FARWEST SEM MOCINHO
Qualquer história para ter
interesse tem que apresentar na sua trama o bem e o mal, os que estão com a
verdade e os que pretendem escondê-la, os bons e os maus. Desde o surgimento de
Hollywood, há mais ou menos 100 anos, o sucesso garantido sempre esteve na
disputa entre bandidos e mocinhos, o que se iniciava com o leão rugindo na tela
e findava hora e meia depois com a inevitável vitória dos mocinhos. Só fugiam
desse script e alcançavam sucesso as comédias que, apelando ao inusitado,
nos levavam às gargalhadas pelo ridículo das situações e dos protagonistas, como
Carlitos, o Gordo e o Magro, os Três Patetas, interpretados por grandes
artistas, cujo maior foi Charles Chaplin.
Tenho notado que o grande público
anda desinteressado do espetáculo político, talvez assustado pela pandemia, pouco
participativo até mesmo nas manifestações que ocorrem a favor e contra as
precoces candidaturas já postas para 2022. O grande espetáculo que está montado
no Teatro da Praça, transmitido ao vivo para todo o país não bate recordes de
audiência, nem provoca discussões após as cansativas apresentações diárias.
Gosto de cinema e de artes
cênicas e procurei estabelecer um paralelo entre o que ocorre na insossa
política brasileira atual – sem interesse público – e o magnetismo alcançado pelo
cinema de todo o mundo, pelas nossas novelas da televisão, pela literatura de
sempre. O que me restou foi uma dúvida, ou temos uma história sem mocinhos ou
uma comédia com maus atores. Talvez tenhamos criado a nossa jabuticaba teatral
com o sugestivo título: “A CPI, uma cômica história dramática de um povo
sofrido”.
Tudo tem suas causas. Os
paladinos do garantismo estão levando o país à ruína. Não tenho conhecimentos
formais de Direito, dos seus códigos, princípios, institutos e filosofias, mas
não sou burro. Estou vendo ladrões, assassinos, assaltantes do dinheiro
público, pilantras de todas as espécies pululando e proliferando no nosso meio
social sem punição pela leniência das nossas leis e, principalmente, pela
tibieza de suas aplicações na proteção aos cidadãos e à sociedade. E isso vem
se agravando rapidamente sob o manto “dos direitos humanos”.
Que os garantistas troquem o seu
foco: dos canalhas para os cidadãos de bem!
Nestes últimos dias, o que mais
se tem ouvido é o STF estar concedendo a convocados para deporem na CPI da
pandemia o direito de não responderem a perguntas que possam incriminá-los.
Isso corresponde a dizer que eles poderão responder apenas o que quiserem, e se
quiserem, pois, “a lei garante que ninguém precise dar testemunho contra si”.
Só o fato de buscar meios de se isentar de depor já significa o conhecimento de
informações importantes para o esclarecimento do que se apura e isso é mesmo o
que interessa.
Ora, se há indícios de que alguém
pisou fora das linhas que demarcam o que a sociedade convencionou como justo e
correto, e esse alguém é apanhado para explicar, que abra a boca e dê sua
versão. Que, sob juramento perante à Justiça, conte a verdade. Se mentir, e
isso for posteriormente demonstrado, que, ao ser apenado, esse fato seja levado
em conta, agravando a pena.
Dane-se a Quinta Emenda da
Constituição dos Estados Unidos (1791), que criou naquele país esse direito e
que parece lá funcionar bem, pelo menos nos filmes, quando os elegantes e
cavalheirescos policiais ao prenderem os bandidos imediatamente lhe avisam
“Tudo que você disser poderá ser usado contra você“, que deriva, pelo que
percebo, desse direito de ficar calado. Hollywood romantiza e nós copiamos.
Os desmandos daqui são outros. A
nossa Constituição, as nossas leis, a nossa Corte Suprema não falam inglês, não
temos Harvard, Columbia ou Salamanca para formar doutores “fora de série”. A
nossa realidade é outra. A sociedade germânica do supremo que fala alemão e não
tem obstrução intestinal – solta tudo – é longe daqui. O nosso país está se
dissolvendo na sua leniência, na imoralidade e na corrupção generalizada, onde
canalhas investigam canalhas. Isso não vai chegar a um lugar que preste.
Querem outro exemplo dos
artifícios da leniência na aplicação das leis? O Decurso de Prazo, não é assim
que os juristas o chamam? Pois ele tem largo uso entre nós. O tempo passa com
processos por julgar e bandidos que assaltaram os cofres públicos não respondem
por nada e estão com a mala, a famosa mala do dinheiro, intacta. Prática
antiga. Quem não sabe disso?
O decurso de prazo associado ao cumprimento
da pena só após esgotados todos os recursos, e não mais após a condenação em 2ª
Instância, livra os que têm advogados hábeis de responderem às penas por seus
crimes. Um maná!
Estamos cansados de “saidinhas de
Dia das Mães para quem matou os pais”, de “redução de pena por leitura de
livros” ou “por bom comportamento de quem estuprou e matou” é hora de acabar
com as “progressões de pena”, que se cumpra o julgado, e fim de papo.
Quanto custa ao brasileiro
pagador de impostos uma sessão da CPI da pandemia para um meliante de colarinho
branco ficar calado, porque a lei garante a ele esse “direito”? E o nosso
direito de não sermos roubados, mortos, enganados, de pagarmos vacinas mais
caras ou de vermos na política ladrões contumazes, que estão na rua em razão das
leis se adequarem a eles?
Antes da garantia ao bem-estar
dos bandidos, mesmo dos bandidos “do peito”, queremos as garantias que o Estado
deve aos cidadãos do bem.
Neste filme nacional, os bandidos
estão sempre ganhando. Viva Hollywood!
Crônicas da
Madrugada. Danilo Sili Borges. Brasília – Jul. 2021
O
autor é membro da Academia Rotária de Letras do DF – ABROL BRASÍLIA
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