JUSCELINO. UMA ESPERANÇA
Por Danilo Sili Borges
JUSCELINO, UMA
ESPERANÇA
Desde muito cedo, acompanhei
política pelo jornal que meu pai comprava diariamente e pelas transmissões
radiofônicas das sessões na Câmara dos Deputados. Assim, ainda na adolescência,
vivi radiofonicamente toda a crise que desembocou no suicídio do Getúlio, fato
que se deu quando eu tinha 13 anos. Depois acompanhei encantado, todas as noites,
as gravações das esgrimas verbais entre
Carlos Lacerda, pela oposição, e o baiano Viera de Melo, líder do Governo
Juscelino. Era tudo muito bonito, gente inteligente é outra coisa.
Outubro, 3, 1960. Eleições gerais
no Brasil. A vassoura varria o país de ponta a ponta, aos meus 19 anos, pela
primeira vez eu ia exercer o direito de escolher o presidente da República do
meu país. Peguei no cabo de uma e coloquei outra, dourada, simbólica – um boton
– na lapela e sai na tropa pelo que acreditava ser a restauração da
moralidade na governança pública. Elegemos Jânio.
Aprendi! Nunca mais segui
lideranças humanas ou pendurei no meu peito símbolos que exaltassem líderes
carismáticos, semideuses, salvadores da pátria, moralizadores de costumes ou gritei
seus nomes pelas praças. Desde os 20, sigo ideias, doutrinas, princípios,
exemplos. Permaneço um cidadão consciente, acompanho a política do país e a
internacional por dever cívico, mas falando a verdade, porque o debate
inteligente, até mesmo a estratégia político-eleitoral e a exposição das
propostas de soluções para os problemas da sociedade continuam me tocando profundamente
a emoção e o intelecto.
Na política vale o debate. Combate
é na guerra, quem troca uma coisa pela outra é covarde nas duas pontas.
No dia 1° de fevereiro tive um
alento durante a posse do presidente do Senado, que em seu discurso, citou por
duas vezes Juscelino Kubitschek, e o têm feito outras em seus pronunciamentos, relembrando
as qualidades de moderação e de equilíbrio que o construtor de Brasília trouxe
para a conturbada política da sua época. Pouco sei do senador Rodrigo Pacheco e
esta crônica não é para lhe tecer loas, parece-me, no entanto, que há
sinceridade em suas palavras, a memória de Juscelino já não traz votos. Os
brasileiros não cultivam, infelizmente, os exemplos dos seus maiores e
continuam pecando e voltando ao inferno tantas vezes seguidas.
Apesar de parecer, não há
paradoxo em eu ter, por Juscelino, grande admiração e saudar seus procedimentos,
em presença do que registrei nos parágrafos acima. Não estando entre nós,
Juscelino não poderá mudar suas bandeiras, trair seus eleitores, trocar de
amigos e de adversários. Se ele não o fez em vida, até onde sei, merece na
eternidade o respeito de seus pósteros pela obra e pelo caráter. Durante sua
vida, não me inscrevi entre seus fãs de carteirinha. Reservei-me sempre a
liberdade que havia conquistado de não ser caudatário de ninguém – homem ou
mulher –, de ser cidadão com plenitude de pensar para analisar e criticar como
direito e dever.
A exacerbação político-ideológica,
usada por lideranças que se propõem carismáticas, procura fazer a clivagem da
sociedade entre “nós e eles”, tal como as empresas definem seus públicos-alvo,
para dirigirem aos “nossos” suas propagandas. Como exemplo atual, pode-se observar o risco que corre a, antes
sólida, democracia americana pela intensa pregação de ódio e violência entre
grupos étnicos com fins de manipulação política, pondo em risco a própria hegemonia
mundial do país.
Somente pelo apaziguamento da
política, pela troca do combate pelo debate político, pelo pensar antes no
Brasil e no seu povo sofrido e carente é que sairemos do buraco econômico,
social e moral em que estamos enfiados até o pescoço.
Invocado, Juscelino, pelas
qualidades de homem público que foi, que seja inspiração aos desvairados
condutores da sofrida pátria para que parem de se agredir com paus e pedras – e
que logo o farão com as muitas armas que estão providenciando – e permitam que voltemos
a acreditar em nós mesmos, que deixemos, outra vez, de ter o complexo de
vira-latas, que cresçamos a altas taxas, que voltemos a entrar no trilho do nosso
futuro, com cada um, e todos, podendo dar com a força do nosso trabalho, que
hoje nos é negado, a contribuição para um novo Brasil, como foi o Brasil de
Brasília, o de Três Marias, o da Belém-Brasília.
Em tempo:
Jânio, aos 7 meses de mandato, renunciou no dia 25 de agosto, depois de
participar, pela manhã, das solenidades do Dia do Soldado. Ele não aceitou negociar
sua permanência na presidência com nenhum grupo fisiológico do Congresso. Isso
é História.
Crônicas da Madrugada. Danilo Sili
Borges. Brasília – Fev.2021
danilosiliborges@gmail.com
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