OS AVALISTAS
Por Danilo Sili Borges
Ao apor a assinatura no documento
de crédito da dívida de outrem em quem confia, o avalista torna-se, legal e
moralmente, o principal devedor por aquele compromisso a ser saldado e empenha
nisso seu patrimônio pessoal.
Na maioria das vezes, no
tabuleiro do risco estão os bens materiais. Para os que as prezam, há riquezas
mais valiosas, construídas ao longo de toda uma vida, desde a mais tenra
juventude. É o que está ocorrendo, no momento, no mercado político do “toma lá,
dá cá” brasileiro.
Três bem sucedidos senhores em
suas carreiras, bem conceituados entre seus camaradas, cabeças brancas,
aceitaram ser os avalistas da manutenção do governo da República, ameaçado de
sofrer impeachment, que neste curto texto não vamos considerar quanto ao mérito,
mas que certamente esses experimentados militares o fizeram.
Com suas firmes presenças e ações
na equipe de governo têm criado a estabilidade necessária, talvez até para
evitar ao país um novo trauma como os vividos em 1992 e 2016. Homens
experimentados na profissão e na vida, certamente podem avaliar qualidades e
defeitos do governo – ao qual pertencem –, do próprio Presidente e dos que
pretendem tirá-lo do Planalto.
Os generais Augusto Heleno, Braga
Netto e Luiz Eduardo Ramos sabem como Bolsonaro é mercurial, impermeável a sugestões
e a conselhos, um cabeça-dura, ideologicamente definido, sem tergiversações.
Reconhecem que inicialmente montou um governo competente, com ministros
técnicos, não negociando cargos e não se expondo ao Congresso. Sabem da honestidade
pessoal do Presidente e a do governo que organizou. Nesse item, a mácula tem
sido os óbices que se percebem ao andamento das investigações contra um dos
seus filhos, razão primeira que o fez perder a colaboração de Moro na sua
equipe.
Os contendores que enfrenta na
política, na justiça, na imprensa não são santos. Acostumados por décadas a
levar vantagens junto aos governos, abiscoitando nacos do poder e de benefícios,
muitas vezes de pecúnia, em acordo têm se esforçado para afastar Bolsonaro, o presidente
incômodo, o que não lhes parecia difícil tendo em vista suas características
pessoais.
No governo, o Presidente imaginou
que poderia prescindir de uma base parlamentar fixa e formar blocos eventuais
por tema a ser aprovado, jogando para isso com o grande capital político
conquistado nas eleições. Seus insucessos no legislativo são comparáveis aos
que alcança no judiciário. O governo vai sangrando e mantém a popularidade
entre a parcela que acata bem o discurso da pobre polarização esquerda-direita,
que infelicita o país, que deve buscar consensos para vencer seus múltiplos
desafios, agravados com a pandemia.
Em busca da estabilidade do seu
mandato, a única mercadoria exposta no mercado das opções políticas era,
ironicamente, a turma do “toma lá, dá cá”, o famoso Centrão. Sabiam, seus
componentes, doutores nesse jogo do melhor posicionamento político-fisiológico,
que chegaria a hora do seu protagonismo e aguardaram.
O estrelado e ilibado trio,
estrategista por formação, assumiu o risco de negociar com esse grupo político.
E aos 15 meses, o governo passou a operar no sistema de coalisão – o famoso
toma lá, dá cá – negociando cargos por apoio, processo tão combatido no passado
por Bolsonaro, como fonte da corrupção nacional endêmica.
A manobra deixou a forte oposição
no Congresso, conduzida, em boa parte, pelos presidentes das casas congressuais
com força reduzida, afastando o risco de impeachment. Sabe-se que alguns do
novo time de apoio ao governo, não tem a melhor folha-corrida e isso trás ao
Planalto dúvidas sobre poder manter o que ele tem de melhor a apresentar aos
brasileiros: nenhum caso de corrupção registrado no primeiro ano de governo.
Os generais que alinhavaram a
aproximação do Governo com o Centrão, assumiram a condição de avalistas, de
fiadores morais, dessa operação de alto risco e, portanto, ficaram incumbidos
de fiscalizá-la ou de pagar pelo seu insucesso.
Nas operações financeiras, quando
são de risco muito elevado, tomadores e avalistas apresentam Carta de Crédito
emitida por instituição financeira de grande solidez que, em última análise
garante qualquer risco.
No presente caso, da política miúda, os brasileiros não gostariam de
saber que as instituições militares do Estado Brasileiro teriam emitido Carta
de Garantia para essa operação de risco.
Crônicas da Madrugada. Danilo Sili Borges. Brasília – Mai.2020
danilosiliborges@gmail.com
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