NEYMAR JR, NOSSO ESPELHO
Ao terminar o jogo, liguei para
um dileto amigo, que não declinarei o nome, meu parceiro de sofrimentos com a
fidelidade que temos pelo Vascão, e recebi dele, como resposta, o balde de água
fria: “Também, o Uruguai está um bagaço”, com o que não concordei e retruquei
que quando os dois contendores estão ruins o jogo é medíocre e que não foi o
que aconteceu.
O Brasil jogou um “bolão”, Neymar
foi o diapasão que afinou os instrumentos daquela banda, foi o maestro de alto
astral, comandante à frente das ações, puxando os seus à vitória. Que contraste
com o Neymar Jr do jogo anterior contra a Colômbia!
Claro que ninguém pode esperar desempenhos
excepcionais a cada jogo, até porque, pela regularidade, deixariam de ser
excepcionais. Mas fica óbvio para o observador atento que algo errado está
ocorrendo com o atleta quando o seu desempenho despenca. Pode ser um problema
físico ou de qualquer outra natureza. As declarações do nosso craque após
aquele malfadado jogo, logo esclareceram a origem do problema, que, aliás, já é
conhecido dos brasileiros: as condições emocionais do nosso principal atleta
são insuficientes para suportar o grande futebol que possui e todas as consequências
que daí decorrem.
A última década do futebol
mundial, no meu entendimento de antigo, mas ocasional apreciador desse esporte,
sem pretender ser seu analista, teve e tem, ainda, três nomes em destaque por
suas qualidades técnicas. Messi, Cristiano Ronaldo e Neymar, sendo este o mais
jovem deles.
Observando-lhes as carreiras,
penso que não erro ao afirmar que o argentino e o português madeirense têm
conduzido seus projetos de vida esportiva com maior, digamos, profissionalismo,
amadurecimento, evitando exposições mediáticas negativas para suas imagens
públicas, que o nosso, outrora, garoto de ouro. Próximo de completar 30 anos, o
grande craque brasileiro tem que se encontrar a si mesmo. Inteligência
emocional, o famoso QE, é só o que ainda lhe falta para que ele conquiste todo
o reconhecimento pelo talento que tem.
Como figura pública de destaque, Neymar
pode e deve ser tomado como espelho para nele, jovens e idosos, nos refletirmos
e buscarmos avaliar nossos próprios procedimentos frente aos fatos do dia a
dia. Ídolos também servem para isso. O craque tem a oportunidade de a imprensa
mundial, sem nenhuma comiseração, falar de seus defeitos, problemas e idiossincrasias.
Nós cidadãos comuns, ou os descobrimos por nós mesmos, ou corremos risco de cartões
amarelos na intimidade do leito conjugal, ou até inconvenientes expulsões daquele
prazeroso campo, com algumas partidas sem jogar, nos sendo até vetado treino e
bate-bola.
Neymar irrita-se com críticas.
Chega a explodir com a imprensa e agredir torcedores. Você já pensou como reage
quando é criticado? Quando tem um trabalho seu merecendo ressalvas? Explode?
Fica amuado? Zanga-se e pede seu boné?
Você aceita o contraditório de
coração aberto? Ou é democrata enquanto encontra ressonância dos outros no que
você pensa? Se não for assim você se irrita e fica amuado?
Por que Neymar deixou o
Barcelona? Apenas por mais dinheiro? Ou por que o brilho de Messi o incomodava,
o ofuscava e ele precisava se afastar para brilhar em outro céu?
Os grandes jogadores,
principalmente os armadores de jogadas, são cassados em campo, Neymar é um
deles. Sabendo disso ele procura tirar vantagem simulando faltas. Você também
simula situações explorando eventual fragilidade que apresente?
Todos os ambientes humanos são
competitivos e conflituosos. No futebol, por exemplo, os jogadores correm
sempre o risco de perderem a titularidade para o reserva. Você tem capacidade
de conviver em ambientes conflituosos e render bem neles?
Tolerância é uma via de duas mãos.
Você é equânime quanto à largura e à velocidade das pistas nos dos dois
sentidos?
O “garoto Neymar” deixou de ser
garoto, pesa em seus ombros o desejo dos brasileiros de alcançar o hexa, mas se
a taça não vier não será nenhuma catástrofe. O que esperamos é que nessa luta
ele se encontre.
O crescimento e a estabilidade
emocional deve ser desafio para todos nós, interminável procura ao longo de
toda a existência. Ninguém está pronto, nunca. Essa é a grande conquista da
vida, o conquistar a si mesmo! Para Neymar Jr e para cada um de nós.
Crônicas da Madrugada. Danilo
Sili Borges. Brasília – Out.2021
O autor é membro da
Academia Rotária de Letras do Distrito Federal. ABROL BRASÍLIA
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