viabilização da sua candidatura no MDB apoiaram o PT desde a primeira hora. Com
a nova decisão de Tebet todos estão juntos, apoiando Lula. Juntos como farinha
do mesmo saco?
A base eleitoral da senadora –
Mato Grosso do Sul – é estado cuja economia baseia-se no agronegócio, que será
afetado pelas ações de invasão de propriedades rurais, se o seu, agora,
candidato Lula, vier a ser eleito. O que começará a acontecer no próximo 2 de
janeiro. Ela que se explique!
Dos meus complicados amores, o
que tenho de dizer, é que: No Vasco não surgiu um novo Romário, o antigo está
no Senado. No MDB, a comandante não desencalhou o navio, abandonou a tripulação
à sua própria sorte – os bons –, juntou-se aos adversários de ontem, esqueceu-se
do que disse.
Pelo MDB, vou continuar a esperar
o Dom Sebastião que há de vir para desencalhar a grande nau, que um dia salvou
o Brasil do arbítrio. Talvez seja o próprio Ulysses, que como o rei português nunca
teve seu corpo encontrado.
Senadora Simone Tebet, cadê a
coerência? Você perdeu a oportunidade de fazer História!
Crônicas da Madrugada. Danilo
Sili Borges. Brasília – Out.2022
O autor é membro da
Academia Rotária de Letras do DF. ABROL BRASÍLIA
Lamentavelmente, a simone tebePT também é a minha mais recente decepção política!
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