PANDEMIA E PANDEMÔNIO
Por Danilo Sili Borges
A História mostra que a
humanidade tem sofrido pandemias destruidoras ao longo dos séculos. Não é,
portanto, de estranhar que esta nossa geração tenha que enfrentar este golpe
inesperado, mas obviamente possível, como se sabia pelos antecedentes.
O pandemônio, penso, é também
ocorrência antiga entre os humanos. O perigo iminente, pela desorganização que
o medo provoca, pode favorecê-lo. Os espertos de todos os tempos manipulam a
turba nessa situação de fragilidade para atingir objetivo que não querem ou não
podem declarar. Desta vez não está sendo diferente.
Usar a pandemia para atingir
objetivos políticos pessoais e egoístas é incompatível com o momento que
estamos vivendo e provoca o pandemônio que é também doença, esta social grave
de imprevisíveis consequências.
A velocidade de espraiamento da
calamidade, por um lado, torna-a mais grave que no passado, tendo em vista a
mobilidade das pessoas no mundo atual, levando o vírus agressor a todos os
cantos do planeta rapidamente. Por outro, contamos hoje com meios científicos
que permitem conhecer as origens, os processos de desenvolvimento e de
contágio, os pontos vulneráveis do agente patológico e com certeza os meios de
combatê-lo eficazmente. Tudo está em acelerado ritmo de elaboração. Há, é
certo, defasagem, entre o espalhamento da peste e o estabelecimento dos meios
eficazes para contê-lo ou eliminá-lo.
Nas últimas décadas, neste mundo
da alta tecnologia, fomos condicionados pelas histórias em quadrinhos e pelos
filmes de super-heróis a nessas situações críticas ligar para a Lois Lane no
Planeta Diário e chamar o Super Homem. Desta vez o coronavírus é feito de kriptonita
chinesa e até o Trump está enrolado sem saber bem a quem chamar. Falhando os dotados
de superpoderes, a quem devemos apelar?
No momento, a OMS e a medicina
aconselham o isolamento social como a melhor forma de retardar o espalhamento
do surto para evitar o colapso dos sistemas de saúde em qualquer país. Um longo
período de isolamento levará a redução da atividade econômica com efeitos
devastadores, inclusive e principalmente para a manutenção e o urgente
crescimento do sistema público de saúde que será anormalmente demandado. Para
evitar esse estresse econômico há que se buscar meios para se alcançar os
menores danos possíveis à economia.
Os custos impostos à sociedade
pela paralização das atividades econômicas com o isolamento em curso
tornaram-se preocupação do presidente da República, do presidente da Câmara dos
Deputados, de empresários e de todos os que se interessam pelos destinos do
país.
Claro que é preciso buscar dentro
da condução da calamidade que se abate sobre o Brasil as melhores maneiras de,
protegendo a população da infestação pela COVID-19, não jogá-la num segundo
momento numa crise econômica de proporções também calamitosas. Estadistas se
revelam nessas ocasiões. Os políticos com esse pendor e essa grandeza, em
momentos como este, esquecem seus projetos pessoais, entregam-se de corpo e
alma a conduzir seu povo, como Churchill liderou os britânicos nos duros dias
da II Guerra.
Infelizmente, o que,
constrangidos, vimos esta semana, foi a luta política, a mais mesquinha, pelos sub-repticiamente
já lançados candidatos à Presidência da República em 2022, duelando pela TV. O
corona vírus maligno, mas ingênuo, era
apenas pretexto para suas exibições e para mostrar suas habilidades. Uma
lástima. No meio disso tudo, a mídia que também tem seus candidatos e seus
interesses nunca explícitos e nem sempre lícitos, pondo álcool na fogueira. Nós,
em prisão domiciliar, assistindo ao pandemônio da política nacional, num
desempenho lamentável por personagens tão desqualificados.
As principais figuras do poder e
pretensos líderes no palco das coletivas, das reuniões por vídeo conferências, das
bombásticas e agressivas e por vezes cômicas entrevistas nos palácios, nas suas
entradas ou saídas e nos salões coloridos do parlamento, onde um presumido
primeiro-ministro supõe que dirige o país, tentando usurpar poderes que não lhe
cabem. Como estamos na época dos pan, só faltava mesmo essa: uma pantomima, com
atores tão vulgares.
Que sejam os Céus a nos protegerem!
Crônicas da Madrugada.
Danilo Sili Borges. Brasília – Mar.2020
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