ELEIÇÕES COMPARADAS

 

Por Danilo Sili Borges

Com defasagem de poucos dias, tivemos oportunidade de acompanhar as eleições nos Estados Unidos e no Brasil. As diferenças entre os dois eventos políticos são abissais, mas pode-se também colher semelhanças, e este cronista procurou pôr o foco de sua atenção em ambos os aspectos, procurando ressaltar o que possa parecer ser vantagem de lá e de cá.

Eleições, com voto universal, para escolha dos detentores do poder e dos representantes do povo, é um ganho social recente praticado em parte ainda limitada do planeta. Cabe aos que detêm parcelas desses direitos, os políticos, preservá-los, aprimorando suas práticas, mas nunca o desvalorizando frente à opinião pública, para ganhos eventuais. 

Lá, disputou-se a presidência da república, em votação em que os eleitores, por estado, ao sufragarem o candidato de preferência, estavam decidindo quem seriam os delegados ao colégio que elegeria, por fim, o presidente. Assim, o mandatário americano não é eleito por voto direto e sim por um coletivo de delegados.

Por aqui, tivemos eleições municipais, em dois turnos para prefeitos e para vereadores nos 5570 municípios de todos os tamanhos, desde São Paulo, com seus 12 milhões e 300 mil habitantes, até Serra da Saudade, em Minas Gerais, com 776 moradores.

O que mais ressaltou de comum na fase pré-eleitoral, foi o apoio explícito do chefe do executivo brasileiro e de seus familiares ao candidato Donald Trump, mas que pela ausência  de comentários na imprensa americana não chegaram a ter nenhum efeito perceptível, isto é, ninguém, por lá, tomou conhecimento disso. A pirotecnia era para ser vista apenas por nós brasileiros, como num réveillon antecipado.

Não houve reciprocidade, e Trump não chegou a pedir pelos candidatos de Bolsonaro, talvez por isso eles tenham ido tão mal.

Semelhança nos dois processos eleitorais foi a antecipada acusação feita por ambos os presidentes de possíveis fraudes eleitorais nas respectivas disputas, antes da ocorrência dos pleitos, portanto com base em hipóteses, sem materialidade e em processos que guardam estreita similaridade com aqueles que os levaram a serem, em eleições anteriores, vitoriosos. Isso pode ser entendido como séria preocupação ou como uma justificativa prévia para a derrota que se anunciava.

O processo eleitoral americano, sem centralização nos moldes do brasileiro, organizado por cada um dos estados da federação, enseja maneiras diferentes de apuração de votos e de consolidação de dados, mas garante sempre aos que se sentirem prejudicados pedirem recontagem dos votos.

Entendo que as constantes reclamações de Jair Bolsonaro fazem sentido. Ele anda certo ao insistir na impressão dos votos em papel para garantir possíveis recontagens. Não há sistema criado por ser humano, ou mesmo os da natureza, que esteja isento da possibilidade de erro, defeito ou fraude. Como engenheiro, lembro-me bem que logo no início do curso fiz uma disciplina chamada “Teoria dos Erros”, cujos conhecimentos, suponho, ainda sejam ensinados aos engenheirandos atuais.

Não há equipamentos eletrônicos mais cuidadosamente projetados, construídos e mantidos que os que compõem as grandes aeronaves comerciais, mas é bom lembrar que a Boeing teve que retirar recentemente de operação o 737 MAX, por dois anos, um de seus mais modernos aviões, por defeito no software do equipamento, o que provocou acidentes com centenas de mortes.

Cabe sem dúvida a preocupação do presidente brasileiro em relação às nossas urnas eletrônicas. Se a elas se acoplarem o sistema de impressão dos votos, aí sim teremos o melhor sistema de eleições do mundo. E com aquele nosso jeito ufanista, gritaremos aos 4 ventos, “Oba! O campeão voltou”.

É correta a posição da Justiça Eleitoral, ao ter preocupação de que o número de pedidos de recontagem seja altíssimo. Mas isso se resolve como lá, nos Estados Unidos, se resolveu. Quem pede a recontagem paga as despesas com o procedimento. Se tiver razão será ressarcido e o valor será cobrado de quem errou ou fraudou. Não nos cabe, a nós cidadãos, sermos representados por quem não elegemos, ou termos que pagar por quem fraudou as eleições. Simples assim.

Afinal, já sustentamos partidos políticos com o Fundo Partidário, pagamos caríssimas eleições com o Fundo Eleitoral e ainda corremos o risco de fraudes ao não podermos ter recontagem de votos. Isso tem mesmo que ser corrigido antes de 2022.

Sobre contravenção e crimes consulte a quem sabe. No Jogo do Bicho, existe uma máxima: “Na dúvida, vale o que está escrito”.

Crônicas da Madrugada. Danilo Sili Borges. Brasília – Dez. 2020

danilosiliborges@gmail.com

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