2023 VAI COMEÇAR
Danilo Sili Borges
Essa história de que, no Brasil,
o ano só começa depois do carnaval é mesmo verdade! Não se trata de mais uma
das muitas “narrativas” – palavra que passou ao uso dos atores do cenário
político, para descrever situações inventadas, hipotéticas pelas quais eles
pretendem fazer com que você, eu e muitos outros nelas acreditemos,
divulgando-as pelos meios de comunicação, que vão dos formais às fake news.
Neste domingo vivemos o ápice da
festa popular. Alegria, corpos quase desnudos, máscaras para que uns pareçam o
que não são, ou que sejam, sem parecerem, o que realmente são no restante do
ano, com fantasias “de rei, ou de pirata ou jardineira”, como figuraram Vinícius
e Tom.
Nestes primeiros 50 dias tudo foi
festa, batalhas de confete, prolegômenos. O grande baile continuou sendo o da
Praça (não confundir com a Praça é Nossa). Alguns poucos mascarados vieram ao
proscênio, dançam suas danças do passado, fazendo o que podem para não perder o
ritmo, que já não atende aos joelhos enrijecidos. São os mesmos de outrora,
todos facilmente identificáveis. As mesmas “narrativas”. Baixa um sentimento de
“déjà vu”, como se a Mangueira repetisse o enredo e o samba ancestral, na voz
do saudoso Jamelão, coisa boa, mas antiga!
No fundo do palco da Praça há uma
miríade de figurantes esperando para se apresentar, o dono do bloco não dá
espaço. Ele dança sozinho, com a leveza e a autoconfiança da mais vivida
porta-bandeira, ele é a escola inteira...
Salvo alguns, que estão fazendo
par com o dono da festa, desbotados mestres-salas, os do fundo compõem o restante
do numeroso quadro de ministros do governo que se está a iniciar.
Possivelmente, você não conseguiu
identificar o Ministro(a) da Educação e nem sabe resumir qual é a sua proposta
para essa fundamental área do governo.
O mesmo ocorrerá para o(a) Ministro(a)
da Ciência e Tecnologia, o(a) Ministro(a) da Saúde e o(a) do Esporte, mesmo
estando em sua área o futebol, o vôlei e a Fadinha do skate.
E o que dizer dos outros de menor
popularidade?
Apliquei esse teste em pessoas da
minha convivência, mas deixo de comentar os resultados, experimente você mesmo
e não se surpreenda.
Quer ir um pouco mais adiante?
Pergunte quem é o Ministro da Indústria e Comércio** e quais os planos que o seu
ministério está propondo para recuperar o setor industrial brasileiro que está
se dissolvendo, como aquela coisa na água. Parte da resposta vou dar aqui: o
Ministro é o Vice-Presidente da República.
Todos esses assuntos deveriam ter
sido apresentados como planos de governo nos debates eleitorais. Não o foram,
simplesmente, porque não existiam. Os risíveis encontros serviram como arena
para chistes e pegadinhas entre candidatos mal preparados.
O cidadão que assiste a pelo
menos um jornal televisivo por dia, sabe que há uma disputa enorme entre o
presidente Lula e o presidente do Banco Central, Campos Neto, em torno da Selic
(taxa de juros) arbitrada por aquele organismo em 13,75%, para evitar que a
inflação dispare no país. Não tenho partido na disputa pessoal. Sei que o
Congresso Nacional decidiu, em 2021, que o Banco Central deva cuidar da
política monetária para impedir que esta seja contaminada pela política, com
sua habitual volatilidade, e que a inflação fuja ao controle, como já havia
ocorrido outras vezes no país, com os danos conhecidos e amargamente sentidos.
O que percebo da minha modesta
torre de observação, nas imediações do Paranoá, é que o presidente quer taxa de
juros mais baixas, ainda que isso possa causar mais inflação, para poder botar
em prática seus projetos pessoais, a qualquer custo. Por outro lado, o BC tem
missão institucional a cumprir e dela não abre mão.
Antes do BC gozar da
independência legal mencionada, aí pelos anos, 2009-2016, os governos de então estouraram
a economia nacional, gerando enorme crise de liquidez, daí a decisão legislativa
de se passar a ter o BC com as características atuais, como, aliás, é a prática
na maioria das democracias deste planeta.
Iniciar obras, terminá-las ou
não, conceder benefícios sociais à farta, sacar contra as gerações futuras,
definindo tarifas irreais para energia e preços subsidiados para combustíveis, limpa
currículos, garante popularidade, mas deixa heranças malditas.
O mundo continua caminhando a
passos largos no caminho do conhecimento, do desenvolvimento, da eficiência e
da produtividade. Não podemos perder tempo com conversas sobre temas
pacificados pelos que conhecem os caminhos que levam ao crescimento equilibrado
do país.
É hora de descer dos tamanquinhos
do protagonismo, cujo horizonte colimado é a continuidade no poder, a qualquer
custo.
Quarta-feira de Cinzas o carnaval
acaba, o ano começa, é hora de botar o bloco do governo na rua para trabalhar,
sem “narrativas”.
Crônicas da Madrugada.
Brasília, fevereiro, 2023.
Danilo Sili Borges
Membro da Academia Rotária de Letras do DF. ABROL BRASÍLIA
Diretor de Ciências do Clube de Engenharia de Brasília
** Ganha um picolé de abacaxi quem souber o nome completo do
ministério.
Sim até agora políticos fizeram o q todos fazem - falar mal dos outros e bem de si mesmos!!!! 37 ministérios e o caminho p o caos. Lula tem um discurso cativante porém suas ações buscam aparelhar o Estado p um projeto de poder. Estou pessimista. Ronaldo carneiro
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ResponderExcluirDanilo, não nos conhecemos, mas somos dois velhos (de algumas décadas) Profs. Universitários, recebo sua crônicas por mail, e as leio na maior parte das vezes que recebo. Gosto de seu tom de vovô, experiente da vida e conservador, sou de esquerda, mas sou avô também e gosto de pensar que também sou experiente, mas você me lembra parentes e amigos queridos. Mas cada um de nós vê Brasília (ou ou o governo de S. Paulo ou a Prefeitura de Campinas) com os óculos que tem. Assim vou discordando, e assim acho que Lula vai muito bem e conheço sim, da imprensa não corporativa os ministros de Lula, mas sigo um leitor seu quase fiel, e o quase é por conta do tempo que os mails e zaps mas também os livros da vida nos tomam. Em tempo gostei muito de sua crônica da UNB 77, sou tb engenheiro, de uma turma pouco mais antiga em outra Escola e gostei integralmente de sua crônica. Abraço cordial
ResponderExcluirMatutando bem Professor Danilo, mais vale ser um ministro desconhecido do que um ministro conhecido por ilícitos praticados anteriormente. . .
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