PRESENTES DE NATAL

Por Danilo Sili Borges


Sejamos ou não religiosos, cristãos, o Natal é o festejo do nascimento de Jesus. Os presentes que trocamos entre nós talvez tenham, remotamente, origem no que foi por Ele dito: “Amai-vos uns aos outros, como eu vos amei”, Jo 15,22-31, na Sua pregação centrada no Amor, ao propor reformar a Sua própria religião.
A quadra natalina é época em que deixamos aflorar os nossos afetos e os materializamos nas prendas que oferecemos a quem amamos, àqueles que têm significância para nós. A escolha do objeto a ser ofertado acaba por expressar o nosso conhecimento da personalidade, das necessidades, das preferências de quem se vai presentear. E isso exige reflexão carinhosa sobre o outro. O reverso da medalha está em sermos destino da ponderação dos que nos vão mostrar amor e atenção pela nossa existência e proximidade com suas vidas. Há grande conspiração para o clima festivo e emocional, com luzes, cores e canções.
Para crianças de pouca idade, o cultivo do mito do Papai Noel continua forte. Ao lado de ser um estímulo às vendas do comércio, o personagem e a fantástica história que o cerca têm um sentido educativo, antigo e profundo. Contestado, é verdade, pelos que esposam teorias modernas que entendem que contar inverdades às crianças é pernicioso a suas formações. Pessoalmente não creio nisso. O mundo infantil é, por si mesmo, onírico, fantasioso, mágico. Pelo contrário, penso que as crianças, às quais sejam impedidos os sonhos desde muito cedo, às quais são impostas as duras realidades do existir, tantas vezes em ambientes incompatíveis com a vida digna, é que têm alta probabilidade de desenvolverem comportamento antissocial. A imaginação e o sonho antecedem e preparam os grandes e os pequenos feitos humanos.
O direito aos devaneios existe em qualquer idade ou circunstância. Todos ansiamos por um porvir melhor, mais confortável, seguro, despreocupado. Não é por outro motivo que as filas em frente às lotéricas estão enormes em busca da Mega da Virada, com seus atrativos milhões.
Não apenas o indivíduo tece em sua imaginação as quimeras das melhorias pretendidas, a coletividade também o faz e expressa de diversas maneiras seus anseios. Cabe à organização política o encaminhamento para que essas demandas sejam consideradas e ordenadas dentro das possibilidades da sociedade. A cidade, o bairro, a comunidade aguardam a ação dos governos para a sua evolução. O Brasil como um todo também. De algum modo a maioria dos cidadãos já percebe que enquanto suas lideranças continuarem a se agredir e a pregar a violência como forma de ação política, ao invés de propor alternativas para solucionar questões concretas, sempre nos faltará força para nos transformarmos numa sociedade produtiva e equilibrada.
As organizações administrativas dos governos, que se sucedem periódica e democraticamente, se lastreiam em visões ideológicas distintas, mas certamente há um denominador comum sobre o qual as diferentes tendências políticas e ideológicas podem concordar. Esta será a base da construção de um Estado Nacional, sólido, de amplo conhecimento de todos os cidadãos, exposto em todas as escolas, em todos os postos de trabalho, de onde se poderá edificar um país rico, forte e justo. As diversas tendências devem se conscientizar que o Brasil já atingiu um estágio de desenvolvimento econômico e social em que nenhuma ideologia será capaz de eliminar as demais. A convivência é inevitável, e é de bom senso que se dê civilizadamente, no interesse do país e da sua população, principalmente a mais carente. Imaginar que será possível ter governos hegemônicos é ter raciocínio anacrônico, destinado ao fracasso, mas que leva ao atraso e a muitas dores. Que os extremos do espectro político reflitam.
O que o brasileiro espera neste Natal é que as lideranças sensatas, e elas existem em todas as orientações ideológicas, se proponham a dar a este maravilhoso país, um presente, com validade para muitíssimos anos: um Estado Nacional consensual, como se fosse uma Cláusula Pétrea, sobre o qual todas as tendências desenvolverão suas políticas, de modo que quando no poder, suas administrações, se darão, preservando-o, portanto, sem destruir o nosso patrimônio físico, econômico e moral.
Ao Brasil um Feliz Natal!
Crônicas da Madrugada. Danilo Sili Borges. Brasília – Dez. 2019

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