FÓRUM ECONÔMICO MUNDIAL E O JOGO DE CADA UM
Por Danilo Sili Borges
Foi uma semana a calhar para quem
gosta de fazer análises de conjuntura. O pano de fundo é a renitente pandemia
que se recusa a ceder e que, pelo contrário, vai aparecendo com cepas novas do SARS-CoV-2,
criando o temor de que as vacinas existentes num determinado momento tenham que
ser reformadas.
O circo que anualmente arma suas
lonas em Davos para receber o Fórum Econômico Mundial, no qual as maiores
personalidades da política e da economia vão expor seus planos, visões e
preocupações com a atualidade e o porvir do planeta, este ano não levantou seus
mastros e está restrito a painéis e lives, por vídeo conferência. A
imprensa, internacional e nacional, não está dando ao evento a cobertura habitual
de quando o Fórum se realiza presencialmente no gelado paraíso suíço. Há a
expectativa de uma rodada presencial em maio em Cingapura, se a Covid permitir.
É uma pena! A coincidência do
Fórum com os primeiros dias da administração Biden nos Estados Unidos, que sinaliza
com alterações profundas na sua economia e nas suas relações internacionais, foi
providencial para que se possa tentar entender, de pronto, como estão sendo
posicionadas as pedras para esse complexo jogo de xadrez.
O governo Trump jogou no
tabuleiro do passado, com as estratégias que, então, tornaram os Estados Unidos
vencedores, mas que não dão margem a grandes cuidados ambientais. Daí a
política contra o controle ambiental daquele governo. Era nesse tipo de jogo
que o presidente vencido em novembro queria tornar a “América Grande Outra Vez”,
como ela o fora ao longo de quase todo o século XX. Tornaram-se exímios nessa disputa
o Japão, os Tigres Asiáticos, a China, com vantagens como a mão de obra barata.
Os democratas assumiram com alentado
rol de problemas: pandemia, direitos civis (supremacia branca), desemprego, equivocado
posicionamento anticientífico nas questões climáticas e ambientais,
distribuição de renda e pobreza e o principal deles: o país dividido
ideologicamente.
Nesta curta crônica interessa confrontar
as preliminares das posições americanas com o que se colheu no Fórum. Para
começar, o que propõe Biden para fazer o setor produtivo americano dar um
“cavalo de pau” na economia do país? Em primeiro lugar, fazendo-a funcionar
estritamente em padrões das melhores práticas ambientais, inclusive reduzindo
rapidamente sua dependência da energia do carbono.
Para isso vai lançar mão dos
diferenciais competitivos que dispõe: de cara, a inigualável capacidade de
inovação da sua Ciência e Tecnologia; segundo, o espaço para a criatividade que
a democracia fornece ao empreendedor, tornando-o imbatível quando em disputa
com empresários de regimes autoritários, como o chinês. Isso é a parte soft que
o governo pretende mobilizar, que por lá estão chamando de “New Deal do Vale do
Silício”.
O recado americano a respeito de
sua nova política ambiental e de sua crença na ciência será dado ao mundo num fórum
especialmente convocado em abril próximo. O Brasil será um dos países
convidados por óbvias razões. Que leve palavras, e vá sem pólvora!
As participações de alguns
líderes mundiais no Fórum Econômico online, deixam transparecer preocupação: Xi
Jinping que tem sua produção industrial baseada na energia gerada
principalmente pela queima de carvão, se verá em dificuldades na implantação da
economia do século XXI proposta pelos Estados Unidos. Seu discurso pregou o
multilateralismo e respeito a regras e tratados. Formal, manso e propenso a
comer pelas beiradas.
A Chanceler alemã Angela Merkel pretende
manter a Europa equidistante dos polos de poder, constituindo-se numa terceira
força moderadora. A Alemanha há algum tempo vem limpando sua matriz energética substituindo
as termonucleares por usinas solares.
Putin, fez apresentação
pessimista, numa perspectiva catastrófica para o mundo, talvez retratando seu
momento ao ver a impossibilidade de impor o seu jogo: sua base tecnológica – e
consequentemente seu setor produtivo - não têm mais o vigor da época da URSS e
isso retarda sua pretensão de retomar uma liderança deixada para trás naquela
época. Luta contra as Big Techs que tenderão a se fortalecer e multiplicar no
novo modelo.
Macron foi o de sempre. Discurso
único sobre sustentabilidade, para justificar os subsídios que mantém à
agricultura francesa, sendo esta incapaz de concorrer com a do Mercosul,
especialmente com a brasileira.
As repercussões do Fórum no
Brasil foram pequenas. Nossas autoridades diplomáticas parecem desarticuladas
com as mudanças da política externa americana. O governo está de corpo e alma envolvido
com as eleições das mesas do congresso e da eleição de 2022. É o Brasil no seu
mundo paralelo.
No Fórum online, estivemos representados pelo
Vice-Presidente Hamilton Mourão que participou de um painel sobre a Amazônia,
mostrando os cuidados ambientais que temos com a preservação da região. Como
bom soldado, esgrimiu contra números, mapas e verdades!
Crônicas da Madrugada. Danilo Sili
Borges. Brasília – Jan. 2021
danilosiliborges@gmail.com
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