FALANDO DE NEGÓCIOS

 Por Danilo Sili Borges

Se eu fosse empresário e tivesse que contratar um gerente, além do currículo impresso, buscaria informações da sua vida pregressa. Os pontos positivos são conhecidos: liderança, capacidade de se expressar, empatia, persistência, lealdade, conhecimento técnico e tudo que gostaríamos de ser, nós mesmos. A lista do indesejável seria muito grande e a cada dia a experiência mostra que ela pode crescer infinitamente.

Imagine, caro leitor, que você é membro do Conselho Diretor de uma grande empresa multinacional que deverá em breve fazer a escolha do seu CEO (Chief Executive Officer). Não estranhe, no mundo empresarial de alto coturno a língua oficial é o inglês, mesmo quando são dois brasileiros conversando, isso dá status.

O cargo é de grande importância, excelente remuneração, todas as despesas pessoais e familiares cobertas com inimagináveis mordomias, e o melhor, o cartão corporativo sem limites de gastos, para ele e para ela.  E para quem quer enriquecer, as possibilidades de negócios paralelos podem multiplicar seus ganhos por fatores altíssimos.

Só por um exercício de imaginação maliciosa, imaginemos que sua empresa tenha um braço no setor petrolífero. Se o CEO fizer uma declaração que abruptamente derrube ou eleve no mercado acionário as ações da nossa petrolífera, todo o mercado oscila inesperadamente. Se parceiros do nosso CEO soubessem antecipadamente das declarações que seriam feitas, ganhariam fortunas. Depois é só uma rachadinha do apurado. Em suma, a palavra de um grande executivo literalmente vale ouro, dólar, petróleo, aqui, na Suíça e em muitos paraísos fiscais. A esse executivo eu chamaria de ladrão episódico.

Há possibilidades de um CEO desonesto montar esquemas muito rentáveis e permanentes, sangrando em seu proveito e de seus comparsas os cofres da empresa que dirige.

Vou desenvolver, só para ilustrar, outra hipótese maldosa, ficando ainda no setor de petróleo, por ser esse altamente rentável (eu poderia falar da construção que também dá margem a falcatruas) e lidar com vultosos valores monetários. Como faz o CEO ladrão contumaz? Coloca nas diretorias da subsidiária petrolífera da holding que preside diretores comparsas que montarão concorrências fraudulentas. A grana aparece no ganho absurdo das empresas coniventes que devolvem o roubado da empresa mãe, a holding, portanto dos seus sócios, ao CEO ladrão, aos seus apoiadores, aos diretores bandidos, a partidos. Tudo isso é hipotético. Há quem diga que isso até já aconteceu de verdade, que o desvio foi de 30 bilhões, dos quais 12 bilhões foram recuperados pelas ações de um juiz acusado de parcial. Histórias, com certeza.... inverossímeis!

Para fazer sua avaliação, observe também a genética dos CEOs. Alguns costumam transmitir aos filhos habilidades financeiras e comerciais incríveis. Seus meninos acompanham o talento político do pai e se tornam homens públicos de proa, sem perderem a capacidade de enriquecerem rapidamente, outros conseguem imiscuir-se nos negócios de grandes empresas, mas evitam, talvez por não serem políticos, a exposição, mas todos são como o Ronaldinho, não no futebol, mas na capacidade de se tornarem ricos. Tudo são hipóteses, mas na escolha do CEO, para a sua, a nossa empresa, dê uma olhada na atividade dos filhos. Nesse esporte é comum tabelinha pai e filho.

Empresas são organismos vivos, pode acreditar. Se desempenham em ambientes que se renovam a cada hora onde a ciência e a tecnologia são fundamentais para o êxito dos negócios, do bem-estar das pessoas, tanto dos sócios quanto dos trabalhadores. Na nossa empresa, aliás, todos votam no dia da Assembleia Geral Ordinária, todos deveriam trabalhar, mas infelizmente na nossa empresa há muito tempo não tem emprego para todos.

O CEO deve ser homem atualizado com o mundo que crê na ciência e promove, com fé, na empresa os avanços tecnológicos, caso contrário a organização estará destinada a produzir e comercializar apenas produtos primários e até os medicamentos aconselhados para os doentes serão prescritos por leigos ou pela vizinha da casa ao lado.

Sei que há muitos pretendentes à vaga que logo se abrirá. Alguns almejam até tomá-la à força, sem nos consultar, logo a nós, os sócios-trabalhadores da empresa. Da minha parte vou continuar refletindo nas madrugadas, sem paixões por CEOs, políticos, líderes, feiticeiros ou equivalentes.

A nobreza do amor intenso dedique-o com a força da paixão e do tesão à companheira ou ao companheiro de cama e mesa.

Para CEOs, presidentes, políticos, líderes carismáticos, joãos-de-deus, não vá com tudo, eles sempre traem, o chifre é certo. E você passará a vida escondendo o sofá da traição.

Crônicas da Madrugada. Danilo Sili Borges. Brasília – Mar. 2021

danilosiliborges@gmail.com

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