PARA FAZER A COISA CERTA
Por Danilo Sili Borges
Estou como a andorinha da fábula:
levando a gota d’água no bico como contribuição para apagar o incêndio da
floresta.
A semana terminou agitada com a
demissão do Ministro Moro e a reação do Presidente em pronunciamento à Nação. É
difícil fazer análises factuais no calor das notícias que se sucedem nos meios
de comunicação. No momento, as opiniões lastreiam-se mais nas preferências por
um ou outro personagem. Nestas crônicas procuramos estar com os olhos abertos e
não nos deixarmos arrastar para posições que não estejam lastreadas em fatos.
Sobre a questão Moro, vou deixar a poeira baixar e comentar no próximo domingo.
Para hoje, economia.
A tônica do governo, até recentemente,
tinha sido perseguir o equilíbrio das contas públicas por entender que esse
parâmetro é o principal indicador de economia sadia. Por ele, os Estados Unidos
não estariam incluídos no rol desses privilegiados. O risco de a economia
governamental de qualquer nação colapsar representa perigo endêmico, que pode
arrastar seu sistema econômico-financeiro ao desastre. Foi o que se procurou
evitar por aqui, após uma década de irresponsabilidade fiscal. Naquelas
circunstâncias, tudo OK, apesar de passado um ano os resultados terem sido tímidos.
A busca do decantado equilíbrio terá
que ser postergada, tendo em vista as despesas com o combate à pandemia. Passada
a crise, o país deverá buscar o crescimento puxando-se para cima por seus
próprios cabelos. Vamos ter que esquecer a economia de papéis, o tal “mercado” e
partir para a economia real, a do empreendimento, a da ousadia, a das obras. Os
investidores querem realidades e não especulação no mercado secundário, isso já
acontecia antes do vírus, daí os PIBinhos.
Causa estranheza que em plena
crise que leva a consequências econômicas impensáveis, autoridades da área
econômica não tenham percebido que as circunstâncias mudaram e continuem com o
discurso de subserviência ao “mercado”, e tentem desmontar o Sistema S e
desacreditar o funcionalismo que estrutura o que há de melhor e permanente no
serviço público do país, entre outras crendices ditas liberais.
Vai aqui um convite ao ministro
Guedes. Escolha algumas horas para relaxar e fazer uma pesquisa de campo. Pode
ser hoje no almoço. Se estiver em Brasília, vá ao Senado, ou ao Ministério
Público, ou ao Ministério da Justiça, e desfrute de um dos restaurantes-escola
administrados pelo SENAC.
Mas se preferir, em qualquer
local do Brasil, vá à cozinha do melhor restaurante e pergunte, do cozinheiro
ao garçom, onde eles aprenderam suas profissões. Faça o mesmo com o marceneiro
que está fazendo o armário da sua casa, ao mecânico do seu carro, a enfermeira
que colhe seu sangue para exame. Sua esposa deve saber as resposta da cabelereira
e da manicure que a atende. Faça essa pergunta nos hospitais, nas fábricas, nos
escritórios, nos laboratórios. A resposta será: numa escola do Sistema S.
O pessoal de atividade
intermediária é formado pelo Sistema S. Não há outra instituição fazendo isso.
Nosso sistema educacional forma doutores, o oficial está falido, o particular é
um negócio. Há que considerar o SESI e o SESC que prestam serviços sociais aos
trabalhadores e suas famílias.
Como engenheiro, sei bem o que é contar
com colaboradores oriundos do SENAI. Tremo em pensar que se pode estar cogitando
acabar com esse patrimônio, porque alguns empresários, sem visão de economia,
querem economizar quirelas incidentes nas folhas de pagamento. Não entre nessa,
Ministro.
Se existem problemas nas federações
controladoras do Sistema S, resolva isso pela legislação. Cure a doença, não
mate o doente!
Outra questão é a perseguição
injustificada ao funcionalismo. Só vi algo parecido quando FHC chamou os
aposentados de vagabundos, o que marcou o início do fracasso do seu segundo
mandato.
Funcionários públicos chegam aos
postos que ocupam por concorridos concursos públicos e disso se orgulham. São
vencedores. Não cabe desmerecê-los. Desvios devem ser corrigidos. A maioria
ocorre em cargos de confiança indicados por políticos. O funcionalismo é de
altíssimo nível. Se a estrutura do serviço público é emperrada, cabe aos
administradores, como V.Exa. cuidarem de azeitá-la, antes de colarem rótulos de
aproveitadores em trabalhadores sérios.
Só para lembrar. Militares também são servidores públicos, mas para
mexer aí é preciso coragem, né?
Crônicas da Madrugada.
Danilo Sili Borges. Brasília – Abr. 2020
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