SAÚDE PÚBLICA, AQUI E ACOLÁ


Por Danilo Sili Borges

O momento é oportuno para considerações sobre os sistemas públicos de saúde. Assisti, há poucos dias, o emocionado pronunciamento do ainda combalido Primeiro Ministro inglês Boris Johnson ao sair do hospital após ter sido acometido pela COVID-19. Marcante foram seus elogios ao NHS – National Health Services  – sistema público de saúde da Inglaterra existente desde 1948 e que sofre, dependendo da política dominante no país, ataques pelos custos que representa ao erário. Saúde, é verdade, à medida que se sofisticam os tratamentos pela modernização dos equipamentos e da farmacologia, torna-se cada vez mais cara. As despesas, na realidade, têm que ser enfrentadas social ou individualmente. Não há dúvida de que a forma atual compartilhada permite que os benefícios cheguem igualmente a todos.
Disse, textualmente, a autoridade britânica, que teve sua vida salva pelo NHS e teceu elogios ao tratamento recebido, destacando os enfermeiros que o atenderam. Em Londres, o Primeiro Ministro não procurou o Hospital Sírio-Libanês, nem o Israelita Albert Einstein e teve atendimento da mesma qualidade da que estava sendo prestada a qualquer outro paciente. Esses ingleses são realmente estranhos...
A nação mais rica e desenvolvida do mundo, no entanto, tem, como é sabido, um sistema público de saúde tímido, cujo atendimento não é universal, restringindo-se a idosos, deficientes e aos muito pobres. Fora disso, são os planos de saúde que, como por aqui, são caros, deixando parte da população a descoberto. Situação decorrente do modelo econômico-social que prevalece na sociedade norte-americana, bastante individualista, deixando, neste caso, as margens da sociedade sem proteção.
O governo Obama tentou reduzir o problema através do programa Obamacare que obrigava os cidadãos a terem plano de saúde, hoje desvirtuado pela administração Trump. A falta de um sistema de saúde universal talvez explique parte do problema que a grande nação do norte esteja encontrando no combate à pandemia.
O nosso SUS – Sistema Único de Saúde – foi criado com inspiração no inglês NHS. As diferenças econômicas e sociais entre os países são abissais. Quem tem condições mínimas no Brasil, não utiliza, em geral, o sistema público, a não ser em emergência, e tem dele péssimo conceito, em boa parte pela exposição que a mídia apresenta de filas de atendimento e de queixas de usuários por motivos variados.
Nos últimos dias tenho assistido as apresentações diárias do Ministro da Saúde sobre o andamento da Covid-19 no país. Paralelamente, recolhi dados que me têm deixado agradavelmente informado sobre o que o MS e, especificamente, o SUS executam neste imenso território e para a parte mais frágil de seus 210 milhões de pessoas, com presença em milhares de localidades de todos os 5570 municípios, cobrindo integralmente a saúde dos brasileiros da melhor maneira que pode. Destaquem-se as campanhas anuais de vacinação que abrangem integralmente os mais de 8 milhões de quilômetros quadrados do território.
Nesta hora de crise aguda, de guerra, na qual as armas são os EPIs, os respiradores, os leitos, as UTIs e que os soldados são os médicos, os enfermeiros e todo o pessoal da área da saúde, podemos dizer que temos uma grande força armada, pronta e disposta para a luta.
Por fim, quero aproveitar para pontuar um elogio aos funcionários públicos brasileiros. Os que assistiram a entrevista de 15/4, quarta-feira, do Ministro Mandetta e de sua equipe, observaram o grau de competência, preparo e comprometimento dos funcionários com a instituição, isso é dizer, para com o Brasil.
É importante ressaltar que desde há algum tempo os funcionários públicos vêm sendo apresentados, pelas autoridades econômicas do atual governo, como os grandes culpados pelo desarranjo econômico das contas públicas.  Até mesmo agora, em meio a crise, a única medida proposta para contenção de despesas, no bojo de tantos e tão altos (e necessários) custos para suportar o combate ao vírus foi o congelamento dos salários dos servidores, como se isso fosse suficiente para amenizar as consequências da pandemia, numa espécie de ideia fixa da equipe econômica.
Nessa questão, tal como nas histórias policiais de má qualidade, o autor para livrar a cara do fracasso, aponta logo o mordomo como sendo o criminoso.
Crônicas da Madrugada. Danilo Sili Borges. Brasília – Abr. 2020

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