É TEMPO DE PENSAR O TEMPO


Por Danilo Sili Borges


Quebrar os problemas em pedaços é lição antiga, a mais valiosa para resolvê-los. Dividir o tempo ordenadamente foi a maior sacada da humanidade. A natureza deu a grande contribuição nesse sentido com seus ciclos bem marcados: dias e noites; outonos tristonhos e coloridas primaveras; em sucessão, luas plenas ou partidas no céu. De tempos em tempos, duras e previsíveis crises de TPM.
Um importante ciclo é o ano. Isso nos propicia a avaliação do que finda e o planejamento do que se inicia a cada 1º de janeiro. A bem da verdade, tratando-se de um ciclo, a qualquer dia está terminando um e começando um novo ano, é só questão de convenção. Certamente há incomensuráveis benefícios em todos considerarem um mesmo dia para início de um novo ciclo para todas as atividades do planeta.
Aqui estamos nós em época de avaliação do ano que finda: história e lições. Do que se inicia, planejamento e esperanças, cuja matéria prima é o tempo, que vamos, ao nosso modo, tentar retalhar para fazer caber tantos quantos sejam nossos projetos: o pessoal, o profissional, o familiar, o de cidadão e outros com suas dimensões e formas, configurando um quadro dinâmico, como um quebra-cabeça de encaixe, que nos cabe ir ajustando ao longo da execução nos próximos 365 dias.
Nas atividades literárias, os ficcionistas, os romancistas, por exemplo, criam, a seu bel-prazer, tempos e espaços imaginários, manipulando-os e fazendo neles viver seres que recebem capacidade de atuarem nas nossas emoções, dentro desse que é o antigo e verdadeiro mundo virtual. Já o cronista está amarrado ao tempo atual. O tempo, o que dá nome a sua atividade   Cronos – é o de hoje, com ligeira concessão ao passado recente e ao porvir previsível, estando este atado à trave do agora pelas cordas fortes da realidade.
Todos, afinal, têm que lidar com os tempos que lhes são disponíveis. O ministro Paulo Guedes, por exemplo, considera o tempo da Economia numa proposta liberal, cujo alvo imediato é reduzir o Estado, tornando-o eficiente e estimulando a atividade privada. Com a nitidez que sua luneta, de ótima qualidade, adquirida em Chicago, ele terá que conciliar coisas difíceis em 2020, como promover a reforma administrativa, para gastar menos com o funcionalismo público, responsável por importantes despesas e ao mesmo tempo aquecer a economia que depende do consumo, bastante deprimido, e que encontra na massa salarial recebida pelos servidores públicos, parte substancial dos consumidores de bens duráveis. Uma sinuca.
Sérgio Moro não tem que se preocupar em gastar tempo para provar porque, ao prender bandidos travestidos de empresários e de políticos, não prejudicou a economia ou provocou desemprego. Essa história é contada por quem come na mão dos meliantes. O povo sabe da verdade. A fantasia de Lobo Mau não cabe no manequim do ministro, mas a vestimenta usada para afastar da sociedade os que matam crianças e vovozinhas com suas roubalheiras foi a toga, a qual lhe valeu o reconhecimento do povo brasileiro.
Ainda nos exemplos, podemos especular no que devem estar matutando figuras importantes do cenário político. Bolsonaro e Lula estarão enfrentando questões semelhantes. Ambos quanto à velha história, que acompanha os homens públicos desde a velha Roma: “À mulher de Cezar não basta ser honesta, tem que parecer honesta”. O problema de cada um está mesmo em que há fortes dúvidas a respeito da honestidade, não das suas esposas, ambas merecedoras de todo respeito dos brasileiros, sendo que a de Lula é já falecida.  O Presidente Bolsonaro está às voltas com acusações à conduta de seu filho e Lula, tendo que provar sua própria honestidade e inocência numa bateria de processos, alguns já julgados.
Dizem que o tempo é o melhor remédio. Mas pode também ser fortíssimo veneno.
Crônicas da Madrugada, Danilo Sili Borges. Brasília – Dez. 2019

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