PARAÍSOS FISCAIS E FUTEBOL
Na economia, volta da inflação fora
do controle, gasolina acima de R$7,00, desemprego, eleições comandando planos e
ações. Uma lástima. Mas, nada que o couro calejado do sertanejo, do gaúcho, do
ribeirinho, do candango, dos habitantes das periferias já não tenha conhecido e
superado algumas vezes. Nem a sacanagem é inusitada.
O técnico da nossa Seleção
Brasileira de Economia é o Ministro Paulo Guedes desde o início do atual
governo. Seu principal auxiliar na espinhosa tarefa de conduzir a Seleção à
prometida vitória durante a campanha eleitoral é o economista Roberto Campos
Neto, presidente do Banco Central. A ele
cabe, entre outros encargos, zelar, segundo aprendi nas aulas de economia no
curso de Engenharia nos anos 60 com o Professor Plínio Cantanhede, manter
saudável a nossa moeda, dizendo de modo direto, impedir sua desvalorização, lutar
contra a inflação. Antes do jogo começar, em 2018, disseram os comentaristas daquela
modalidade: “Ninguém melhor que esta dupla liberal. A taça será nossa!”
Também esta semana, notícias
deram conta que técnico e auxiliar do time da economia nacional mantêm parte de
suas riquezas pessoais em paraísos fiscais, que são países que abrigam
“dinheiros” de procedências diversas, nem sempre legais, e cujos impostos são
sempre baixos. Brasileiros podem manter “dinheiros” nesses paraísos desde que
declarados devidamente ao fisco brasileiro, como é o caso do técnico da nossa Seleção
Nacional de Economia – que, aliás, não anda apresentando bons resultados – e de
seu auxiliar técnico.
Quem põe seus tesouros nesses países
o fazem, ou para escondê-los por sua procedência ilícita, ou por não confiar na
economia do seu próprio país, e neste caso, melhor é apostar noutro time, essa
é a lógica que simplórios, como este cronista, percebem sem esforço.
Os ingleses apostam em tudo. Até
mesmo no nome dos herdeiros reais quando ainda na barriga das princesas. Penso
que logo, se ainda não começou, estarão abertas as apostas para a próxima Copa
do Mundo de Futebol no Catar em 2022. Quem quiser vai poder apostar, por
exemplo, no palpite para o próximo país campeão, ou para os semifinalistas. As
casas de apostas criam miríades de hipóteses e combinações.
Tite é o treinador da nossa
seleção que tem mostrado um bom trabalho. Penso que este seja caso único em que
tendo disputado o título mundial e não o tendo alcançado o treinador foi
mantido na função, atestando a confiança nele depositada pelos dirigentes do
nosso futebol e principalmente pela imprensa e pelos torcedores, que, aliás,
merecem, ambos, mais crédito que a entidade oficial geradora de sucessivos
escândalos.
Imaginemos agora, em um exercício
de absurdo, que aberto o site das apostas para a Copa, os repórteres dos
bisbilhoteiros tabloides vespertinos de Londres tivessem descoberto que Tite houvesse
feito sua “fezinha” em que a final da copa não contasse com o Brasil, digamos
que ele apostasse numa final entre Alemanha e França e noutra aposta entre
Argentina e Espanha e nenhuma foi detectada constando o Brasil como finalista
ou vencedor do importante certame. Para o nosso técnico, supostamente, o Brasil,
no seu conjunto de apostas, chegaria à semifinal, mas perderia para quem quer
que fosse o adversário. Previsão de nova catástrofe para as exigências da
torcida brasileira para o desempenho do penta campeão, que há 20 anos não nos traz
resultados ao gosto da patuleia.
Os hackers que haviam
entrado no computador do Tite não deixaram dúvidas. A notícia, logo escândalo,
não havia como ser negada. Correu o mundo do esporte e acabou chegando nesta
parte moralmente entorpecida do planeta.
Tite, ficou indignado. Deixou
transparecer seu estado de espírito para a imprensa especializada em economia,
desculpe, especializada em futebol, defendeu-se: “Apostei usando dinheiro meu,
ganho honestamente com meu trabalho e declarado à Receita Federal. A aposta na
Inglaterra também paga, cada uma, 20 cents, de taxa ao tesouro de Sua
Majestade Elizabeth II. Do que estão reclamando? Está tudo legal!”
Desculpe, Tite, sou seu admirador,
quase um incondicional amigo desconhecido, reconheço seu esforço, mas apostar
contra o time que você treina, pelo qual você é responsável, para o qual você
define estratégias e táticas assim não dá, né? Literalmente você “pisou na bola”,
Tite. Eu sei que muita gente faz isso e fica tudo por isso mesmo, mas futebol,
no Brasil, meu amigo... No Brasil, futebol é coisa séria. Desculpe, Tite, conta
outra!
Perdoe a brincadeira Tite, sei
que você poderá não trazer o hexa, isso é do jogo, mas apostar contra nós não é
do seu caráter!
Crônicas da Madrugada. Danilo
Sili Borges. Brasília – Out. 2021
O autor é membro da Academia
Rotária de Letras do Distrito Federal. ABROL BRASILIA
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