ANTES PREVENIR QUE LAMENTAR
Danilo Sili Borges
Repito nesta crônica o título que
dei, como relator, ao trabalho com as conclusões da comissão formada pelo
CREA-DF, em 2009, sobre os riscos que corriam pontes e viadutos do DF naquela
época. Entregue ao governo de então, o documento não produziu resultados.
Em fevereiro de 2018, lamentamos
o colapso do viaduto da Galeria dos Estados. Logo ao assumir, em 2019, o governo
criou sob a liderança do Secretário de Obras, o competente engenheiro Izídio
Santos Junior, comissão formada por engenheiros do GDF, de entidades
profissionais e do ensino de engenharia com a finalidade de cadastrar todas as
pontes e viadutos do DF e, de cada uma, elaborar diagnóstico de risco e encaminhar
as urgências para as providências necessárias. Pelo que sei, a atenção sobre as
pontes e viadutos do DF é agora permanente.
Pela inobservância aos cuidados
que devem ser tomados em relação aos fenômenos naturais extremos, as notícias dão
conta de milhares de vítimas na Turquia e na Síria soterradas sob os escombros
de centenas de edifícios que desabaram pela ocorrência do forte terremoto (7,8
na escala Richter).
Para áreas como aquela, de alta
atividade sísmica, as ciências que embasam a engenharia estrutural já normatizaram
procedimentos de projeto e construtivos que minimizam os danos nas edificações.
Regiões sujeitas a terremotos, que seguem as normas, quando atingidas por este
fenômeno, sofrem danos menores se comparados aos que não as observam.
Turquia é País desenvolvido,
industrializado, com boas universidades e possui legislação antissísmica. Após
o desastre, o noticiário internacional denunciou que existe prática local que
permite que edifícios construídos sem atendimento à citada legislação possam
ser regularizados mediante pagamentos de taxas ou multas. Talvez uma forma
política de acomodação e de arrecadação para o Estado.
As ciências geológicas explicam o
porquê dos terremotos, mas não nos explicam quando e onde ocorrerão. A
meteorologia, pelos registros hidrológicos e por informações dos satélites,
prevê intensidade e localização de chuvas, ventos e diversos outros estados da atmosfera,
mas não com exatidão matemática.
Carioca de nascimento,
acostumei-me às enchentes de certos logradouros, mas parece-me que as mudanças
climáticas agudizaram os problemas. Sem consultar registros hidrológicos,
arrisco-me a dizer que as chuvas são atualmente muito mais intensas, exigindo
tratamento de drenagem urbana e rodoviária seguindo procedimentos diferenciados
e atualizados. Há que se adaptar os parâmetros técnicos ao novo normal
climatológico.
Ao longo de todo o litoral
brasileiro são milhares de recantos maravilhosos com sol, descanso, pescaria e
no carnaval alegria e confraternização, cujo acesso se dá pela litorânea BR
101. Os municípios praianos do norte do estado de São Paulo colocam à
disposição dos turistas e visitantes dezenas de praias de beleza e conforto
inigualáveis. A proximidade com o Rio e São Paulo, garante que nos períodos de
férias e de feriados prolongados essas cidades multipliquem suas populações.
Possivelmente, nos dias 17 e 18,
muitos tenham ouvido, em jornais da TV, o aviso de chuvas excepcionais para a
região, de ventos fortes e mar agitado, e até posto em destaque o perigo para
os moradores das áreas de risco. Melhor teria sido prevenir, hoje lamentamos!
O problema é recorrente, chuvas fortes,
temporais destrutivos acontecem todos os verões na Região Sudeste. A localidade
varia: Petrópolis, Friburgo, Teresópolis, Morro do Bumba em Niterói, Angra dos
Reis...
Situações de risco e desastres
ocorrem por todas as regiões do país: lembremos das recentes enchentes na Bahia.
Só para recordar: Incêndio no Pantanal, deslizamentos de encostas, desabamentos
de viadutos e prédios, construções ilegais. Duas características podem sempre ser
destacadas:
1- Elas raramente foram objeto de
cuidados preventivos e sistemáticos;
2- As ocorrências são quase
sempre de jurisdição municipal ou estadual.
São problemas globais cujas
soluções são do escopo das engenharias, da geologia, da meteorologia. A
mitigação dos problemas que as mudanças climáticas estão gerando devem ser
resolvidas por profissionais dessas áreas e o Brasil os tem da melhor
qualidade. É preciso reuni-los – os problemas são multidisciplinares – com o
propósito de equacionar os problemas, de orientar para que normas, leis e
determinações sejam alteradas ou criadas de acordo com as mudanças ambientais. A
questão é técnica e por aí tem que ser conduzida.
Como velho engenheiro, creio na
tecnologia para resolver problemas. Por exemplo, ocorreu-me pensar que para
áreas sujeitas a chuvas que fogem aos padrões estatísticos registrados tenhamos
que adaptar nossos projetos de drenagem a novos parâmetros, tanto para áreas
urbanas quanto rodoviárias.
Talvez a engenharia florestal e a
ambiental tenham como aumentar a estabilidade de encostas que eram estáveis
para um certo índice pluviométrico, mas que agora podem apresentar risco de
deslizamento.
Ninguém mora em área de risco
porque é viciado em adrenalina. Logo após a catástrofe, surge uma autoridade
dizendo, “Vamos transferi-los para um local seguro”.
Ao transferi-la, outra família
carente virá ocupar aquele lugar perigoso. Poderia a engenharia fazer algo para
eliminar os riscos locais? Em muitos casos sim! São desafios que se põem ao
engenheiro, cujo objetivo principal é a garantia da incolumidade das pessoas.
Engenheiros são resolvedores de
problemas. Eles não sabem tudo, por
exemplo, quando vai ocorrer o terremoto, ou a quantidade exata da chuva que vai
cair numa tarde. Mas eles conseguiram transformar luz do sol em eletricidade e
colocar seu fígado e seu coração... sob os olhos argutos do seu médico.
Crônicas da Madrugada
Brasília, fevereiro de 2023
Danilo Sili Borges
danilosiliborges@gmail.com
Membro da Academia Rotária de letras do DF. ABROL BRASÍLIA
Diretor de Ciências do Clube de Engenharia de Brasília
Perfeito Danilo - engenheiros e equipe multid
ResponderExcluirIsciplinar devem sempre serem ouvidos.